Morre Ivo Manoel de Jesus – Cego que leu mais de 2.000 livros
Não há um livro em braile da Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina que não tenha passado pelas mãos de Ivo Manoel de Jesus. O gosto do florianopolitano pela leitura era tanto que foi preciso buscar emprestado novas obras em São Paulo.
Dizia ter lido exatos 2.050 títulos. Cego de nascença, buscava-os sozinhos, acompanhado apenas de sua bengala.
Em entrevista neste ano ao jornalista Róbinson Gambôa, que trabalha na capital catarinense, contou ser fã de Monteiro Lobato -seu preferido-, Machado de Assis, Gonçalves Dias e Jorge Amado. Mas, na falta de obras literárias, lia até as didáticas, como livros de física e química.
Não era incomum passar pelo centro de Florianópolis e encontrá-lo sentado, lendo, no ponto de ônibus em frente ao asilo Irmão Joaquim, onde foi deixado pela mãe quando tinha apenas três anos. Lá, passou toda a vida. Era o morador mais antigo do local.
Alfabetizado em braile, começou a estudar música aos sete anos. Aprendeu gaita e teclado. Este último ele tocava todos os dias durante a missa celebrada na capelinha do Irmão Joaquim.
Ainda novo, foi levado para o Rio e Belo Horizonte, incentivado pelas freiras que ainda administravam o asilo, mas acabou voltando para sua terra natal pouco depois.
De acordo com funcionários, por alguns anos Ivo recebeu a visita de um homem, mas ninguém soube informar se se tratava de um parente. Oficialmente, o morador nunca foi procurado por ninguém da família.
Diabético, morreu na segunda-feira (26), aos 65 anos.
Fonte: Folha de S. Paulo