Primeiro diploma em braille é entregue a estudante em Pernambuco
Marília tem deficiência visual e conclui o curso de Direito
Anos de batalhas e renúncias. Para qualquer concluinte de um curso de graduação como Direito, esta é uma realidade que se pode até chamar de usual, comum. Quando se passa por todo este processo, durante cinco anos, tendo uma deficiência visual, o final exitoso pode, e deve, ser comemorado com ainda mais ênfase. E foi assim para Marília Lordsleem de Mendonça.
Uma data para ficar na história e na memória: colação de grau da turma 2018.2 da Universidade Católica de Pernambuco, Centro de Convenções, 30 de janeiro de 2019, 19h. Na ocasião, Marília foi a única concluinte, até então, no estado, a receber o primeiro diploma em braille de uma instituição de ensino superior de Pernambuco. E é com um misto de alegria e tranquilidade que esta pernambucana de sobrenome inglês por parte de mãe, de 25 de idade, recebe a honraria.
“Achei uma excelente iniciativa. É bom para que o deficiente saiba, por si mesmo, o que tem escrito no diploma. É diferente de pegar um papel e esperar que outros digam para você o que está lá.”, afirma. Marília fala do alto de uma vivência em que esta possibilidade nem sempre existiu, ao longo da sua vida.
Foram muitos os desafios para conquistar seu sonho. Ter acesso ao conteúdo das aulas, por exemplo, exigia todo um complexo sistema de logística. Ela precisava esperar que alguém tirasse fotos do quadro e enviasse para o seu WhatsApp. No celular, ela possui um sistema chamado voice over, que funciona como leitor de tela. O problema é que o sistema não lê imagem e era preciso esperar que alguém lesse o conteúdo da foto para que ela pudesse ter acesso a ele.
Outra dificuldade, superada com a ajuda de familiares, mestres e colegas, era o deslocamento entre as salas de aula. Nada que, entretanto, pudesse arrefecer a vontade de quem já nasceu com deficiência visual, em ambos os olhos, mas que nunca se deixou abater na busca pelos sonhos, que foram mudando de direcionamento ao longo da vida.
O Pró-reitor de Gradução e Extensão da Universidade Católica de Pernambuco, Degislando Nóbrega, conta que a iniciativa de oferecer o diploma em braille é, na verdade, além do ato em si, o coroamento de toda a caminhada da estudante. “Marília não poderia chegar a esta conclusão com êxito, sem antecedentes, sem o favorecimento de muitos quanto à questão da acessibilidade. Sua família, bem como colegas, professores e toda a estrutura da universidade”.