Cadê a Calçada?
Com 71 buracos espalhados em dois quilômetros, a Rua Augusta é exemplo de falta de acessibilidade em São Paulo
Enquanto desce a Rua Augusta, o operador de telmarketing, Rafael Ferreia para diante de um trecho em que o chão de concreto dá lugar a uma faixa de areia. “Aqui, seria difícil transitar sem ajuda”, reclama ele, paraplégico desde 2003. Os cadeirantes, porém, não são os únicos a perder a paciência – ou, nos piores casos, levarem tombos – devido ao lastimável estado das calçadas dali. Um levantamento da vereadora Mara Gabrilli mostrou que a via é a campeã de buracos. “Recebo 35 reclamçãoes sobre o problema diariamente”. afirma Mara. “Destas, 10% são sobre a Augusta. Em segundo lugar, com 5%, vem a Consolação”. No último dia 26, a reportagem de Veja São Paulo percorreu os dois quilômetros da Augusta, em ambos lados. Foram encontrados 71 vãos ou fendas grandes o suficiente para prender um pé ou desequilibrar uma cadeira de rodas.
Segundo um estudo realizado em 2003 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 100 mil pessoas sofrem quedas e se machucam por ano nas calçadas de São Paulo. “O pedrestre que desvia os olhos do chão corre sério risco de se acidentar”, diz a médica Júlia Greve, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas.
A funcionária pública Sílvia Marcondes concorda com direito de causa. Ela tema uma cicatriz na testa, resultado de um tombo quando caminhava para o trabalho, numa agência bancária da Augusta. “Fui parar no hospital”, conta. “Machuquei os braços, as pernas, levei nove pontos na cabeça e passei dois dias internada”.
A última reforma feita pela prefeitura na Augusta foi em 2006, quando foram gastos 2 milhões de rais para cobrir o cão com lajotas de concreto. De acordo com Célia Marcondes, presidente da Sociedade dos Amigos e Moradores do Bairro Cerqueira César (Samorcc), foi aí que começou o problema. “O piso deveria ter sido colado com cimento nos trechos mais íngremes”, diz. Como estão sobre uma camada de areia, os blocos soltam-se mais facilmente – sobretudo após temporais como o das últimas semanas.
Segundo a Prefeitura, desde 2005, apenas 400 dos 30 mil quilômetros das calçadas existentes em São Paulo passaram por manutenção. A meta atual é reformar 600 quilômetros de passeios públicos até 2012. “Vamos fazer uma vistoria na Augusta para identificar os locais que necessitam de reparos”, afirma Carlos Eduardo Cheide, chefe de obras e serviços da Secretaria das Subprefeituras. “Assim, poderemos identificar os responsáveis e cobrar soluções”. Ele se refere à lei municipal que determina que o proprietário do imóvel, seja residencial, seja comercial, fique encarregado de zelar por seu pedaço de guia, sob pena de multa de cem a mil reais.
Fonte: Veja São Paulo
Referência: Rede Saci
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