Sem visão, curitibano vai do problema ao empreendedorismo
História de Superação
O curitibano Arthur Minniti nasceu com baixa visão, mas aprendeu a ler e escrever normalmente e se formou como analista de sistemas, fascinado que era em computadores. Algumas vezes os colegas faziam as anotações de aula e ele fazia cópias ampliadas para poder ler melhor. Seus pais traziam equipamentos dos Estados Unidos e da Alemanha, como lupas de aumento, para que pudesse seguir sua vida de estudante normalmente.
Em 2001, porém, o problema de Arthur se agravou com um derrame no olho e ele acabou perdendo toda a visão. Quando se viu sem conseguir ler ou usar o computador, o analista de sistemas passou um período de grande desânimo. “Parei com tudo. Fiquei desmotivado”, lembra.
Foi quando descobriu os leitores de tela, que auxiliam deficientes visuais a usar o computador, escrever textos e navegar na internet. Aquilo era tão importante para a retomada de sua vida, que Arthur começou a pesquisar cada vez mais sobre o assunto: inscreveu-se em fóruns de debate sobre o programa Jaws, seu preferido, e se tornou uma referência na internet.
“Entrava nos fóruns online para debater o programa e acabava ensinando as pessoas como mexer com o Jaws, suas funcionalidades e os benefícios em relação aos demais”, explica. De um contato a outro, Arthur conheceu o representante da Freedom, distribuidor do Jaws em Portugal. Ele indicava o sistema e o distribuidor para várias pessoas com deficiência visual e para empresas interessadas em oferecer acessibilidade.
Um dia teve a ideia de ganhar participação nas vendas e na assessoria ao sistema. Assim, há cerca de um ano criou a loja virtual Tecnovisão e se tornou um microempresário. “Estou provando para muita gente que existe mercado de trabalho para pessoas com deficiência, que existe ferramenta para auxiliar as pessoas. Mas é preciso lutar para garantir acessibilidade e vontade para superar os obstáculos, porque eles existem.”
Segundo ele, as pessoas o olham diferente com frequência. “É preconceito que ainda existe”, diz. Mas enfrentar a discriminação faz parte do processo para mudar a realidade: “há vinte anos era muito pior.”
Hoje Arthur sabe que é um exemplo. Em suas incursões a multinacionais para apresentar o Jaws ou mesmo dar treinamento para o software, ele abre portas para demais pessoas com deficiência ao mostrar eficiência e comprometimento. “Mostro que é possível se a empresa estiver disposta a oferecer equipamento necessário. A pessoa contratada certamente vai se esforçar tanto quanto uma não deficiente.”
Além de suas atividades como microempresário online, o analista de sistemas ainda guarda tempo e energia para se organizar com outras pessoas com deficiência para tornar a internet e o mundo mais acessíveis. “Estamos dialogando com empresas para que elas modifiquem seus sites com muitas imagens e os tornem acessíveis. Hoje, nós cegos não conseguimos comprar as passagens aéreas porque a configuração não permite” explica.
Arthur ainda debate com um grupo de colegas a importância da audiodescrição na programação televisiva (uma descrição das cenas em momentos de silêncio, por exemplo), defende o direito de acesso e uso de cão guia por pessoas com deficiência visual e acompanha projetos de acessibilidade em transporte público.
Fonte: Portal Terra (10/05/11)