Educação Inclusiva: Somos e podemos mais do que o Governo!
Caro leitor,
A matéria abaixo foi extraída do blog do amigo, psicólogo e escritor Emilio Figueira.
Esta semana, convidado pelo professor e psicólogo David Sérgio Hornbras, estive pela segunda vez na Universidade Braz Cubas, Mogi das Cruzes, ministrando uma Aula Inaugural para alunos do curso de Psicologia que estão ingressando ou já fizeram a disciplina “Psicologia e Deficiência”. O auditório vip estava cheio. Foi um encontro bem gratificante, muitas perguntas deles, depoimentos, muitas trocas.
Por algumas vezes o pessoal tocou na questão de que muito pouco tem sido feito por parte do Governo. E isso me incomodou ainda mais nesta semana quando li em um grande jornal que o Governo tucano de São Paulo é um dos piores do país para a Educação Inclusiva. Surpresa? Não para mim…
Pegando uma carona nessas observações, vejo que ainda temos muito da cultura paternalista de esperar que tudo venha de cima, já pronto tanto no sentido de leis como de investimentos e recursos. Como se tudo pudesse acontecer de maneira mágica por meio de decreto-lei ou simplesmente tendo recursos financeiros, por exemplo. Mas gente, o Governo representa 10% da população. Nós somos os outros 90%. Se quisermos, nós mudamos o mundo!
Psicólogo com paralisia cerebral defende inclusão escolar
Mitos e preconceitos em torno do aluno com deficiência na escola regular e na escola especial
E com a Educação Inclusiva não é diferente. Defendo que ela só terá sucesso se for realizada de baixo para cima, das bases e com o envolvimento de todos. Creio que um dos caminhos mais certos para a Educação Inclusiva seja a afetividade, o coração. O professor que se despir de seus conceitos e preconceitos, abrir os braços e receber alunos a ser incluídos, trará um novo universo para dentro do seu universo. E um universo precisa de tempo para ser conhecido, ser explorado sem medos e ansiedades. E as descobertas, se não recalcadas, trarão muito mais coisas positivas. Medos, inseguranças e temores são coisas para fracos, não para pessoas de coragens que já demonstram isso ao escolherem a carreira de professor no Brasil!
Posso endossar o que estou dizendo com um relato que tive nesse encontro. Uma aluna de psicologia que trabalha como professora na Rede Municipal de Mogi das Cruzes, relatou-nos que em sua escola há três alunos, entre síndrome de Down e deficiência intelectual salvo engano, sendo incluídos. E com o tempo ela passou a notar um potencial muito grande em certas áreas do desenvolvimento deles. Vejam que sensibilidade linda, que não está em nenhum manual de regras pedagógicas, teve essa professora. Ela não trouxe para discussão as dificuldades ou impedimentos que poderia ter encontrado ao lidar com a inclusão escolar desses alunos.
Ela foi sensível ao ponto de preferir destacar o positivo. E eu lhe disse (não sei se ela compreendeu a minha dicção, mas se não, ela lerá agora, pois ficou minha amiga!), que se no processo pedagógico essas potencialidades forem focadas e trabalhadas corretamente, eles terão um desenvolvimento muito além das nossas expectativas que serão motivos de orgulho para essa e outras professoras que educam esses três alunos. Pode até ser que não tenham o mesmo nível de aprendizagem dos demais alunos, se desenvolverão em outras áreas de aptidões e cognições. Mas também por que todos precisam se desenvolver e aprender só as mesmas coisas, não é mesmo?
AEducação Inclusiva é um processo pedagógico, mas se puder contar com a afetividade de todos os envolvidos, ajudará muito. Fundamental para o seu sucesso não será apenas jogar essa responsabilidade nas costas dos professores. Todos, os diretores, os inspetores, os atendentes, o pessoal da cantina, da limpeza, da manutenção, os demais alunos, as famílias e comunidade em geral estejam envolvidos no mesmo objetivo. E se tiver afetividade, melhor!
Professores com alunos em processo de inclusão, se necessário, poderão receber apoio e auxiliares na sala de aula. Esses educadores precisarão de treinamentos constantes. A escola receber de tempos em tempos, a visita dos professores itinerantes e/ou outros especialistas no assunto para avaliar como anda o processo, passar instruções, tirar dúvidas, dar treinamentos.
Enfim, o que quero dizer com tudo isso, é que o professor dentro de uma Sala de Aula Inclusiva é o personagem direto da Inclusão Escolar; mas por trás dele, deverá estar todo um arsenal de apoio material e humano. O trabalho em equipe entre os profissionais de uma escola pode contribuir, e muito, para uma convivência harmoniosa, construída coletivamente, que certamente irá refletir na relação educador/educando e no processo de ensino e de aprendizagem.
Qualquer escola precisa estar preparada para receber alunos inclusivos. Mas há uma grande necessidade, principalmente por parte dos pais. A importância de se atentar às necessidades específicas de cada criança, terapias e acompanhamentos especializados, o desenvolvimento global de alunos incluídos como os aspectos psicológicos que precisam ser observados, valorização dos pontos positivos de uma deficiência, possibilidades de uma criança se desenvolver em outras áreas que não sejam impostas pelos padrões culturais. Entrando no campo pedagógico, há a importância de uma parceira em tripé: Escola, Família e Sociedade!
Mas então devemos deixar o Governo de lado? Claro que não. Devemos exigir maiores investimentos, verbas, adaptações físicas e de recursos para as escolas. Treinamentos e constantes reciclagens para o pessoal da Educação. Digo exigir, porque temos outra velha visão cultural que o Governo é um “ser superior” que não podemos alcançá-lo. Esquecemos que quem os coloca lá somos nós com o nosso voto. Que o dinheiro que é negado para a melhoria da Educação e outros setores é nosso, provém dos impostos pagos. Precisamos unir a nossa parte de 90%, deixar de sermos cordeirinho e nos unirmos numa sociedade politicamente articulada, impondo-nos e deixando claro o que queremos para melhorar tanto a Educação Inclusiva como qualquer outro setor que nos é de fato e de direito.
Deixarmos de reclamar, culpar o Governo por tudo, justificando mesmo que de forma inconsciente a nossa inércia, ou ficar passando o chapéu atrás de migalhas. Mas sim temos que criar uma nova cultura: A de quem manda, é quem paga a conta. Pois os governos executivos e legislativos nada mais são do que funcionários do povo. E pagamos muito caro por isto. Aliás, temos uma das maiores cargas tributárias do mundo. E disso, eu não tenho o mínimo orgulho!!!