A rotina de uma mãe cadeirante
Usando cadeira de rodas há quase 20 anos, Tatiana Rolim conta os obstáculos superados dia após dia para aproveitar a maternidade com plenitude ao lado da filha Maria Eduarda
Alessandra Oggioni – especial para o iG São Paulo
Ela dá bronca, faz carinho, brinca, põe a criança para dormir, como qualquer outra mãe. A única diferença é que a psicóloga e consultora de RH Tatiana Rolim, 36, faz tudo isso sobre rodas. Cadeirante desde os 17 anos de idade, descobriu os prazeres e os desafios da maternidade há três anos, com a chegada de Maria Eduarda. A filha deu ainda mais forças para superar as dificuldades diárias e lutar pelos direitos dos deficientes.
O sonho de ser mãe era cultivado desde a adolescência por Tatiana, uma jovem com saúde, cheia de disposição, que jogava vôlei e atuava como modelo. Mas um passeio ciclístico com os amigos em Franco da Rocha (SP), cidade onde morava, mudou o rumo dessa história. Atropelada por um caminhão, teve uma lesão medular irreversível e ficou paraplégica. “Foi uma fase muito difícil. Fiquei três meses em coma, com várias fraturas. Quando sai do hospital, nem consegui entender direito o que estava acontecendo comigo”, conta.
Depois de meses de recuperação física e psicológica, ela conseguiu se adaptar a sua nova rotina. Agora, o desafio não era mais vencer uma partida de vôlei, mas, sim, pegar um ônibus sozinha para ir à escola. Aos poucos, com a ajuda da família e de amigos, Tatiana foi superando os obstáculos, sem desistir de seus projetos pessoais: fez faculdade, aprendeu a dirigir, casou-se e passou a militar pela causa dos deficientes – além de realizar o grande sonho de ser mãe.
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Dilemas da maternidade
Como em toda família, Tatiana também passou por dificuldades, algumas delas sem nenhuma relação com sua condição física. Pouco antes do nascimento da filha, o marido e ela se separaram. Então, Tatiana se viu sozinha, cuidando de um bebê. “Essa foi a fase mais trabalhosa, até os dois aninhos, porque a criança exige maiores cuidados, é totalmente dependente”, relata.
Entre as dificuldades com o início da maternidade, Tatiana conta, por exemplo, sobre o complicado momento do banho da filha, no qual ela tinha que “pular” várias vezes da cadeira para pegar água quente e colocar na banheira dentro do box. A psicóloga reuniu as histórias curiosas deste período no livro “Maria de Rodas – Delícias e Desafios na Maternidade de Mulheres Cadeirantes” (Editora Scortecci), escrito em coautoria com Carolina Ignarra e Flávia Cintra.
Hoje, na atual fase da filha, aos três anos, Tatiana diz que o maior apuro é mesmo com a educação, especialmente na hora de colocar limites. Em uma das travessuras de Maria Eduarda, a menina pegou a cadeira de rodas da mãe e correu. “Ela sabia que assim eu não conseguiria ir atrás dela. Então, eu tive que me impor, explicar que ela não pode pegar a cadeira. Ela nunca mais fez isso”.
Fonte: Delas / IG