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3 de Dezembro: O Que Ainda Precisa Mudar na Vida das PcDs?

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Sou uma pessoa com deficiência e, quando chega o dia 3 de dezembro, sempre paro para refletir. Essa data não é apenas sobre comemorar conquistas, mas também sobre enxergar o que ainda precisa mudar para que a inclusão seja uma realidade para todos nós.

O que temos para comemorar em 3 de Dezembro de 2024?

Nos últimos anos, vimos alguns avanços importantes:

  • Leis que nos protegem: A Lei Brasileira de Inclusão (LBI) é um marco fundamental. Ela não só garante nossos direitos, mas também coloca a inclusão como uma obrigação de toda a sociedade.
  • Mais espaço nas conversas: Hoje, as pessoas falam mais sobre inclusão, seja na escola, no trabalho ou em campanhas. Isso ajuda a quebrar barreiras e mudar a forma como somos vistos.
  • Tecnologias que transformam vidas: Próteses, aplicativos, tecnologias assistivas e outros recursos estão tornando nossas rotinas mais fáceis e independentes.
  • Mais visibilidade: Finalmente estamos aparecendo mais em filmes, séries e campanhas publicitárias. Isso ajuda a mostrar quem realmente somos, sem estereótipos.

Apesar de alguns avanços, viver com deficiência no Brasil continua sendo um grande desafio.

O que ainda precisa melhorar?

Infraestrutura precária

As cidades brasileiras estão longe de serem acessíveis. É frustrante perceber que, para nós, ações básicas do dia a dia ainda são dificultadas pela falta de planejamento e execução adequados:

  • Calçadas quebradas ou inexistentes: Em muitos bairros, é impossível andar com segurança. Para quem usa cadeira de rodas, muletas ou tem mobilidade reduzida, essas calçadas são verdadeiras armadilhas.
  • Rampas mal planejadas ou ausentes: Onde deveria haver acesso, encontramos degraus, rampas muito íngremes ou bloqueios.
  • Transportes públicos inadequados: Mesmo com a exigência de ônibus adaptados, a realidade é que muitas cidades não têm frota suficiente ou manutenção adequada.

Falta de atitude inclusiva

Além das barreiras físicas, enfrentamos barreiras sociais, e essas podem ser ainda mais difíceis de superar:

  • Pena e condescendência: É comum sermos vistos como “coitados” ou tratados de forma infantilizada.
  • Superproteção: Muitas vezes, subestimam nossas capacidades, limitando nossa autonomia.
  • Falta de conhecimento: As pessoas nem sempre sabem como agir ou ajudar de forma respeitosa. Atitudes simples, como perguntar antes de oferecer ajuda, podem fazer toda a diferença.

Educação despreparada

A educação inclusiva ainda é uma promessa distante para muitos de nós:

  • Infraestrutura escolar: Muitas escolas não possuem rampas, banheiros adaptados ou salas acessíveis.
  • Falta de materiais didáticos inclusivos: Poucos livros em braille, ausência de recursos digitais acessíveis e escassez de ferramentas para comunicação alternativa dificultam o aprendizado.
  • Profissionais sem formação adequada: Professores e funcionários muitas vezes não recebem o preparo necessário para atender às nossas necessidades específicas.

Transporte público

O transporte público deveria ser um direito acessível a todos, mas, para pcds, ele ainda é um grande desafio. O 3 de dezembro também é um dia para cobrarmos mais atenção a esse setor.

  • Infraestrutura inadequada: Muitos ônibus, metrôs e trens não possuem adaptações adequadas. Mesmo quando há, a manutenção é precária.
  • Despreparo dos profissionais: Motoristas e cobradores, em geral, não são treinados para lidar com passageiros com deficiência, o que pode gerar situações constrangedoras.
  • Demora e exclusão: Em muitas cidades, os ônibus adaptados demoram muito mais para chegar, e isso limita nossos deslocamentos e nossa independência.

Saúde pública ineficiente

O acesso à saúde para pessoas com deficiência também apresenta desafios que vão desde a estrutura física até o atendimento humano:

  • Falta de acessibilidade: Clínicas e hospitais ainda possuem obstáculos físicos, como escadas sem elevadores ou macas que não comportam pessoas com mobilidade reduzida.
  • Atrasos em consultas e tratamentos: Exames, terapias e atendimentos especializados têm filas intermináveis. Para muitos, o diagnóstico e o tratamento chegam tarde demais.
  • Despreparo dos profissionais: Não é raro que médicos e outros profissionais de saúde desconheçam as especificidades das nossas condições, o que impacta negativamente na qualidade do atendimento.

O preconceito e a discriminação ainda existem?

Sim, e não dá para fingir que não. O preconceito está presente nas palavras, nos olhares e na falta de oportunidades. Às vezes, ele aparece de forma velada, como quando duvidam de nossa capacidade, ou de maneira direta, quando somos ignorados para uma vaga de emprego ou mal atendidos em um serviço público.

Esse tipo de atitude machuca, mas também nos dá força para continuar lutando. A sociedade precisa entender que não somos “coitadinhos” nem “heróis”, somos pessoas normais, com sonhos, talentos e limitações como qualquer outro.

E o mercado de trabalho?

A Lei de Cotas foi um avanço, mas ainda há muitos problemas. Muitas empresas contratam pessoas com deficiência, geralmente deficiência leve, só para cumprir a lei, sem investir em nosso desenvolvimento ou criar um ambiente verdadeiramente acessível.

Queremos mais do que empregos para “bater meta”. Queremos carreiras, crescimento, respeito e oportunidades de mostrar do que somos capazes.

Os direitos são respeitados?

Infelizmente, nem sempre. Muitas vezes, precisamos lutar judicialmente para garantir o que já é nosso por lei. Isso mostra que as leis, por si só, não são suficientes. Precisamos de fiscalização e comprometimento real para que nossos direitos saiam do papel.

O futuro: o que eu espero?

Sonho com um Brasil onde não precisemos lutar tanto para sermos vistos e respeitados. Onde a pessoa seja vista antes de sua deficiência, as rampas existam, as escolas incluam, os empregos valorizem e as pessoas entendam que inclusão não é um favor, é um direito.

O 3 de dezembro é uma data de reflexão, mas também de cobrança por mudanças reais que garantam a dignidade e os direitos de todas as pessoas com deficiência no Brasil. Mas, enquanto houver luta, haverá esperança. A inclusão começa em cada gesto, em cada atitude, e só juntos podemos construir uma sociedade onde todos tenham espaço para viver plenamente.

E você, como pode fazer parte dessa mudança?

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

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