Mais de 90% dos cadeirantes já passaram por dificuldades no trabalho
Empresas devem cumprir a legislação e oferecer condições de acessibilidade para as pessoas com deficiência
Por Mayara Clemente
De acordo com pesquisa da Toyota Mobility Foundation, divulgada em agosto, 92% dos cadeirantes brasileiros enfrentam problemas no deslocamento até o trabalho e limitações nas tarefas profissionais que são oferecidas pelas empresas em virtude de suas deficiências.
A presidente da Associação Desportiva para Deficientes, Eliane Miada, 47, aponta que a maioria das empresas só contratam pessoas com deficiência por causa das cotas (a lei n° 10.098, de Dezembro de 2000, também conhecida como Lei da Acessibilidade, obriga que as empresas tenham um percentual de vagas destinadas aos deficientes). “O que percebemos é que as empresas utilizam os mecanismos da legislação para prorrogar cada vez mais a contratação”.
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Por exemplo, é comum a Associação receber cartas registradas de empresas, informando que estão selecionando pessoas com deficiência, entretanto quando ligam no local verificam a existência de uma série de restrições. “Percebemos uma maior procura das empresas quando estão passando por alguma fiscalização do Ministério do Trabalho”, afirma.
O jornalista e palestrante Ronaldo Denardo, 43, é cadeirante há 21 anos, após um acidente de carro em que sofreu lesão medular. Ele trabalhou durante dois anos em uma empresa de tecnologia. O piso da empresa era todo de carpete, o que dificultava o deslocamento. Além disso, o banheiro não era adaptado para cadeirantes e nem grande o suficiente para a locomoção da cadeira. “Eu, na verdade, preferia até evitar de ir ao banheiro, inclusive controlava minha ingestão de líquidos para utilizar o banheiro só em casa”. Ronaldo lidava de forma relativamente “natural” com os problemas, afinal, precisava trabalhar. “Não tinha muito o que fazer, às vezes a gente acaba aceitando as coisas por conta de uma contrapartida”.
A presidente da Associação comenta que todo trabalhador com deficiência deve ter as mesmas condições que qualquer funcionário sem deficiência. “Ele precisa ter acesso para ir e vir, e circular de forma autônoma em um ambiente sem barreiras físicas”.
A auxiliar administrativa Marcia Alves Sampaio, 52, tem sequela de uma paralisia infantil. Ela trabalhou durante 6 anos como entregadora de exames e foi nessa ocasião que enfrentou diversas dificuldade. A cadeirante precisava pegar caixas de arquivo, que eram pesadas e ficavam em armários altos. “Eu tinha que fazer um esforço enorme. Normalmente as caixas despencavam, colocava tudo no colo e, com uma mão, empurrava a cadeira e, com a outra, segurava a caixa”. Marcia chegou a comentar o ocorrido com a chefia, mas, um mês depois, foi demitida. Ela entrou com processo judicial e a segunda audiência está marcada para outubro. “Ser cadeirante é muito difícil, você está em uma vaga que te pertence e as pessoas não te respeitam profissionalmente”, afirma.
Fonte: http://www.metodista.br/