Cadeirantes que deram a volta por cima – Parte 1
Fabiano Puhlmann, 43 anos, psicólogo e autor do livro A Revolução Sexual sobre Rodas – tetraplégico
O acidente
“Quebrei o pescoço duas vezes. No primeiro acidente, tinha 17 anos. Corri para mergulhar na piscina e escorreguei antes de saltar. Bati a cabeça no fundo e perdi os movimentos. Via o sangue saindo da cabeça e tentava me mexer, mas não conseguia. O segundo ocorreu em 2006. Lesei a medula no mesmo lugar ao cair da bicicleta.”
A recuperação
“Depois do trauma, vem a negação. A realidade é insuportável. Tão insuportável que você quer mudá-la. A esperança [de voltar a andar] é uma forma de negação. Guardei minha prancha por dois anos após o primeiro acidente, achando que voltaria a surfar. Para mim, o trauma não atingiu o corpo. Atingiu a alma.”
A volta por cima
“É possível manter um relacionamento após a lesão. Sou casado há 12 anos. A primeira coisa que eu quis fazer depois do segundo acidente foi transar. Minha mulher achou que eu estivesse doente e disse que era louco. Falei: ‘Não estou doente, não, vamos transar e é já!’ (risos). Eu queria me sentir íntimo dela de novo. Sexo é intimidade.”
Marcelo Rubens Paiva, 50 anos, jornalista e escritor – tetraplégico
O acidente
“14 de dezembro de 1979, 17 horas (…)
Pulei com a pose do Tio Patinhas, bati a cabeça no chão e foi aí que ouvi a melodia: biiiiiiin. Estava debaixo d’água, não mexia os braços nem as pernas, somente via a água barrenta e ouvia: biiiiiiin. Acabara toda a loucura, baixou o santo e me deu um estado total de lucidez: ‘Estou morrendo afogado.’” (abertura do livro Feliz Ano Velho, em que Paiva lembra o acidente que o deixou tetraplégico)
A recuperação
Todos sofriam comigo, me davam força, me ajudavam, mas era eu que estava ali deitado, e era eu que estava desejando minha própria morte. (…) Foi o que prometi a mim mesmo. ‘Se eu não voltar a andar, darei um jeito qualquer de me matar’. Era bom pensar assim. Eu não tinha medo de morrer. ” (trecho de Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva)
A volta por cima
“Acho que vivi uma depressão, e fiz terapia para superar. Mas tudo isso é distante para mim… Eu vivi 20 anos sem estar numa cadeira de rodas e 30 anos como cadeirante. Isso já é mais parte do meu físico do que andar. Eu nem me lembro de voltar a andar, nem sei o que é isso. Para mim, já faz parte da rotina pegar a minha cadeirinha e sair pela cidade.”
Veja a última parte desse texto.
Fonte: Revista Veja (04/11/09)
Vera
Sinceramente, tem horas que eu não entendo onde o ser humano guarda tanta força para superar um acidente que atenta contra as coisas mais fundamentais da nossa vida: a liberdade de ir e vir.
Mas, somos belos por isso, a gente consegue superar tudo, consegue ir adiante e transformar o que era ruim em algo novo e bom!
Meus respeitos e admiração ao Fabino, ao Marcelo e a Voce, já te disse isso antes, mas é sempre bom renovar bons sentimentos em tempos que o que se apresenta, sempre, é coisa ruim dentro da sociedade.
Abraços e estejas feliz!
Não tinha pensado sobre isso, mas é verdade, Gilberto!
Como disse o Fabiano Puhlmann, depois do acidente vem a negação, não dá para acreditar que aquilo aconteceu, ou seja, minutos atrás você não era uma pessoa com deficiência, e agora você é … a situação é muito complexa! No entanto, depois da fase de negação, você percebe que precisa continuar vivendo, pois a vida não pára, os acontecimentos continuam na “ciranda da vida”.
Depois do meu acidente, por experiência própria, fui invadida por uma força tão grande de querer superar tudo aquilo, você vai descobrindo novas formas de se adaptar a todas as situações da vida, você vai descobrindo talentos, sentimentos e capacidades que nunca poderia imaginar que teria. Cada dia você faz uma nova descoberta das suas potencialidades. É certo também, que em alguns momentos você se sente impotente diante de algo que está além da sua limitação física, mas você não pode parar e pensar sobre isso, pois isso leva você ao desânimo e nós deficientes não podemos desanimar, pelo contrário precisamos sempre nos animar e precisamos também de pessoas que nos animem.
Obrigada, por sempre me animar, meu amigo!
A respeito do livro "Feliz Ano Velho", o li quando tinha 15 anos em uma viajem,pois uma prima me indicou como passa tempo…No momento do acidente e durante minha vida iniciante de T-9 cadeirante,vivi a história do Marcelo, o qual tornei a adimirá-lo desde os meus 15 anos, hoje teho 40 e 2 anos e 9 meses de paraplégico.Comprei o livro Feliz Ano Velho e o li de novo, pois dessa vez entendi melhor o fato acontecido por Marcelo R. Paiva.Hoje passo por isso, mas dei a volta por cima.Tenho o apoio, primeiramente, de Deus, da minha esposa, meus dois filhos, pais, irmão e amigos.Já nado, dirijo, tomo banho, faço transferências, faço reabilitação no Hospital Sara.A vida continua.Não é fácil passar por isto, mas existem coisas piores.Um abraço a todos, parabéns Vera pelo teu Blog que nos faz sofrermos juntos, chorarmos juntos e vencermos juntos.Diariamente estou no deficienteciente.Juntos somos fortes.Que Deus continue nos protejendo, pois Ele tem um projeto/plano nas nossas vidas.Abraços.MARCELINO/marcelinojca@hotmail.com
Puxa, que bacana sua história de superação, Marcelino! Parabéns!
Ficou muito feliz de saber que você gostou do blog. Você tem toda razão…Sofremos, choramos e vencemos juntos! Com certeza Deus tem planos para nossas vidas.
Abraços e obrigada!
Preciso da sua ajuda!
Sou estudante de jornalismo e como trabalho final estou produzindo uma revista com enfoque em histórias de superação de pessoas com deficiência. Estou buscando o contato do Fabiano Puhlmann, caso tenha pode me passar?
Desde já agradeço
Raquel Ferreira – e-mail: rfquel@gmail.com
Olá Raquel!
Entre em contato com o pessoal do Instituto Paradigma.
Enviei um email para você.
Abraços,