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Cadeirante enfrenta desafio de viajar sozinha e contar experiência em blog

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Estilista brasileira quer ‘superar limites’ e vai passar 20 dias no Canadá. Ela sofreu acidente em 2006 e é autora do ‘Guia do Viajante Cadeirante’.

Por Flávia Mantovani

Quatro anos atrás, devido a uma série de limitações decorrentes de um acidente de carro que a deixou paraplégica, a estilista Michele Simões, de 32 anos, não conseguia nem ficar sentada. Agora, ela se prepara para superar seus limites e sair do país sozinha com sua cadeira de rodas, para estudar inglês no Canadá e relatar sua experiência a outras pessoas com deficiência.

Michele é autora do blog Guia do Viajante Cadeirante, onde escreve sobre seus passeios acessíveis dentro e fora do Brasil, e fez um vídeo contando sobre os planos da viagem ao Canadá.

Michele em São Paulo (Foto: Michele Simões/Arquivo pessoal)
Michele em São Paulo (Foto: Michele Simões/Arquivo pessoal)

Ela criou o blog há um ano, após um intercâmbio de três meses em Boston (leia mais sobre a viagem nesta reportagem). Até então, tinha dificuldade até para se locomover poucos metros além da sua casa em São Paulo. Nos EUA, numa cidade bem mais acessível, recuperou muito de sua independência.

“A viagem me fez renascer. Fiquei muito mais forte. Me senti capaz de novo, porque voltei a fazer tudo: frequentar a rua, viver em sociedade. Minha maior descoberta é que a deficiência não estava comigo, estava com meu país, que não é acessível. Percebi que meu limite era eu quem daria”, diz.

Além das facilidades arquitetônicas, ela também notou diferença na forma como era tratada. “As pessoas não ficam com pena. Ninguém ficava me olhando, como aqui. Eles têm muito senso de dever, ajudam quem precisa, mas não te inferiorizam”, diz.

Na época, seu namorado, Thiago, a acompanhou boa parte do tempo. Agora, ela vai sozinha — “só eu, minha cadeira de rodas e Deus”, brinca. O voo está marcado para o dia 4 de outubro.

Ônibus especial

Michele vai morar em Montreal – uma cidade com bastante acessibilidade, segundo suas pesquisas em conjunto com a agência de viagens. “O metrô não é muito acessível, mas tem ônibus adaptados e até ônibus especiais para levar cadeirantes que buscam a pessoa em casa”, afirma ela, que também pretende visitar Toronto.

Para recebê-la melhor, a escola onde ela vai estudar pediu as medidas de sua cadeira de rodas para colocá-la em uma mesa confortável e do tamanho correto.

Michele com a turma da escola de inglês em Boston (Foto: Michele Simões/Arquivo pessoal)
Michele com a turma da escola de inglês em Boston (Foto: Michele Simões/Arquivo pessoal)

Ela vai se hospedar em um hotel que também está adaptado às suas necessidades. “Alguns hotéis colocam um banquinho dentro da banheira e dizem que são adaptados. No caso de uma lesão como a minha, em que não tenho equilíbrio de tronco, é impossível tomar banho assim”, exemplifica.

Em Boston, ela conheceu um hospital de reabilitação que é referência mundial e fez outros passeios adaptados para contar no blog. Agora, um dos lugares que ela quer conhecer no Canadá é um restaurante em que todos os funcionários são surdos. Ela também fará os programas turísticos tradicionais, para mostrar o que é e o que não é adaptado. “Quero ir como uma ‘olheira’, para mostrar o que dá para a gente fazer, o que não dá. Quero motivar as pessoas a viajar”, diz.

Reabilitação intensa

Antes de conseguir encarar o desafio de sair do país, Michele passou por um longo período de reabilitação – um trabalho que continua até hoje.

Na época em que sofreu o acidente, em 2006, ela tinha 24 anos, era recém-formada em design de moda em Londrina (PR) e havia se mudado para São Paulo dois meses antes.

Estava deitada no banco de trás do carro e quebrou a coluna. “Eu já trabalhava, me sustentava, me virava sozinha e, do dia para a noite, virei um bebê. Tinha que pedir para alguém me ajudar em tudo”, contou.

Michele com um amigo que conheceu na viagem a Boston (Foto: Michele Simões/Arquivo pessoal)
Michele com um amigo que conheceu na viagem a Boston (Foto: Michele Simões/Arquivo pessoal)

A irmã, outros familiares e o namorado ajudavam nas tarefas diárias. A evolução mais significativa só aconteceu quatro anos depois, após um sessões diárias de várias horas de reabilitação em casa e em clínicas de São Paulo e de Campinas.

Na viagem a Boston, ela redescobriu sua veia aventureira. A brasileira diz que está “com frio na barriga” de ir sozinha para um lugar desconhecido, mas que a vontade de se superar é maior. “Tento buscar a independência. Problema a gente sempre tem, andando ou não. Tento me virar ao máximo sozinha e dar informações para encorajar as pessoas a se jogar lá fora, a viajar”, afirma.

Fonte: G1

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

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