Deficiência Física

A imagem corporal de indivíduos com paraplegia não congênita: um estudo exploratório Parte 2

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ParaplegiaCaro leitor,

Dando continuidade ao artigo “A imagem corporal de indivíduos com paraplegia não congênita: um estudo exploratório” das pesquisadoras Mariana Tavares de Campos*, Hilda Rosa Capelão Avoglia** e Eda Marconi Custódio***, veja hoje a segunda parte desse texto. Para que possa entender melhor, recomendo que leia a primeira parte desse artigo.

Todavia, segundo Amiralian (1986), a representação mental que uma pessoa tem de seu corpo e suas partes é um elemento básico da formação do autoconceito, e o desenvolvimento deste também é dificultado ao sujeito divergente, tanto porque o âmbito de suas experiências é mais limitado, o que o impede de um maior conhecimento de seu próprio corpo, como também porque as percepções de sua imagem refletida no espelho são freqüentemente negadas aos indivíduos excepcionais. Ressalta que nos casos de sujeitos com perdas ocorridas posteriormente, a reformulação da auto-imagem é uma tarefa difícil. A aceitação de um corpo mutilado freqüentemente se relaciona com sentimentos de menos valia.

Para Novaes (1975), indivíduos com deficiências sensórias apresentam dificuldades em integrar seu esquema corporal, decorrendo, muitas vezes, deformações imaginadas e dificuldades de ajustamento da personalidade.

Um dos principais aspectos psicológicos a se considerar no processo de reabilitação é o da aceitação da incapacidade pelo indivíduo, pois muitas vezes ele está fixado à imagem do que era antes da doença e não consegue ajustar-se a seu novo estado físico. Muitos enfermos, mal informados sobre suas limitações físicas, vivem na ilusão de um dia tornarem a ser o que eram anteriormente, não enfrentando a realidade de sua enfermidade (NOVAES, 1975).

Neste sentido, a autora destaca a necessidade de adaptação, compreendendo- a como um processo unitário e total das funções psíquicas que se evidencia pelo esforço significativamente coerente da personalidade na determinação de sua conduta, estabelecendo uma relação adequada ao mundo no qual está inserido. Aceitar-se como deficiente implica, segundo a autora, uma confrontação com valores sociais negativos incorporados pelo indivíduo antes do advento traumático.

Sendo assim, os problemas de ajustamento dos sujeitos excepcionais não são decorrentes apenas de sua condição intrínseca, mas primordialmente, da necessidade destes indivíduos se ajustarem a uma sociedade e uma cultura organizadas para sujeitos física, intelectual, social e emocionalmente perfeitos. Isto porque através dos tempos, o excepcional vem sendo considerado de diferentes maneiras, sempre relacionadas aos valores sociais, morais, filosóficos, éticos e religiosos, isto é, relacionados ao modo pelo qual o homem é visto e considerado nas diferentes culturas (AMIRALIAN, 1986).

Segundo Novaes (1975), pode-se dizer que desajustado é o indivíduo que, por um lado, não se adaptou às exigências e limitações impostas pela realidade e, por outro, não usou meios e recursos para modificar essa realidade a fim de torná-la aceitável e passível de adaptação.

Como afirma Amiralian (1986), a própria designação do grupo como “excepcional”, “divergente”, “anormal”, em algumas características específicas, supõe que a sociedade seleciona certos atributos e normas, considerando-os desejáveis. Assim, aqueles indivíduos que fogem aos padrões estabelecidos nestas normas são considerados divergentes e tratados como tais.

O avanço real ou idealizado da ciência e da tecnologia mudou o perfil da idealização da imagem corporal. Até pouco tempo, buscava-se alcançar no futuro a perfeição mítica do passado sentimental. Hoje se imagina que a perfeição será conseguida pela perfeição física prometida pelas novas tecnologias médicas. O sujeito contemporâneo padece de um fascínio crônico
pelas possibilidades de transformação física anunciadas pelas próteses genéticas, químicas, eletrônicas ou mecânicas (COSTA, 2004).

Estas considerações nos levam a assinalar que, conforme Amiralian (1986), o aspecto fundamental e característico a todos os excepcionais é o fato de serem desviantes naquelas características valorizadas em determinada cultura, e não tanto em suas características orgânicas, sendo as respostas específicas do meio ambiente mais importante que elas.

A mesma autora ainda afirma que os indivíduos excepcionais aprendem os supostos padrões de comportamento e atitudes que devem adotar em suas relações pessoais com as pessoas “normais” e com as organizações que existem para os servir e ajudar. Raros são os indivíduos excepcionais que podem ignorar as crenças estereotipadas mantidas pelos “normais”. Na realidade, alguns passam a acreditar nestes estereótipos e os interiorizam, outros se defendem deles de diversas formas. Em ambos os casos, tais crenças constituem um fato com o qual as pessoas deficientes se confrontam.

De acordo com Fromm (1974), um indivíduo representa a raça humana. Ele é um exemplo específico da espécie humana; ele é “ele”, é “todo”; ele é um indivíduo com suas peculiaridades e, nesse sentido, sem igual, mas ao mesmo tempo representativo de todas as características da raça humana. Sua personalidade individual é determinada pelas particularidades da existência humana, comuns a todas as pessoas.

A personalidade, neste caso, é definida por Novaes (1975) como a síntese individual e dinâmica que integra experiências vitais, podendo-se considerar que atitudes de isolamento, oposição ou passividade são modalidades adaptativas decorrentes de situações de enfermidade. Ainda segundo a autora, os conflitos interpessoais traduzem-se por atitudes rígidas, distorções perceptivas, falta de comunicação e fechamento da personalidade às experiências de vida, muito comuns nos enfermos.

Diversos estudos demonstram que a percepção de como somos vistos e avaliados pelos outros se constitui em um fator fundamental do autoconceito e do comportamento. De acordo com Schilder (1980), o efeito social da percepção da deficiência pelos outros desempenha papel relevante na imagem corporal do indivíduo acentuando-se nos casos de deficiência mais perceptiva. Assim, a consideração social dos indivíduos excepcionais como diferentes, e por esta razão com comportamentos
e atitudes distintos do maioria, por este motivo inadequados, leva-os a comportamentos decorrentes deste fato (AMIRALIAN, 1986).

Continua…

*Graduada em Psicologia pela Universidade Metodista de São Paulo e mestranda em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo. E-mail: mari_tcampos@hotmail.com.

**Psicóloga, mestre em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo, doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento pela Universidade de São Paulo e docente supervisora da Faculdade de Psicologia e Fonoaudiologia da Universidade Metodista de São Paulo. Orientadora do presente estudo. E-mail: hilda.avoglia@metodista.br .

***Psicóloga, doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo, docente, supervisora da Faculdade de Psicologia e Fonoaudiologia da Universidade Metodista de São Paulo e docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Co-orientadora do presente estudo.

Veja:

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

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