Deficiente Auditivo de 55 anos, diz que sociedade não aprendeu a lidar com a diferença
Depois de perder 70% da audição em um dos ouvidos e praticamente 100% no outro, aos 30 anos Carlos Camilo Cézar mudou seu olhar em relação a pessoas com deficiência. Hoje, com 55 anos, ele pode dizer que o preconceito e a dificuldade de entrar (no caso dele, voltar) ao mercado de trabalho não são desculpas de gente “preguiçosa”, mas resultado de uma sociedade que ainda não aprendeu ainda a lidar com a diferença.
“Apenas hoje tenho consciência de como é importante a lei de cotas. Muitas empresas simplesmente não querem contratar pessoas com alguma deficiência”, afirma Cézar que, desde 2008, trabalha como analista de garantia na empresa Johnson Control.
Na infância, Cézar teve meningite. Mas apenas anos depois, aos 30 anos começou a ter infecções no ouvido que o levaram a perder paulatinamente a audição. Empregado em uma usina de açúcar e álcool no interior de São Paulo, acabou demitido por conta da quantidade de intervenções médicas que teve de fazer para tentar recuperá-la. “Fui demitido depois de dez anos trabalhando na mesma empresa, justamente quando eu mais precisava.”
Desempregado, Cézar se mudou para a capital paulista e conseguiu um primeiro emprego depois de quase um ano sem carteira assinada. Foi neste momento que ele percebeu como sua vida profissional seria diferente. Na empresa de seguros onde foi contratado, era comum as pessoas o chamarem de surdo. “Com frequência as pessoas ficavam dizendo que era pra gritar comigo ou me chamavam de surdo quando pedia para repetirem alguma coisa. Desrespeitoso”, afirmou.
Com o tempo, o profissional acabou conseguindo se colocar no mercado de trabalho em uma empresa que o respeita. “Tem empresas com uma cultura mais aberta”. A vida profissional começou a melhorar quando ele conseguiu comprar um aparelho de boa qualidade para ajudá-lo a voltar a ouvir.
Para ele, a situação das pessoas com deficiência seria muito melhor se as empresas se envolvessem com a questão da inserção no mercado de trabalho de fato, ajudando na aquisição de equipamentos e sistemas adequados e de boa qualidade. “Hoje eu não me considero um trabalhador de cota, uma pessoa com deficiência. Sou apenas um profissional como outro qualquer.”
Fonte: Portal Terra (19/07/11)
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