Professora cega se diz "surpreendida" com Prefeitura de CG
PRECONCEITO
Telma Nantes de Matos, 43, é a atual presidente do instituto de cegos de Mato Grosso do Sul e a vice-presidente da Organização Nacional dos Cegos do Brasil. Portadora de retinose pigmentar, uma doença degenerativa que a deixou cega entre os 17 e os 27 anos de idade, ela diz ter sido “surpreendida” com a negativa da Prefeitura de Campo Grande à sua nomeação.
Em 19 de fevereiro, Matos chegou a ser oficialmente convocada e nomeada pela prefeitura, mas o ato acabou revogado após um parecer técnico de uma equipe multidisciplinar convocada pela Secretaria de Educação, que a desclassificou por “inaptidão” ao cargo.
Nesta segunda, o prefeito Nelson Trad Filho (PMDB) definiu como “difícil” a possibilidade de designar uma turma de “20 crianças no berçário a uma pessoa cega”. “Você colocaria sua filha de zero a quatro anos para uma pessoa com deficiência visual cuidar?”, perguntou o peemedebista a jornalistas.
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Mato Grosso do Sul propôs uma ação na Justiça Federal pedindo que a prefeitura dê posse imediata à pedagoga cega.
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FOLHA – Imaginou que teria problemas ao se inscrever no concurso?
MATOS – Ao contrário, eu sempre pensei que iria ter portas abertas. Sou formada, graduada e pós-graduada, atuo na educação há tempos, desenvolvo trabalhos de gestão e tenho vários projetos executados em Mato Grosso do Sul.
FOLHA – A prefeitura diz que você é inapta para o cargo.
MATOS – Eu acho que a prefeitura mexeu com a pessoa errada. Sou militante, atuante e uma grande incentivadora de que as pessoas com deficiência conquistem formação acadêmica e espaço no mercado de trabalho. Dirijo um instituto com mais de 200 deficientes em processo de educação e sou aquela que sempre diz: ‘vamos estudar, vamos nos capacitar, vamos ter autonomia e independência’. Então, para mim, foi um processo muito triste.
FOLHA – Como avalia as afirmações do prefeito Nelson Trad Filho?
MATOS – Amigos me ligaram e disseram: ‘Telma, olha o que falaram de você’. Quando fui olhar a notícia no meu computador, era algo para chorar. Acho que as pessoas precisam entender que os deficientes são pais, mães e avós. Cuidam de crianças. Se o prefeito acha que hoje não há condição para eu assumir uma sala de aula, que trate então de adequar um espaço em que eu consiga.
FOLHA – Havia alguma restrição prevista no edital do concurso?
MATOS – Não constava restrição, pelo contrário, apenas a reserva de vagas para deficientes. Eu fiz a inscrição, fiz a prova no computador com meu leitor de tela, acertei 75% das questões e depois soube que, considerando a cota de vagas para deficientes, eu havia sido aprovada em primeiro lugar. Quando veio a recusa, eu tinha que gritar e chorar mesmo, senão iria ficar com muita vergonha. Tinha que dar o exemplo para outros aprovados no concurso: se excluírem você, grite, não vá se calar. O direito a gente conquista e mantém no grito.
FOLHA – Seria capaz de assumir uma sala de aula com crianças?
MATOS – Conseguiria. Há diversas atividades que eu posso desenvolver, como contar histórias e interpretação. E você já pensou como seria maravilhoso uma criança ter a oportunidade de conviver com uma professora cega? Ver aquela pessoa pentear o cabelo dela? Já imaginou como será essa pessoa que desde pequena aprendeu a conviver com a diferença?’
FOLHA – A prefeitura não mencionou qual será a sua função?
MATOS – Eu não sei o que vão fazer comigo. Estou à disposição do município, tenho o meu currículo e eles podem me encaixar onde acharem melhor.
Fonte: Agência Folha (Rodrigo Vargas)
Referência: http://www.msnoticias.com.br/
Obs.Coloquei algumas frases em negrito para destacar.
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