Stephen Hawking, gênio com humor, completa 70 anos de idade
É quase um milagre o físico e cosmólogo britânico ter chegado a uma idade tão avançada: vitória do espírito sobre a limitação do corpo. Gênio inovador, Hawking contribui para tornar a ciência acessível ao público.
O físico e cosmólogo britânico Stephen Hawking festejou no dia 8 de janeiro seu 70º aniversário. Isto já é bem mais do que haviam predito seus médicos. Sua carreira de pesquisador tomou impulso a partir um golpe do destino: aos 20 anos, logo quando começava a escrever sua tese de doutorado, ele apresentou os primeiros sintomas de uma doença fatal da medula, a esclerose lateral amiotrófica (ELA).
Em breve, Hawking estaria confinado à cadeira de rodas e perderia a voz, tendo que deixar que uma máquina falasse por si. Apesar de sua deficiência, Hawking conseguiu levar a vida, tanto privada – com dois casamentos e três filhos – quanto profissional.
Ele próprio relata que, como estudante, fora talentoso, porém preguiçoso. Somente a partir da eclosão da doença ele passou a se concentrar inteiramente na pesquisa. Em 1979 tornou-se professor na Universidade de Cambridge, ocupando a mesma cátedra que, um dia, foi do legendário Isaac Newton.
Fascínio dos buracos negros
Em Cambridge, Hawking desenvolveu suas contribuições mais importantes para a física. Tomando como ponto de partida a Teoria Geral da Relatividade, de Albert Einstein, ele provou que o Big Bang teria principiado 14 bilhões de anos atrás, com uma assim chamada “singularidade”: um ponto inimaginavelmente pequeno, impossível de descrever com as fórmulas e leis hoje disponíveis.
Contudo, o tema preferido de Stephen Hawking são os buracos negros, monstros galácticos que, devido a sua imensa massa, engolem tudo o que se aproxima. Sua conclusão mais importante é que os buracos negros não existem eternamente. Eles se dissolvem lentamente, pois liberam uma forma de radiação.
Essa “radiação Hawking” ainda não foi comprovada – razão por que o cientista até hoje não foi agraciado com um Prêmio Nobel da Física. “Seria possível medir a radiação que emana dos buracos negros, mas infelizmente parece haver nenhum na nossa região”, comenta o cientista britânico. Apesar da falta de provas, a maioria dos cientistas está solidamente convencida da existência da radiação Hawking.
Tão grande quanto Einstein?
Bruce Allen, diretor do Instituto Max Planck de Física Gravitacional e antigo aluno de Hawking, comenta a conquista teórica: “É um desses resultados que permanecerão daqui a séculos, e isso não acontece com muita frequência”.
Mas seria Stephen Hawking realmente um segundo Einstein, como pretendem muitos? Não, replica um bom número de seus colegas. “As contribuições de Hawking são seguramente menos significativas do que as de Einstein”, avalia o professor de Física Klaus Fredenhagen, de Hamburgo. “Com a Teoria da Relatividade, Einstein desenvolveu algo totalmente novo, que antes não existia”, afirma. Hawking, por sua vez, atuou predominantemente no âmbito das teorias existentes, ampliando-as de forma importante.
Porém uma coisa é certa: Hawking consegue, como ninguém, tornar a cosmologia palatável para um público amplo. Em 1988 ele publicou Uma breve história do tempo, que se tornou o livro de ciência popular mais vendido do mundo, apesar da complexidade da matéria. Mais tarde o cientista escreveu uma série de livros infantis junto com a filha Lucy.
No geral, o físico britânico sabe se vender bem. Num episódio da série de ficção científica Jornada nas Estrelas, ele enfrenta Albert Einstein e Isaac Newton numa partida de pôquer – e ganha deles. E em abril de 2007, realiza seu maior desejo: participar de um voo parabólico da Nasa e assim experimentar a ausência total de gravidade. As imagens do gênio flutuante atravessaram o mundo: “Espaço sideral, estou chegando”, comemorava após o voo.
Gênio com humor
É quase um milagre da medicina Hawking ser capaz de enfrentar aventuras desse porte, apesar da idade avançada. “Eu o conheço desde 1980 e nunca teria pensado que Stephen iria viver tanto tempo!”, confessa Bruce Allen.
Seus colegas o definem como um cientista “intenso”. Ainda jovem, ele não conseguia mais anotar suas fórmulas no papel ou no quadro, como costumam fazer os físicos. Então, em vez disso, ele desenvolvia de cabeça os cálculos altamente complexos, numa impressionante façanha de concentração.
“Ele é extremamente amigável e aberto, apesar de ser tão célebre”, comenta Fay Dowker, cujo doutorado foi orientado por Hawking, e que hoje é física do Imperial College London. “E ele adora fazer piadas!”. Certa vez, no verão, Dowker apareceu no instituto com um novo penteado, de crânio totalmente raspado. “Hawking simplesmente riu para mim e perguntou: ‘Fay, por que você foi brigar com um cortador de grama?'”
Veja: