Inclusão de crianças com deficiência expõe falhas de escolas
O blog Deficiente Ciente toda semana publicará matérias referentes às pessoas com deficiência e a inclusão nas escolas.Vamos saber o que diz a legislação, o preconceito que estas crianças e jovens sofrem, o que dizem as pesquisas e outros assuntos relacionados com esse tema. Afinal, o ensino público brasileiro inclui ou exclui esses alunos?
Hoje iniciaremos esse tema com a reportagem abaixo:
Muitos jovens e crianças ainda sofrem preconceito no ensino regular, o que desestimula a inclusão social
Bianca tem síndrome de Down e, aos 12 anos, leva uma rotina dupla: passa as manhãs numa escola especial e as tardes na rede regular de ensino. Isabela, de 19 anos, tem a mesma síndrome, mas, após uma experiência de negligência e abandono numa escola, sua família decidiu mantê-la apenas no ensino especial. Com paralisia cerebral, Natasha, de 10 anos, sofreu todo tipo de preconceito para estudar – mesmo assim, segue num colégio particular regular.
As três garotas querem continuar os estudos e lutam com suas famílias para isso. Em comum, elas têm o apoio da legislação, que prevê a educação para todos – com respeito e acolhimento das diversidades -, e a realidade do sistema educacional brasileiro, na prática, muito distante do que determina a lei.
Assim como elas, há mais de 300 mil crianças com alguma deficiência em colégios regulares e outras 342 mil em escolas especiais. O desafio a ser enfrentando pela sociedade é como unir esses universos, garantindo que alunos sejam efetivamente incluídos e atendidos em suas especificidades – incluir, neste contexto, é bem mais do que colocar na sala de aula.
Todos concordam com a inclusão, mas discordam sobre como fazê-la. De um lado, liderados pelas escolas especiais e pelas redes como Apae, estão os defensores de uma inclusão gradual, dentro de um processo, feita com acompanhamento especial. De outro, organizações não-governamentais ligadas ao tema defendem a inclusão obrigatória e a diminuição da rede especial. Para elas, só com a entrada em massa dessas crianças e adolescentes na rede regular é que o sistema vai se adaptar e passar a acolhê-los.
Seja como for, além da falta de infraestrutura, de metodologia, de materiais didáticos e de professores de apoio, o desafio maior é o preconceito. Pesquisa feita pela USP sob encomenda do Ministério da Educação com 18.599 estudantes, pais e mães, professores e funcionários da rede pública do País mostrou que 96,5% deles têm preconceito e querem manter distância de pessoas com deficiência. Levantamento do Ibope encomendado pela Fundação Victor Civita apontou que 96% dos professores se dizem despreparados para a inclusão e 87% deles nunca receberam treinamento.
O debate é complexo e delicado, envolve governos, famílias, equipe escolar e organizações da sociedade civil, e evidencia também todas as falhas da própria escola com todos seus alunos: excesso de estudantes em sala de aula, falta de acompanhamento individual, professores despreparados e episódios de violência. O resultado final é a falta de aprendizagem.
Peregrinação
No caso de Bianca, a escola regular foi sua única opção até os 10 anos. Mas ela não progrediu nem foi alfabetizada. Um dia, ao lamentar para a irmã que já tinha 10 anos e não sabia ler nem escrever, a mãe procurou ajuda. “Tentamos colocar na escola dita normal, mas ela nunca recebeu atenção. E eu vou atrás, fico no pé, estou sempre na escola, peço para conversar, reclamo. Mesmo assim, ela passava os dias perambulando pelos corredores”, conta a mãe, a pedagoga Sandra Reis. “Quando coloquei na escola especializada, ela foi alfabetizada em seis meses. Hoje, ela aprende lá e continua num colégio estadual pela socialização”, conta.
Bianca estuda no Centro da Dinâmica de Ensino (CEDE), um colégio fundado há 30 anos para atender crianças com deficiências mentais e que foi um dos pioneiros na alfabetização. “Recebemos muitas crianças que estão na escola regular ou que passaram por ela e somos a favor da inclusão – mas da inclusão verdadeira, com acompanhamento para que alcancem seu potencial máximo”, afirma Célia Regina Derwood Mills Costa Carvalho.
