“Foco não é a deficiência”: jovem viraliza com delineado perfeito nas redes
Marcela Mattos, de 25 anos, até poucos dias era seguida por menos de duzentas pessoas no Instagram e nunca se preocupou em ter números altos nas redes sociais. Exatamente por este motivo ela se espantou quando, após postar uma selfie no Twitter na última segunda-feira (19), o número de curtidas ultrapassou os 169 mil.
“Uma amiga retuitou, o alcance foi crescendo e chegou a tudo isso. O número de pessoas que me acompanham agora é grande, fiquei até assustada, porque nunca produzi conteúdo de beleza, nunca fui blogueirinha”, ela conta. O que mais gostou na maneira como a imagem repercutiu foi que, com exceção de poucos haters, a maior parte das pessoas simplesmente elogiou sua maquiagem: “As pessoas falaram bem da aparência, do delineado. O foco não era a deficiência. Me senti acolhida”, conta.]
Com o passar do tempo, no entanto, alguns dos novos seguidores começaram a questioná-la sobre o assunto. “Foi o momento em que percebi que precisaria falar mais sobre ele”, resume. “Entendo que para algumas pessoas com deficiência esta seja uma questão, mas não tenho problemas em tocar no assunto. Nunca tive um grande processo de adaptação, porque já nasci assim. No lugar do olho, existia um tumor. Então, com 28 dias de vida, fui operada”, explica. ”
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A adolescência foi a pior fase”
Marcela, que é estudante de jornalismo, fala sobre como a relação com a própria imagem mudou ao longo do tempo. “Não tenho muitas lembranças da minha infância, mas sei que meus colegas de escola faziam piadinhas às vezes. Eu mesma comecei a me zoar para escapar um pouco disso”, relembra. Mas, na sua opinião, uma das piores fases começou na pré-adolescência. “Com tantos hormônios, a gente não sabe direito o que sente. E é quando começamos a nos relacionar”.
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“Com 15, 16 anos, ia naquelas festinhas estilo matinê. Já era bissexual, mas ainda não havia tido experiências com mulheres. Mas os meninos nestes ambientes riam, se afastavam, fingiam que levavam um susto quando encontravam comigo. Isso sem dúvida me marcou. Até que, quando completei 18 anos, comecei a frequentar outros lugares e a ter contato com pessoas com um estilo mais parecido com o meu, diferente daquele hétero padrão. A primeira vez que fui em uma balada e fiquei com um cara, tive um estalo de que eu também poderia ser desejada. Então passei a me abrir mais para conhecer pessoas novas, o que não é fácil sendo uma mulher gorda, LGBT e deficiente”.
Marcela acredita ainda que pessoas pertencentes a este grupo devem mesmo se mostrar. “Muita gente compartilhou comigo como se sente diante da deficiência, de como perdem a vontade de se olhar no espelho, postar a própria foto. É importante que a sociedade nos enxergue. Que todos os tipos de corpos tenham visibilidade e que a gente entenda que ser diferente, fora do padrão, é legal. É bonito. Vamos continuar quebrando nossas limitações e fazendo esse movimento. No final, o resultado vai ser positivo”.
Fonte: https://www.uol.com.br/universa