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“Existe vida em uma cadeira de rodas e a gente pode gerar outras vidas”

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A experiência de Ketly Vieira, cadeirante e grávida aos 40 anos

Ketly era pré-adolescente quando descobriu que tinha uma doença genética rara chamada Distrofia Muscular de Cintura, patologia que enfraqueceria seus músculos esqueléticos com o passar do tempo. Hoje, aos 40 anos e usando uma cadeira de rodas há mais de 15, ela vive um momento mágico e inesperado: está grávida do seu primeiro filho.

Influenciadora digital, atualmente é seguida no Instagram por mais de 56 mil pessoas, que acompanham sua rotina no perfil pessoal. A fim de compartilhar informações sobre acessibilidade, criou também o “Acessibilidade tô de olho”, onde publica suas experiências pelos lugares onde passa: já visitou mais de 40 cidades em 7 países do mundo.

Agora, Ketly foca seu conteúdo em contar o seu dia a dia a pessoas com deficiência que desejam se tornar mães. “Quero mostrar que existe vida após uma cadeira de rodas e que a gente pode gerar outras vidas”. Confira a entrevista:

Como você suspeitou que estava grávida?

Nós não planejávamos ter filhos, somos casados há uns 14 anos. Eu completei 40 anos e nunca coloquei isso nos meus planos. Eu e meu marido viajamos no final do ano passado, primeiro para Porto Seguro e depois para Porto Alegre. Quando estava lá, percebi que estava atrasada, mas como estava em viagem e ainda ia passar por Gramado, não dei muita atenção. No outro mês, de novo, não veio. Antes de ir ao médico, fiz o teste de farmácia e deu positivo. Fiz de novo o teste de farmácia, três dias depois, e confirmou positivo.

Qual foi a sua reação?

A minha reação a princípio foi um pouco de preocupação. Muita preocupação, na verdade. Quando você planeja um filho, quando quer muito, tem estudos que faz antes, toma medicamentos, faz inúmeros exames e se prepara para a vinda de um filho. No meu caso, como eu não planejei, me assustei muito. Eu nunca tinha visto pessoas que têm a mesma deficiência que eu, que é uma doença genética, ter filhos. Fiquei muito preocupada. Mas contei para o meu marido, que ficou muito feliz a princípio. Aí a gente foi em todos os médicos que imaginamos que pudessem nos ajudar, para tirar dúvidas do que poderia acontecer comigo ou com a bebê. Disseram que não poderiam garantir que essa doença genética fosse passada para a minha filha, mas como sou saudável, que seria uma boa gestação. Aí ficamos mais calmos e começamos a curtir mais e em janeiro contamos aos nossos familiares.

Existe algum exame complementar, além dos que você já realizou, que você precisa fazer por ser cadeirante?

A pessoa que utiliza a cadeira de rodas é por um motivo específico. No meu caso, tenho uma falha respiratória, diafragma também é um músculo. E na gravidez, as mulheres já ficam com falta de ar. Eu, como não tenho uma capacidade pulmonar 100%, a minha falta de ar tende a ser maior. Então os exames complementares são esses, por exemplo, prova de função pulmonar, fisioterapia respiratória, fisioterapia motora mais intensiva… O médico que acompanha a gestante cadeirante pode dar essas orientações. Eu estou fazendo o acompanhamento com o obstetra e com a minha médica neuromuscular.

Você teve alguma insegurança em relação à gestação por conta dos desafios que teria que enfrentar?

Eu acho que toda gestante tem insegurança, de tudo na vida. Se a gestação vai ser boa, se vai ser uma boa mãe, se vai saber amamentar… As minha inseguranças são iguais a de todas as outras mães e um pouco da parte física. Eu vou ter força para pegar bebê no colo? Se cair, eu vou conseguir pegar? A minha parte respiratória vai ser afetada a ponto de eu não ter fôlego para fazer algo que a bebê me demande? Mas insegurança todo mundo tem, inclusive a gente está vivendo um momento diferente (pandemia do Coronavírus) onde tudo é incerto. Então agora temos uma preocupação maior de que eu não fique doente, não pegue nem transmita o vírus, de que eu vá para um hospital que seja o mais seguro possível, ou que o meu médico obstetra não fique doente.

O que você diria para mães e possuem deficiência ou mobilidade reduzida​?

A mensagem que eu deixo para as futuras mamães cadeirantes é que se for o seu sonho, vá atrás dele. Estude, pesquise, procure exemplos e pessoas que possam te orientar, pesquisas registradas, médicos que são especializados nisso… Não deixe o seu sonho passar porque você tem uma deficiência, porque você tem um meio de locomoção diferente das outras pessoas. Se for o seu sonho converse com o seu parceiro para que, se for o dele também, vocês concretizem. Depois que fiquei grávida, eu já vi muitas mães que também já tiveram depois de acidente ou de doença. Eu não me arrependo de nada que fiz e estou aqui muito feliz!

Fonte: https://aacd.org.br/

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

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