Jornalistas da Revista ISTO É confundem deficiência com doença
Caro leitor,
Muitos jornalistas continuam usando termos incorretos e cometem equívocos sérios em relação à terminologia correta para uso na abordagem de assunto sobre deficiência. A consequência disso é que continuam reforçando os tradicionais estigmas e preconceitos que envolvem esse assunto.
Termos como “portadores de necessidades especiais”, “pessoa presa (confinada, condenada) a uma cadeira de rodas”, já abolidos pela Convenção da ONU desde 2008 e pela legislação brasileira, continuam sendo usados constantemente pela grande mídia.
Em maio do ano passado, uma jornalista da Revista Isto É, numa matéria intitulada a “Moda está em baixa” afirmou o seguinte:
“Inovação e criatividade são, na maioria dos casos, parte da receita do sucesso de um novo negócio. A estilista paulista Carina Casuscelli e sua marca de roupas “A moda está em Baixa” é prova disso. Depois de passar anos customizando trajes para duas amigas portadoras de nanismo, ela resolveu lançar modelos próprios. Em 2010 fez o primeiro desfile e agora está planejando um segundo lançamento de tendências. Carina disse que enfrenta muito preconceito no mercado, mas um de seus maiores problemas para alavancar o negócio é a falta de dados sobre o nanismo no Brasil. Estima-se que um bebê a cada seis mil recém-nascidos seja portador da doença.”
Em pleno século XXI, com acesso a fontes inesgotáveis de informações, jornalistas de uma revista tão conceituada como a Isto É acreditam que deficiência é sinônimo de doença. Nanismo nunca foi uma doença, ou melhor, nenhuma deficiência é doença. Nanismo, para aqueles que não sabem, é um indivíduo em que a altura é muito menor que a média de todos os sujeitos que pertencem à mesma população. São pessoas que trabalham, estudam, namoram, pagam impostos como todas as outras pessoas que tem ou não uma deficiência. Portanto, nanismo não é e nunca foi uma doença. Perdoem-me a redundância, mas é preciso deixar isso bem claro.
De acordo com o artigo Mídia e Deficiência, o Secretário Executivo da ANDI Veet Vivarta, afirma que “ao confundir deficiência com doença, a mídia comumente reforça a ideia precipitada de que o primeiro passo para inserir uma pessoa com deficiência na sociedade é curá-la, quase “normalizá-la”… Muito comum, na mídia, é a veiculação de campanhas publicitárias que expressam claramente o quanto ainda persiste no imaginário da sociedade o impulso de escamotear a Deficiência, como se ela fosse ilegítima, e devesse ser combatida como se faz com uma doença”. Infelizmente isso é sutilmente veiculado pelos meios de comunicação. Vejo isso como injustiça e discriminação.
A meu ver é urgentemente necessário capacitar jornalistas, em nível nacional, a fim de que estes se atualizem e tomem conhecimento do universo da deficiência. Além de entender que uma deficiência não é o mesmo que estar doente, os jornalistas também precisam compreender que o enfoque da notícia não deve envolver pessoas com deficiência numa posição de vítima, com ênfase na impotência e dependência. Assim como devem evitar a ideia de que só a pessoa com deficiência tem perfil de herói, capaz de superar brilhantemente suas limitações. Erros como esses devem ser evitados, pois só assim a mídia contribuirá para a qualidade do processo de inserção das pessoas com deficiência em nossa sociedade.
Vera Garcia
Revista Isto É, matéria publicada: http://www.istoe.com.br/assuntos/semana/detalhe/135186_ESTILISTA+LANCA+COLECAO+PARA+ANASm
Veja:
É por essas e por outras que de vez em quando a gente ouve alguém falar que ” preferia morrer a ter que viver o resto da vida numa cadeira de rodas” Grande abraço.
