Nathalia Santos: primeira apresentadora cega do país
Jornalista e blogueira, Nathalia Santos, com seus relatos emocionantes e experiências “ver sem enxergar”, conquistou seguidores na internet.
“A melhor parte de ser cega é enxergar o mundo com outra perspectiva.”
Nathalia Santos destacou-se através do Programa Esquenta, apresentado por Regina Casé, na Rede Globo. Foi considerada a primeira apresentadora cega do Brasil, através do noticiário “Atualiza!”, no canal online RioLive, idealizado pelo ator Bruno de Luca.
Em 2016, foi convidada pela revista Vogue para posar ao lado de Naomi Campbell, no editorial de aniversário da revista, como uma das mulheres negras mais influentes do país.
Nathalia Santos, 24 anos, ficou cega aos 15 anos. Cursou Farmácia e Administração, antes do jornalismo. Ela contou a Revista Glamour como enfrentou cegueira, depressão e preconceito para ser feliz.
“Não é preciso enxergar para crer que tudo é possível.”
Depoimentos de Nathalia Santos – Uma verdadeira lição de vida!
Transformação
“Eu poderia começar este depoimento falando das dificuldades – que não são poucas – de ser mulher, negra e cega no Brasil. Mas não me sinto no direito de negar todas as características que fazem de mim quem sou. Ficar cega aos 15 anos me transformou para melhor: fiquei mais forte, corajosa e otimista. O marco dessa mudança aconteceu em 2004, quando recebi o diagnóstico, aos 12, de retinose pigmentar, distrofia que mata todas as células da retina.”
Independência
“Ainda no consultório, minha única reação foi pensar em todos os livros e lugares que gostaria de ler e conhecer, antes de o mundo escurecer. E foi justamente o que fiz: em três anos, li mais de 100 livros e decorei todas as ruas do Rio, onde, hoje, vivo com total independência.”
Meio-termo
“Ainda mais curioso que a doença é o fato de eu ser abordada por várias pessoas que não acreditam na possibilidade de alguém não sentir medo ou raiva por ficar cega. E juro: eu não senti! Não enxergar, mas não ser cega, era um meio-termo que me incomodava tanto que, quando perdi 100% da visão, senti alívio.”
O preconceito
“Juro para vocês que procurei estágio em todas as empresas do Rio, mas a deficiência era sempre posta acima do currículo. Aliás, pouca gente sabe, mas é muito fácil para um cego se adaptar ao ambiente de trabalho. Contudo, ouvir “não contratamos pessoas como você” tantas vezes me fez muito mal. Tive um início de depressão aos 18 e, pela primeira vez, duvidei da minha capacidade. Até que, em fevereiro de 2012, fui na gravação do Esquenta! e tudo mudou. Em um dos programas, Regina Casé perguntou à plateia quem sabia ler braile e levantei a mão. Ela não só se emocionou com a minha história (e ficou surpresa com meus olhos vivos) como me deu a maior oportunidade da vida: trabalhar na sua produção.”
Sonhos
“Óbvio que ainda tenho muitos sonhos (trabalhar como jornalista é um deles), mas sei que não existe receita mágica para a felicidade. Ser feliz, mesmo com as dificuldades, é uma escolha.”
Ver o pôr do sol
“Talvez eu quisesse enxergar por um dia. Eu queria ver o pôr do sol, o olhar do meu pai, o sorriso da minha mãe, o jeito de andar dos meus irmãos e, principalmente, a lua, porque eu não consigo dimensionar como ela é. Mas sou tão acostumada a ser cega que eu acho que não saberia enxergar como as outras pessoas. Enxergar para mim não é fundamental.”
Vitória maior
“A real é que, quando me formar, neste ano, serei a primeira da família a ter um diploma universitário – e essa vitória é maior do que qualquer doença ou preconceito. Eu amo a vida e tudo que faz parte dela! Talvez até seja por isso que, para mim, enxergar não seja tão fundamental.”
Realidade dos deficientes visuais
A visão é apenas um detalhe para Nathalia. Ela diz que não é só a realidade dos deficientes visuais que ainda precisa de melhorias no dia a dia. Tanto que escolheu, como tema de conclusão do curso de Jornalismo na ESPM-Rio, onde estuda, falar sobre ‘crescimento e participação de pessoas com nanismo na vida social’.
Nathalia possui mais de 30 mil seguidores no instagram e interage com os fãs por meio delas. Além disso, usa a hashtag #PraCegoVer e faz a descrição de suas fotos para que pessoas com deficiência visual possam saber o que está na imagem.
A estudante de jornalismo criou o canal Como Assim Cega?, onde responde dúvidas de jovens cegos e de pessoas que convivem com eles.
“Não sou coitadinha. Só sou cega.”