Filme: Uma lição de amor
Caro leitor,
A sugestão Cultural do Blog Deficiente Ciente é o filme “Uma lição de Amor”. O título original é “I am Sam”. O filme é muito comovente. Vale a pena assistir.
O comentário abaixo é do educador João Luís de Almeida Machado*. O texto foi extraído do site Planeta Educação.
Sean Penn é um dos atores mais talentosos de sua geração. Não bastasse todo o talento que possui enquanto ator, Penn é uma das personalidades mais ativas e destacadas em termos de posicionamentos políticos que ousam desafiar a ordem estabelecida, opondo-se a direcionamentos e atitudes do governo americano e, colocando em risco suas economias para bancar projetos cinematográficos nos quais acredita.
“Uma lição de amor” vem comprovar a coerência de Penn, tanto por seu talento dramático (numa atuação que lhe valeu indicação ao Oscar) quanto por sua dedicação a causas justas, com as quais se identifica.
Se nos lembrarmos que na Antiguidade Clássica, particularmente entre os romanos, era comum o sacrifício de pessoas que apresentassem deficiências físicas ou mentais, podemos dizer que a sociedade evoluiu, aprimorou-se. Se, por outro lado, imaginarmos que há várias barreiras que ainda não foram transpostas, principalmente aquelas que dizem respeito à forma como os deficientes são encarados e tratados pelas outras pessoas, percebemos que ainda há muitas mudanças a serem implementadas.
O personagem Sam (interpretado de forma tocante por Sean Penn) vive dentro de condições que poderíamos considerar como adequadas no contexto atual, no que tange a uma pessoa deficiente que possui a idade mental equivalente a de uma criança de 7 anos de idade. Tem seu próprio apartamento, está empregado em uma lanchonete onde atua como garçom, recebe seus amigos para assistir vídeos clássicos e cuida de sua filhinha…
É justamente nesse ponto que as autoridades resolvem interferir, partindo do princípio de que Sam (Penn) seria incapaz de resolver os problemas e criar adequadamente a menina, especialmente a partir do momento em que ela ultrapassasse a capacidade mental do pai (o que ela estava prestes a fazer). A assistência social resolve tirar-lhe a guarda da criança e privar-lhe do direito de pleno exercício da paternidade respaldando-se na tese de que Sam é deficiente mental.
O filme nos coloca diante de uma situação singular, onde percebemos com clareza as impossibilidades de Sam e, ao mesmo tempo, vivenciamos através das imagens uma experiência única de paternidade, pautada numa relação carregada de emoção e presença, de participação e doação por parte do pai em relação à filha.
Some-se a tudo isso, a frieza do sistema judiciário norte-americano, onde a justiça despreza pormenores que podem ser decisivos para a solução de um caso traumático de separação entre pai e filha e temos uma idéia da trama do filme. Observem também que o contraponto da experiência vivida por Sam pode ser visto na figura de sua advogada de defesa, Rita Harrison (Michelle Pfeiffer), uma linda e bem sucedida profissional que mal tem tempo para ouvir o que seu filho tem a lhe dizer…
O filme
Sam Dawson (Sean Penn) ajeita nervosamente os saquinhos de adoçante e procura colocá-los em ordem. Todos têm que estar com o rótulo numa determinada direção e, com as palavras em posição que permita que sejam lidas. Essa sua disposição por ordem e arrumação não consegue fazer com que deixemos de perceber que Sam é uma pessoa que apresenta deficiências, visíveis a partir de seus tiques, de sua movimentação e de sua exasperação.
Em seu ambiente de trabalho conseguiu cativar aos colegas e, em sua vida particular, vive rodeado de amigos que, como ele, também apresentam dificuldades advindas de impossibilidades mentais.
Um acontecimento diferenciado, no entanto, marca a vida de Sam para sempre. Ao abrigar uma mulher sem-teto, acaba fazendo com que ela engravide. Cumprido o período de gestação, Sam sai do hospital acompanhado da mãe e com o bebê no colo. A mãe foge e abandona Sam e a recém-nascida. Inicia-se dessa forma uma relação totalmente diferenciada de paternidade.
Sam acolhe e cuida da criança com o auxílio de uma vizinha reclusa (vivida pela experiente Dianne Wiest). Alguns anos passam e a pequena Lucy Diamond Dawson (Dakota Fanning) se torna uma menina esperta e saudável, próxima de completar 7 anos de idade.
