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'Foi extraordinário', diz paraplégico que usou exoesqueleto em abertura da Copa

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Juliano Pinto conta os bastidores do ‘chute simbólico’ na Copa. Equipamento transforma força do pensamento em movimentos mecânicos.

Juliano Pinto, de 29 anos, que é paraplégico, deu um "chute simbólico" em uma bola de futebol na abertura da Copa do Mundo, na Arena Corinthians, utilizando o exoesqueleto, equipamento desenvolvido pela equipe do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis (Foto: Reginaldo Castro/Estadão Conteúdo)
Juliano Pinto, de 29 anos, que é paraplégico, deu um “chute simbólico” em uma bola de futebol na abertura da Copa do Mundo, na Arena Corinthians, utilizando o exoesqueleto, equipamento desenvolvido pela equipe do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis (Foto: Reginaldo Castro/Estadão Conteúdo)

Um dia depois de ser protagonista de um experimento científico em plena abertura da Copa do Mundo do Brasil, Juliano Alves Pinto, de 29 anos, ainda comemora a oportunidade de ter sido escolhido para usar o exoesqueleto desenvolvido por um consórcio de pesquisadores, liderado pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis.

Na última quinta-feira (12), na Arena Corinthians, o jovem deu um “chute simbólico” na Brazuca, a bola do Mundial, vestindo o equipamento criado pelo projeto “Andar de Novo”. Segundo os cientistas, a máquina transforma o pensamento em controles mecânicos, recuperando movimentos do corpo que foram paralisados por lesão medular.

Em entrevista ao G1, por telefone, o jovem de Gália (SP) – que ficou paraplégico após um acidente de carro – disse que recomendaria essa experiência a todos e comentou sobre o momento que viveu.

“São sete anos e meio de lesão medular, não tendo o movimento dos membros inferiores. Depois de tudo, poder recuperar o controle deles, mandar no destino dos seus pés para que eles funcionem… O exoesqueleto fez isso de novo para a gente, trazendo os movimentos que perdemos. Posso dizer que é algo extraordinário, que se todo mundo pudesse fazer, iria amar”, explica o voluntário.

Na transmissão oficial, exibida por emissoras em todo o mundo, a cena durou sete segundos. Integrantes do projeto apareceram com o voluntário paraplégico, que estava em pé e já vestia o exoesqueleto. Ele deu um passo com a perna direita e movimentou a bola, recolhida por um menino caracterizado de árbitro de futebol. O momento vinha sendo preparado há anos por Nicolelis e sua equipe.

Em entrevista ao Jornal Nacional, Miguel Nicolelis reclamou do pouco tempo reservado ao chute. “A Fifa nos informou que nós teríamos 29 segundos para realizar um experimento dificílimo. Nunca ninguém fez uma demonstração em 29 segundos de robótica. Isso não existe em lugar nenhum do mundo. Foi um esforço dramático de todas essas pessoas que estão aqui. E nós realizamos em 16”, disse “Pelo visto, a Fifa não estava preparada para filmar um experimento que vai ser histórico”, completou.

Para Juliano, a aparição rápida pode ter sido, sim, um problema de organização da Fifa. Segundo ele, o grupo de pesquisadores cumpriu o cronograma previsto. “Eles tinham dado um certo tempo, mas o roteiro deles se apertou e aí o que foi disponibilizado pra gente fazer foi aquilo. Mas foi sucesso, foi vitória, foi um marco que a gente conseguiu”, explicou.

Segundo o Comitê Organizador da Copa do Mundo, responsável pela cerimônia, o evento aconteceu dentro do tempo previsto e conforme ensaios realizados anteriormente.

Treinamento

Juliano disse que treinou durante oito meses para utilizar o exoesqueleto, equipamento que vestiu ao menos cinco vezes antes de dar o pontapé na bola da Copa. Integrante da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), ele e outros sete voluntários foram escolhidos para os testes, sabendo que apenas uma pessoa participaria da demonstração desta quinta.

A irmã de Juliano, Maria Alves Pinto, contou ao G1 que ele ficou sabendo que usaria o exoesqueleto horas antes da apresentação.

“Ele ligou de manhã para contar e disse que não podíamos dizer para ninguém, que era segredo. Agora em todo lugar que eu vou as pessoas perguntam dele e dizem ‘olha que legal’ ou perguntam como foi que ele conseguiu. Estamos muito orgulhosos”, disse ela ao G1.

O jovem teve um acidente de carro há quase oito anos e sofreu paraplegia completa de tronco inferior e membros inferiores. Atualmente, mora com o pai, que é trabalhador rural, e a mãe, Alzira Alves, aposentada de 63 anos. Ela disse ter ficado emocionada ao ver o filho pela televisão. “Chorei bastante. É muita alegria”, disse.

Dona Alzira explica que, apesar de o filho não ter os movimentos inferiores, ele é bastante independente, além de ser paratleta. “Ele anda numa cadeira de rodas, mas não depende da gente. Faz academia e ainda participa de competições de atletismo por uma associação de Marília”, comentou.

Sobre ficar nervoso no momento em que precisaria movimentar o exoesqueleto, Juliano disse que teve treinamento de autocontrole e afirmou que deve continuar os trabalhos com o grupo do “Andar de Novo” até o fim deste ano.

O Projeto

Mais de 156 pesquisadores de vários países integraram um consórcio responsável pela investigação científica, encabeçado por Nicolelis, professor da Universidade Duke, nos Estados Unidos, e do Instituto Internacional de Neurociências de Natal – Edmond e Lily Safra (IINN-ELS).

O princípio envolvido no funcionamento do exoesqueleto é a chamada “interface cérebro-máquina”, que vem sendo explorada por Nicolelis desde 1999. Esse tipo de conexão prevê que a “força do pensamento” seja capaz de controlar de maneira direta um equipamento externo ao corpo humano (veja abaixo o infográfico que explica o funcionamento do exoesqueleto).

infografico-exoesqueleto

Fonte: Eduardo Carvalho, G1

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

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