Lá, em turmas com cerca de 10 alunos, cada estudante é avaliado e tem seu plano curricular definido – até o material didático é adaptado para as necessidades individuais. Todos são estimulados a terem independência e autonomia em casa, nos relacionamentos e no mercado de trabalho. “Não tem fórmula, para cada um é uma adaptação. Se ela não fala o som do ‘b’, você não pode começar a alfabetizar por aí. Se ela fala ‘mamãe’, você começa pelo ‘ma’”, explica.
É o caso de Isabela Delboni, que se forma neste ano. “Eu quero me formar, trabalhar e me casar”, conta ela, que não gostava da escola regular. “A professora não entendia as pessoas com síndrome de Down. Eu ficava triste e brava”. A mãe conta melhor a história. “No primeiro dia de aula a professora me chamou e disse que não faria nada pela minha filha, que não era paga para isso e que ela ficaria no fundo da classe sozinha”, diz Arlete Delboni. Ela reclamou, procurou a direção da escola, a regional de ensino e, mesmo assim, não conseguiu mudanças.
“A inclusão não existe. Só no comercial”, diz Martinha dos Santos, mãe de Natasha, que teve de sair da escola onde estudava por represálias da equipe após reclamações da mãe – que era obrigada a ficar junto com a menina na sala de aula. “Consegui ajuda financeira e procurei muitos colégios particulares, até que um aceitou ela. Ninguém quer, ninguém aceita”, lamenta.
Para quem participa do debate, o despreparo não pode impedir o processo – que deve ser a inclusão total no colégio. “A escola só estará preparada quando os alunos estiverem lá. Sei que é difícil, mas precisamos insistir ou nunca teremos uma escola para todos”, diz Claudia Grabois, presidente da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down.
Para Liliane Garcez, da Apae de São Paulo, se trata de um movimento em curso. “É um processo social, que já avançou na legislação e está progredindo nas escolas”, afirma. O resultado que todos esperam, como resume Liliane, é uma escola que dê conta da diversidade humana, capaz de ensinar a partir das diferenças. “É a escola que queremos para todos”.
Fonte:Jornal Cruzeiro do Sul(08/09/09)
Vera
A grande maravilha do ser humano é a racionalidade. E, esta tal racionalidade, devia nos levar por caminhos que entendam e compreendam que o que nos faz melhores é a convivência na multifacetação, é a confraternização e o contato com o diferente.
Como poderia haver melhoria num grupo de iguais?
O debate, a convivência entre os diferentes é bom para todos os envolvidos, somente os tolos não percebem isso (os tolos e preconceituosos).
A escola deve ser o palco para o encontro de todas as tribos, de todas as pessoas, de todos os credos, de todos os sexos, de todas as religiões, de ditos perfeitos, de dito excepcionais, enfim, de todos… E, todos, juntos neste palco acadêmico, fazer com que a diferença de todos seja traduzida em novas experiências para serem compartilhadas por todos – novas experiências, novos saberes, novos saberes, novos conhecimentos e, acima de tudo, o fundamental, mais sabedoria!
Chega de inteligencia, o mundo precisa mesmo é de sabedoria!
Parabéns pelo blog, por tua luta, por tua coragem e por tua iniciativa.
Não tenho excepcionalidades mas tua luta é minha luta!
Um abraço, fiquei encantado!
Gilberto
nel mezzo del cammim
Boa tarde, Gilberto! Você me autoriza a usar seu comentário como uma citação no meu projeto de estágio da faculdade que é justamente sobre as “deficiências na educação inclusiva”? Se sim, só me passa teu nome completo, por favor. Obrigada desde já!
Obrigada pelas palavras encorajadoras!
Também fiquei encantada com suas palavras…
Infelizmente, o ser humano ainda tem uma certa dificuldade para conviver com as diferenças. Se o homem atual trava como ele mesmo uma busca incansável pela satisfação pessoal, imagina a dificuldade que ele vai ter para aceitar e conviver com os diversos tipos de pessoas(raça, cor, deficiência, religião, etc).
Seria tão bom se as pessoas aprendessem a respeitar os seus semelhantes e aceitá-los como eles realmente são, não é? Acredito que exatamente ai entra a educação básica que é papel dos pais ensinarem seus filhos a conviver e respeitar as diferenças e depois vem o papel da escola.
Vamos aguardar, pois ainda chegaremos lá…
Obrigada, Gilberto!
Vera
Puxa, lindo isso que o rapaz escreveu,mas veja bem será que o mundo onde nos vivemos estaria preparado para isso?
