Inclusão

Advogado alerta que mídia não deve ser paternalista ao falar sobre deficiência

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Desde os 15 anos, Cid Torquato está presente no mundo do jornalismo. Começou escrevendo para um jornal de Mogi das Cruzes (SP), no qual falava sobre juventude. Atuou como colunista de rádio nas áreas de tecnologia e comunicação. Em setembro de 2007, Torquato ficou tetraplégico após lesar a vértebra durante um mergulho. A partir de então, inaugurou a coluna “Cidade Inclusiva”, na CBN, aliando tecnologia e acessibilidade.

Em 2008, passou a fazer parte da Secretária dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo, criada em março do mesmo ano. Atualmente, o advogado alia sua experiência pessoal à possibilidade de se utilizar da mídia para conscientizar e discutir soluções para a acessibilidade. Ele faz uma análise otimista da cobertura dos meios sobre o assunto. “De um modo geral vejo a imprensa muito disponível para falar de coisas relevantes sobre acessibilidade, em geral os veículos tratam de questões nobres”.

Torquato considera a cobertura positiva, mas justamente por esse motivo, o tema é menos incorporado ao hard news do que deveria.
 “Eu considero que muitas vezes saem matérias interessantes, discussões sobre limitações, impedimento a direitos e abusos, mas as pautas quase sempre são frias e sem continuidade. O que muitas vezes não incorpora a naturalidade do tema no cotidiano das pessoas”, diz ele.

Maior espaço
O colunista lembra que tem visto pessoas nos grandes meios atuando com competência nas questões de acessibilidade. Dos mais notáveis ele cita Jairo Marques, colunista da Folha de S. Paulo, e Flavia Cintra, repórter do “Fantástico”. “Vejo neles exemplos da grande mídia dando espaço para o assunto. Acho que somente dessa forma vamos conseguir que a sociedade encare a pessoa com deficiência como qualquer outra, sem compaixão ou espanto”, aponta.

Para Torquato, popularizar o termo de forma correta é lutar em prol da acessibilidade. O número de pessoas com deficiência no Brasil justifica o empreendimento: de acordo com o IBGE, são 24,6 milhões de pessoas com deficiência, 14,5% da população. Sendo 16,7% deficiência auditiva, 48% visual, 22,9% motora, 4,1% física e 8,3% intelectual. Ele lembra que a internet contribuiu para dar mais espaço ao assunto. “Eu considero que além da grande mídia, existe muita informação disponível na internet, blogs de qualidade e muita informação”.

Jornalismo especializado
O advogado faz observações em relação à especificidade do assunto. Para ele, a questão de especialização na imprensa ainda é delicada. “Os assuntos específicos demandam uma atenção diferenciada. É verdade que é um pouco complicado falar de terminologias. Mas é fundamental que ela seja aplicada de forma correta”.

(Veja: Mídia e deficiência: Quando utilizarão a terminologia correta? )

Torquato aponta que em alguns casos, um dos maiores problemas da cobertura é o tratamento paternalista. “A cobertura sob a ótica de direitos humanos é importante, mas não pode ser de forma paternalista, nem passando a mão na cabeça. É preciso uma postura madura”. Justamente para contribuir com os jornalistas, ele cita um levantamento feito pelo consultor de inclusão social, Romeu Kazumi Sassaki, em parceria com a Prefeitura de São Paulo, que disponibiliza um manual para jornalistas com várias terminologias.

Sassaki desenvolveu um glossário com 59 terminologias, muitas vezes utilizadas de forma inadequada na mídia. “A linguagem é fundamental para uma sociedade inclusiva. Nos verbetes, vemos muitas expressões incorretas que são comuns no dia-a-dia em livros, revistas, jornais, programas de TV e rádio”. Veja a seguir algumas das terminologias abordadas no glossário:

Adolescente normal
Usado quando se procurar tratar de um adolescente que não possui deficiência. Acontecia mais no passado, quando havia desinformação e preconceito a respeito de pessoas com deficiência.

Aleijado; defeituoso; incapacitado; inválido
Termos que eram utilizados com frequência até a década de 1980. A partir de 1981, por influência do Ano Internacional das Pessoas Deficientes, começou-se a escrever e falar pela primeira vez a expressão “pessoa deficiente”. Hoje o termo correto é “pessoa com deficiência”.

Ceguinho
O diminutivo denota que o cego não é tido como uma pessoa completa. A rigor, diferencia-se entre deficiência visual parcial (baixa visão ou visão subnormal) e cegueira (quando a deficiência visual é total). Os termos corretos seriam cego; pessoa cega; pessoa com deficiência visual; deficiente visual.

Defeituoso físico
“Defeituoso”, “aleijado” e “inválido” são palavras muito antigas e eram utilizadas com freqüência até o final da década de 1970. O termo “deficiente”, quando usado como substantivo (por exemplo, “o deficiente físico”), está caindo em desuso. O termo correto é “pessoa com deficiência física”.

Inválido
“Inválido” significa “sem valor”. Assim eram consideradas as pessoas com deficiência desde a Antiguidade até o final da Segunda Guerra Mundial. Também errado e preconceito, deve ser substituído por “pessoa com deficiência”.

Acesse aqui e conheça a Terminologia sobre Deficiência na era da inclusão de Romeu Sassaki.

Fonte:http://portalimprensa.uol.com.br/

Veja também nesse blog:
Quando a mídia assumirá o assunto Deficiência como de interesse público nacional?
Mídia e Deficiência: 10 dicas para uma cobertura qualificada sobre Deficiência
A Mídia e as Pessoas com Deficiência
Conheça a diferença conceitual entre inclusão e integração
Quando verdadeiramente assistiremos um desfile inclusivo?

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

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