Será que é por isso mesmo? Ou por causa de problemas como a falta de acessibilidade e a maior suscetibilidade a doenças como infecções urinárias??? Mais do que informação para o povão, faltam recursos técnicos para diminuir as restrições à mobilidade…
Convenhamos, se ter uma deficiência fosse uma vantagem começaria por não se chamar “deficiência”, e teria muita gente se mutilando intencionalmente para ficar com uma deficiência…
Alguém sabe, se a revista na edição seguinte, publicou alguma nota, para corrigir esse fato?
Pena que alguns colegas de profissão confundem os fatos.
Realmente é vergonhoso ver uma matéria de uma revista tão “qualificada” como a referida, falar uma asneira desta….Nós estamos na luta na tentativa também de erradicar ou ao menos diminuir o preconceito ou termos pejorativos e errôneos relacionados a pessoas com deficiência e de repente um jornalista possuidor de uma das maiores armas de divulgação e disseminação de um assunto, A MÍDIA, no caso uma revista nacional, joga um balde de água nas nossas conquistas…Penso, que se a matéria é sobre determinado assunto, deve ser revisado por alguém que entenda sobre…
#ficaadica
http://www.inclusaotambememoda.blogspot.com
Realmente eu fico indginada , com matérias assim, primeiro que eles nem pesquisam para saber o que é a deficiência em pauta , segundo por ser uma revista conceituada realmente com disse a Mamary Lopes , com uma matéria assim , o preconceito de empresários, enfim do mercado que vivemos não vai acabar nunca e sim aumentar, e a visão das outras pessoas sobre deficiênte vai ser pior ainda. Daniel ser ou ter, não é vantagem e nem desvantagem somos o que somos e ponto. temos que ter respeito para com o próximo independente de raça, cor, ou credo, vc Daniel dizendo assim também está concordando com o que a revista publicou e é também um preconceituoso escrevendo dessa maneira.
NANISMO NÃO É DOENÇA ….
E EU NÃO AUTORIZEI ESSA MATÉRIA…
MAIS UMA VEZ OBRIGADA VERA.
Por nada, Pri. Conte comigo sempre.
Conheço o Daniel há algum tempo. Ele tem uma grande participação no blog e é um grande defensor da causa.
Acredito que ele quis dizer que pior que usar um termo incorreto, é uma pessoa com deficiência enfrentar diariamente a inacessibilidade nas cidades.
Além da acessibilidade, a meu ver, o uso da terminologia correta também é importantíssima, uma vez que desencoraja práticas discriminatórias. Em relação a revista Isto É, esse fato é indesculpável!
Beijos,
Priscila, o meu próprio pai tem uma deficiência física em decorrência de um acidente de moto. Não faz uso de cadeira de rodas, muletas, próteses ou órteses, mas tem uns problemas vasculares nas pernas Convivendo a vida inteira com uma pessoa com deficiência eu sei que não é fácil, tanto no aspecto da acessibilidade e de serviços de saúde quanto do preconceito. E como a Vera destacou, a meu ver o que complica mais vem sendo a inacessibilidade e a omissão do Sistema Único de Saúde com algumas demandas mais específicas para atender melhor a alguns problemas que normalmente acabam afetando mais facilmente em função do grau de alguma deficiência, e a nova terminologia infelizmente não muda essa realidade. A propósito: se utilizaram a tua imagem indevidamente nessa matéria, eu te sugiro que procure um advogado e entre com um processo (aproveita e pede direito de resposta para explicar melhor sobre o nanismo, se for o caso)…
Daniel, tem como explicar melhor o seu ponto de vista?
Antes de me preocupar com a nova terminologia ou a ignorância dos profissionais de imprensa e do povão, eu considero prioritária a acessibilidade e a capacitação do SUS para atender a alguns problemas de saúde que acabam sendo mais severas em função de alguma deficiência…
A base de tudo é a informação. Lamentável como algumas pessoas não fazem pesquisa sobre o assunto antes de escreverem suas matérias.