Quando a assistência social descobre que Sam (possuidor de idade mental equivalente a de uma criança de 7 anos) está criando a pequena Lucy, inicia-se uma luta judicial pelos direitos de criação e educação da menina. Lucy passa aos cuidados do juizado e, Sam tem que provar, com o auxílio de sua advogada Rita Harrison (Michelle Pfeiffer) que é plenamente capaz de amar e criar Lucy.
Prepare suas emoções! E não esqueça de deixar uma caixa de lenços do lado da poltrona…
Aos professores
1- Provoque a sensibilidade de seus alunos. Pergunte a eles como reagem quando em contato com pessoas que apresentam deficiências físicas ou mentais. Estimule-os a não agir movidos por um sentimento de piedade e, sim, a pensar essa relação como uma oportunidade de crescer, de auxiliar, de aprender e de desenvolver um sentimento verdadeiro de solidariedade. Os estudantes têm que entender que devem ajudar as pessoas deficientes a construir uma auto-estima positiva e de valorização pessoal e não de misericórdia e compaixão (lástima).
2- Há “uma lição de amor” no filme dada por Sam aos pais e mães que tanto se preocupam com a manutenção material de seus filhos e deixam de lado a afeição, a proximidade e a atenção que as crianças pedem, praticamente demandam e necessitam cotidianamente de seus pais. Temos prestado muito pouca atenção a isso e, as conseqüências futuras desse descaso podem ser percebidas e interpretadas a partir de atos de violência, apego às drogas, dificuldades de socialização, desinteresse pelos estudos e tantas outras situações. É preferível antecipar-se a problemas como esses a ter que remediá-los posteriormente!
3- Como o judiciário brasileiro reagiria diante de uma situação como essa? O filme pode servir como fio condutor de uma pesquisa de campo, com entrevistas a juízes, promotores e advogados ou ainda, consulta a códigos legais relativos a questão de família. Pode-se ainda questionar até que ponto nossos valores e orientações de base cristã católica nos levariam a agir de outra maneira no que se refere à situação apresentada no filme.
4- Traçar um paralelo entre os personagens de Sam (Sean Penn) e Rita Harrison (Michelle Pfeiffer) nos leva a pensar a respeito do caos que se instaura em nossas vidas em virtude do ritmo acelerado e do excesso de compromissos com os quais estamos envolvidos. Deixamos de lado nossa inocência e nossa meninice para assumirmos responsabilidades, em algum trecho desse caminho acabamos perdendo o rumo e deixamos de sorrir, de nos sensibilizar, de amar com intensidade, de nos divertir…
Obs.: A trilha sonora do filme é recheada de sucessos inesquecíveis dos Beatles, que serviram de inspiração para a vida do personagem Sam e o estimularam a dar o nome Lucy Diamond a sua filha (título de uma das mais famosas canções do mais conhecido grupo de rock de todos os tempos, “Lucy in the Sky with Diamonds”, que serviria de mensagem cifrada para LSD, ou seja, ácido lisérgico, droga das mais pesadas, utilizada com certa freqüência durante os anos 1960 e 1970).
Ficha Técnica
Filme: Uma lição de amor (I am Sam)
País/Ano de produção:- EUA, 2001
Duração/Gênero:- 133 min., Drama
Disponível em VHS e DVD
Direção de Jessie Nelson
Roteiro de Jessie Nelson e Kristine Johnson
Elenco:- Sean Penn, Michelle Pfeiffer, Dianne Wiest,
Laura Dern, Dakota Fanning, Joseph Rosenberg, Brad Silverman.
Veja o trailer do filme:
*Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro “Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema” (Editora Intersubjetiva).
Ótimas todas as postagens!
Bjs.
Obrigada, querida Fátima!
Daqui a pouco estarei visitando o o encanto do blog "Viver é afinar o Instrumento".
Beijos!
Vera
Vera, você me inspirou a pensar mais a respeito sobre o deficiente. Sempre percebi sobre o PRÉ-CONCEITO velado que as pessoas tem aos deficientes, mais depois da sua postagem consigo entender ainda mais sobre os obstaculos que todos os deficientes passam dia a dia e como SOMENTE NÓS poderemos vencer. Você é demais. Um Abraço do Nordeste.
Vale lembrar que a música Lucy in the sky with diamonds tem outra explicação de sua origem. Seria interessante pesquisar.