Inclusão

Quando os valores que realmente importam, formarem um único grupo

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Por Lúcia Lina Pellicano e José Deoclécio de Oliveira

O poder econômico não é o único fator que formam grupos. Intelectualmente as pessoas também se agrupam independente de condições financeiras. Na verdade as pessoas se aproximam por semelhanças. Por exemplo, é complicado uma pessoa com intelecto mais desenvolvido manter uma relação constante com alguém mais ignorante. Não por preconceito, mas não haveria afinidades, assuntos, ideias. Poderia haver aproximações casuais, momentâneas mas elas não durariam. Vale, claro, para padrões materiais também, não porque haja algum tipo de sentimento superior, mas diferenças de padrões geram conflitos. Imagine uma pessoa bem de vida sempre falando de suas viagens à Europa e alguém pobrezinho sempre falando de suas dívidas.

Estas duas situações refletem as respectivas realidades, e que tipo de “clima” surgiria? O bem de vida vai sempre achar que o outro está jogando indiretas para conseguir $$$, e o pobrezinho irá sempre achar que o bem de vida está esnobando e contando vantagens…

Mesmo que isso não seja posto claramente numa discussão entre os dois personagens, é uma situação que se instala e quase naturalmente se distanciam procurando, cada um, o grupo com o qual mais se identificam. Podemos projetar isso para qualquer tipo de diferença: econômica, intelectual, racial, e até mesmo deficiências.

Fora isto, vários conceitos que passaram a ser prioridade nessa sociedade fútil tem afastado as pessoas umas das outras e formado pequenos grupos de interesse. Grupos que se definem pela terminologia , pelas preferências da moda, do consumo, pela curiosidade sobre a vida alheia e assim por diante. Essas relações supérfluas geram, por motivos óbvios, uma unanimidade no modo de perceber o país, tanto no aspecto social quanto político, atribuindo toda e qualquer precariedade a governantes – independente de partidos ou época.
(…)

Sim, claro, todos queremos ser valorizados, mas a valorização está ligada a um único fator: VAIDADE. Quando somos valorizados (seja por qual motivo for) nos vem um sentimento de satisfação, de orgulho, de peito cheio. Mas me diga com toda a sinceridade, qual é realmente a importância dos outros nos darem valor? Você sabendo o seu valor já não basta? A valorização de um feito ou de uma pessoa consiste no exemplo que ela deixa para ser seguido, na continuação de sua obra, na referência que ela passa a ser para futuras gerações, e isso é tudo o que importa. Tanto faz, por exemplo, se lhe atribuem o que você faz à sua pessoa, o que importa é a ação em si, que a AÇÃO faça a diferença, SÓ.

Haverá, em contrapartida, pessoas dispostas a denegrir imagens, sabotar ideias e enterrar projetos. A ignorância é absurdamente resistente e se manifesta de várias formas, podendo, inclusive, confundir a massa também ignorante. Pessoas tão convictas de suas opiniões enlatadas que passam a vida apenas reproduzindo informações fragmentadas.

Não podemos OBRIGAR as pessoas a ENGOLIR as diferenças. Não adianta, o ser humano tem natureza mesquinha, uns mais outros menos. Nós também somos assim, por exemplo, você levaria um morador de rua para bater um papo, tomar um chopp num barzinho, acampar, etc? NÃO.. eu também não. Podemos no máximo levar uma roupa, um prato de comida, encaminhar a um serviço social, mas isto é apenas uma boa ação, NÃO É AMIZADE. Percebe? Claro que tudo isto está pautado em valores extremamente materialistas e superficiais, mas convenhamos, não somos espíritos absolutamente evoluídos, somos uma praga ignorante, do contrário não estaríamos no planeta terra. A igualdade não se baseia na aceitação de todos por tudo. A verdadeira igualdade só existirá quando as diferenças não forem mais percebidas. E quando isto acontecer, as pessoas voltarão a se aproximar e o ser humano será um pouco mais humano.

Vai demorar para atingirmos um nível de igualdade?

Vai demorar sim. Demorar MUITO. Falando em termos de Brasil: o Brasil “involuiu” muito nas questões humanas, vejo preconceito hoje que não havia, por exemplo, nos anos 80 (nos anos 70 então nem se fala, era muito paz e amor V). Mas tenho percebido, e não é uma mudança sutil, é escancarada, que o brasileiro está cultivando e cultuando uma doutrina de ódio e violência, nas pequenas e grande ações. O mesmo tipo de ódio que se instalou ao longo da 2ª guerra mundial. Pare e reflita sobre isso. Estamos numa trilha muito, muito perigosa. Há um ditado (Kardecista) que diz: Para que o mal triunfe, basta que o BEM não faça nada.

Na verdade é uma percepção do mundo que nos cerca, é que a maioria dos brasileiros acaba comprando o peixe já mastigado, tendem a adotar opiniões tendenciosas como verdades absolutas, quando a verdade só é alcançada através de exaustivas discussões até que se chegue a um ponto em comum. Mas infelizmente o brasileiro não busca a verdade, busca alimentar o ego “ganhando discussões”. PENSAR, ao contrário do que muitos supõem, não é apenas deixar uma situação passear pela mente, mas sim se aprofundar nela, refletir, construir hipóteses cujo objetivo é sempre encontrar a verdade. A Verdade não se refere à veracidade de um fato, mas sim a solução definitiva para um problema.

Acredito que o ser humano tenha uma tendência maior para nascer mau, do que nascer bom. É curioso como a Maldade é mais acessível do que a Bondade. Uma ação Má é sempre mais fácil do que a ação Boa. Soma-se a isso a preguiça de PENSAR que o brasileiro tem e o resultado é esse: Alienação absoluta.

•ALIENAÇÃO: Quando se delega a terceiros um objeto. No âmbito social significa, ATRIBUIR CULPAS, RESPONSABILIDADES E ATITUDES A TERCEIROS. Podemos então concluir uma primeira verdade… o brasileiro é completamente ALIENADO, pois joga para terceiros (no caso governos, sistemas, instituições, vizinho, etc…) os próprios fracassos. Resumindo: a culpa é de todo mundo menos dele mesmo.

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

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