São trinta anos de luta pela inclusão que na frente de uma matéria dessas parece que não conquistamos nada. Sou uma pessoa saudável, forte, que enfrenta as dificuldades da vida em cima de uma cadeira de rodas. Não sou doente, assim como outras pessoas com deficiência não são. O fato chocante nesse história toda, estamos falando de uma matéria de maio de 2011. Já estamos em dezembro e sem esse post o assunto não seria debatido e posso apostar que não fizeram nenhuma retratação em edições posteriores ao assunto. Isso é uma vergonha para uma revista com a referida e prova que os profissionais deles não estão qualificados para escreverem sobre o assunto. Acho que esses jornalistas precisam aprender um pouco sobre inclusão e fazer um breve estágio com o `malacabado’ do Jairo Marques. Pelo menos ter uma forma alternativa de escrever que seja com humor e conhecimento de causa.
Daniel, tudo tem prioridade. Cada pessoa tem que fazer o seu melhor para um bem coletivo. Com saúde realmente não se pode perde tempo. Um segundo pode salvar vidas, temos que batalhar juntos para não deixar que politicos fiquem no poder de braços cruzados.A saúde no Brasil é uma vergonha. Esse post e para ver que alguns colegas de profissão, eu sou uma quase jornalista, confundem os fatos e leva para população a informação de forma distórcida. Educação se faz com informação. Com essa nota na resvista, gerou outros pontos que precisam ser tratados com prioridade também. Na politica temos: ministério da educação, ministério do trabalho, ministério da saúde…, que na verdade acho que podemos escrever como “mistério” afinal muitos assuntos ficam sem solução é não sabemos o real motivo. Falar que é falta de dinheiro, isso não dá para aceitar, afinal todos os dias no Brasil impostos surgem e os que já existem aumentam. Tudo tem prioridades, por isso existe cada setor separado, para nada ficar sem as devidas prioridades. Compreendi o seu ponto de vista, só que aqui, nesse post, a prioridade é a informação.
Daniel, sou Priscila Menuci, antes de qualquer termo politicamente correto. Depois disso se querem me chamar de pequena, anã, baixa estatura, pessoa com deficiência, não ligo. Não quero ser alvo de piada como salva vidas de aquario, pintora de rodapé, entre outros termos que não tem a menor graça. Agora, uma nota em uma revista, conceituada, chamando nanismo de doença, com a minha imagem do lado, isso tem prioridade em ser corrigido. Sou atriz e modelo. Qual empresário vai querer contratar alguém doente? Nenhum. Sem trabalho como vou dar prioridades a outros assuntos, como saúde, educação dos meus filhos? Tudo tem o seu tempo é hora para debater. Não adianta em um post que levanta o problema da falta de profissionalismo, discutir o problema sério que o SUS enfrenta. Vamos procurar unir forças e lutar por melhorias em todos os sentidos. Aqui, nesse post, a luta e levar informação e provar que deficiência não é uma doença.
Entendo a tua preocupação, Priscila. E reforço o que eu disse: processa por uso indevido da tua imagem, aproveita e já pede um direito de resposta para esclarecer essa questão do nanismo ter sido exposto equivocadamente como doença….
Daniel, essa parte já esta em andamento, juntamente com minha assessoria. Não vejo a deficiência como doença. O nanismo serviu de exemplo para essa nota, só que a briga é para todos. Não podemos aceitar injustiças e matérias que não correspondem com a verdade.
Pois é, Priscila, realmente não pode dar moleza nem dar brecha para perpetuar a ignorância (que acaba fomentando a exclusão). Me impressiona que com tantos recursos disponíveis para se obter informação ainda tenha quem se dê por satisfeito com a mediocridade. Ontem eu fui na loja Pernambucanas em Florianópolis, e ao ver que a plataforma elevatória para cadeiras de rodas estava obstruída dos 2 lados por uma “arara” e um cesto metálico imenso fui reclamar com um funcionário, e o sujeito tentando procurar justificativas para o injustificável…