Hoje temos uma quadro quase global, da adolescencia na escola, alunos matando e batendo em professores.Pergunto o sistema e 90% seguro.
Sou mae de duas criancas surdas, estudam em escola da prefeitura para surdos, e nao me arrependo de coloca-los,elutarei ate o fim, porque nao deixaria eles em uma sala comum com 40 alunos para uma pessoa nao preparada(e averdade) para educar os meus filhos,com matematica,portugues e ciencias,sobre a inclusao social cabe as pais fazerem isso no seu dia a dia, e quemuitos até nao tem tempo, e acabam passando isso a escola,fica a minha opinião, e peço a Deus para que essas escolas EMEE,permaneçam por muitos anos, afinal eu pago imposto.
Abraços.
Olá Silvana!
Entendo sua preocupação enquanto mãe de alunos portadores de deficiência. Fico feliz que tenha encontrado uma boa escola especial para seus filhos, no entanto nem todas as crianças tem essa mesma sorte.
Entendo também a preocupação de professores e diretores em relação a justificativa de não aceitar alunos com deficiência, devido ao grande número de alunos em sala de aula, devido a falta de preparo dos mesmos e a falta de estrutura nas escolas para receber essas crianças. No entanto, o que não dá para aceitar são justificativas como essas para camuflar o preconceito. Como você pode ter visto na matéria, 96,5% de professores, estudantes, pais e mães e funcionários da rede pública do país, têm preconceito e querem manter distância de pessoas com deficiência.
Na opinião de muitos autores da literatura especializada e também da minha opinião, o preconceito nada mais é do que falta de conhecimento e informação. A maioria das pessoas não tem muito conhecimento sobre os tipos de deficiência e também não sabem como se relacionar com essas pessoas. Não sei você leu as matérias sobre “Portadores de Deficiência: a questão da inclusão social” da professora Maria Regina Cazzaniga Maciel. Nesses textos a professora comenta sobre os passos que a sociedade precisa fazer para chegar a uma sociedade inclusiva. Dê uma olhada nessas matérias é muito interessante.
Vários estudos científicos mostram que a interação entre alunos deficientes ou não, é uma experiência rica para ambos. Os alunos não-deficientes interagindo com os deficientes, aprendem a lidar com o diferente, passam a respeitar os que possuem alguma deficiência. Mesmo as crianças que possuem um grau severo de deficiência precisam de socialização. Cada um aprenderá dentro do seu ritmo, isso serve também para os alunos que não possuem nenhuma deficiência, mas tem dificuldade de aprendizagem. No entanto, para que isso aconteça, professores e diretores precisam ter uma visão despida de preconceito, como diz a professora Maria Regina, ou seja as crianças com deficiência precisam ser bem recebidas pela escola.
Quando você diz, “afinal eu pago imposto”, é justamente por isso que você e seus filhos têm o direito de serem recebidos na escola regular.
Um dia desses escrevi sobre minha experiência enquanto professora portadora de deficiência. Poucas vezes tive menos de 35 alunos numa sala de aula. Teve uma época em que tinha 39 alunos e entre eles, um paraplégico e um deficiente auditivo. Esses alunos portadores de deficiência foram muito bem recebidos por mim, pelos colegas, pela diretora e pais de alunos. Foi uma experiência inesquecível para todos. Acredite!
Silvana, acredito que o governo, os professores, os diretores, os estudantes, os pais de alunos, todos precisam fazer sua parte. Todos precisam procurar se informar mais, conhecer mais de perto as pessoas com deficiência. Quando isso acontecer, ai sim teremos uma verdadeira sociedade inclusiva.
Felicidades para você e seus filhos!
abraços
Vera
Eu como humana acredito que a inclusão é uma boa forma de educar a sociedade a ser mais tolerante a necessidade do próximo, mais eu como mãe de uma criança portadora de necessidades especiais não acredito pois sinto na pele a dificuldade de encontrar uma escola regular para coloca-la, o despreparo é grande principalmente por ela não realizar nenhuma atividade sozinha e sempre precisar de auxilio. A realidade é que a inclusão é uma palavra bonita de se ver e dizer porem pratica-la é muito mais difícil . Muita coisa tem que mudar para que a inclusão ocorra realmente e a criança não tem que se sentir inclusa só na escola mais sim em cinemas, parques de diversão, teatro …Enfim temos muita luta pela frente.
bjos
Monica valadares