Partidos descartam Libras no horário político e criam barreira a deficientes
Se os candidatos não estão preocupados com a questão da acessibilidade nesse momento tão importante para eles que é a propaganda eleitoral, como será então depois de eleitos? (Nota do Blog)
Segundo Associação, linguagem escrita é mais complexa para surdos. Partidos alegam dificuldade em achar profissionais e limitações técnicas.
Seis dos sete candidatos à Prefeitura de Campinas não utilizaram intérprete em Libras no primeiro dia de propaganda eleitoral gratuita das chapas majoritárias, nesta quarta-feira (22/08). Apesar de a legislação permitir a substituição do tradutor por legenda, a fonoaudióloga da Associação de Pais e Amigos de Surdos de Campinas (Apascamp) explica que o texto dificulta a compreensão dos deficientes porque nem todos são alfabetizados e, mesmo os que são, têm uma compreensão diferente da linguagem escrita.
A justificativa da maioria dos candidatos é a dificuldade técnica e financeira de gravar a intérprete e, em seguida, sobrepor à imagem do candidato. Além disso, alguns candidatos mencionaram a dificuldade de encontrar profissionais para este tipo de trabalho. O único candidato que utilizou a ferramenta foi Dr. Campos, do PRTB, que admitiu ter enfrentado dificuldade para conseguir uma profissional.
Diferença na linguagem
A fonoaudióloga da Abascamp Kelly Cardoso Augusto explica que aqueles que apresentam um nível profundo de deficiência têm dificuldade em se alfabetizar. “O melhor para os surdos é que fosse em Libras, mas se os partidos estão respaldados pela lei, não podemos contradizer a lei”, disse.
A profissional explica que, mesmo os deficientes auditivos alfabetizados sentem dificuldade em compreender a mensagem do programa apenas por meio da legenda, pois ela se baseia na língua portuguesa que difere da estrutura gramatical de Libras. “Eles sentem dificuldade porque na língua de libras não existe, por exemplo, artigo, preposição, conjunção e os verbos são no infinitivo diferente da língua portuguesa”, disse.
Candidatos
O candidato Arlei Medeiros (PSOL) informou por meio de assessoria que diante da “estrutura pequena”, o partido “busca alternativas para gerenciar esta importante demanda” e cogita utilizar o trabalho de uma intérprete voluntária nos próximos programas.
Jonas Donizette (PSB) informou por meio da assessoria que, como a legislação permite, a equipe de campanha optou “pela legenda porque elas permitem uma compreensão mais universal”, segundo o partido.
O PT, do candidato Márcio pochmann, informou que optou pela legenda “pela característica da campanha, com pouco prazo para colocar os programas no ar”. Diante disso, segundo a assessoria, optou-se pela forma mais prática, mas não está descartada a utilização de intérprete em próximos programas.
A assessoria do candidato Pedro Serafim (PDT) disse que “a opção por legendas é a mais usual, é eficiente e foi essa a opção da direção dos programas de TV”. A equipe de campanha informou,ainda, que “se houver solicitação por parte dos telespectadores”, vai “procurar atender prontamente”.
O candidato do PV, Rogério Menezes, informou por telefone que gostaria que a campanha fosse em Libras, mas deixou nas mãos da produtora a viabilidade da produção dentro da verba e do tempo que o partido tinha.
A equipe da candidata Silvia Ferraro (PSTU) não respondeu à solicitação da reportagem até a publicação desta matéria. Na última semana, a candidata havia informado que a estrutura permitira apenas o uso de legendas.
Fonte: G1