Jovem com síndrome de Down se forma em Publicidade e Propaganda
Aos 30 anos, a limeirense Marcela Fenga Ferraz entrou para uma estatística que deixa a família muito honrada. A jovem é uma das poucas pessoas com síndrome de Down a concluir um curso universitário no Brasil. Marcela se formou em Publicidade e Propaganda na Faculdade Anhanguera, em Limeira.
Foram quatro anos frequentando a faculdade no período noturno. Ela conciliava o trabalho na Santa Casa de Limeira, das 8h às 17h, com a faculdade, das 19h às 22h. No tempo que sobrava, Marcela frequentava a psicóloga e a psicopedagoga, que auxiliaram a enfrentar as questões inerente ao ensino superior. Os trabalhos e os estudos para as provas eram aos finais de semana.
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O caminho até a formatura teve dificuldades. Quando Marcela informou que iria prestar vestibular, os pais se assustaram. “Foi um choque! A gente não esperava, mas concordamos e seguimos em frente”, lembra a mãe, Sueli Ferraz. Quando Marcela entrou para a faculdade, a família procurou a instituição para tratar das especificidades da nova aluna.
Marcela foi a primeira pessoa com síndrome de Down a frequentar a Faculdade Anhanguera, em Limeira. No começo, ela era submetida aos mesmos procedimentos que os demais alunos e enfrentou dificuldades. “Até as provas eram as mesmas e foi um período muito complicado para ela acompanhar”, recorda-se a mãe. Esse cenário só mudou quando a família procurou a instituição para discutir possíveis adaptações.
A faculdade então ouviu a psicóloga e a psicoterapeuta de Marcela e um núcleo interno, que se dedica às questões relativas às pessoas com deficiência, orientou os professores. “Foi um ensino por competências, por meio do qual o aluno é avaliado com base nas habilidades que ele consegue adquirir ao logo do curso”, explicou Cristiane Peixoto Nabarretti, coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda.
Entre os alunos, Marcela também passou por adaptações. Como a turma trabalhava em grupos que simulavam agências de publicidade, ela foi trocando de equipes até se adaptar. “A convivência com a Marcela foi um aprendizado para a coordenação, para os professores e para os alunos. Agregou bastante”, avalia a coordenadora.
Na cerimônia de colação de grau e no baile de formatura não houve nenhum destaque no cerimonial para a conquista de Marcela. “Ela foi tratada com igualdade, sem destaque algum em relação aos demais alunos, como deve ser”, elogiou a mãe, que trabalha com inclusão junto à Associação Amigos Especiais de Limeira (AEL).
Os casos de sucesso como o de Marcela são raros. Levantamento feito pelo Movimento Down mostra que há quase 80 jovens formados em cursos universitários por todo país. “O segredo é focar no estudo. Tem que esquecer das coisas da vida e do que passa na cabeça. É muito difícil, mas não pode desistir”, aconselha Marcela.
Ela agora quer trabalhar na área e já pensa na pós-graduação. “Quero estudar bastante ainda”, avisa a jovem que se diz apaixonada por criação, direção de arte e redação publicitária para TV e Rádio.