12 dicas para ensinar a seus filhos sobre crianças com deficiência
A matéria abaixo foi extraída do site Inclusive – Inclusão e Cidadania. O texto foi traduzido por Andréa Werner, do blog “Lagarta Vira Pupa”. O título original traduzido é “O que ensinar a seus filhos sobre crianças especiais”.
Por Ellen Seidman, do blog “Love That Max“
Eu cresci sem conhecer nenhuma outra criança com deficiência além do Adam, um visitante frequente do resort ao qual nossas famílias iam todos os verões. Ele tinha deficiência cognitiva. As crianças zombavam dele. Fico envergonhada de admitir que eu zombei também; meus pais não faziam idéia. Eles eram pais maravilhosos, mas nunca pensaram em ter uma conversa comigo sobre crianças com necessidades especiais.
E, então, eu tive meu filho Max; ele teve um AVC no nascimento que levou à paralisia cerebral. De repente, eu tinha uma criança para quem outras crianças olhavam e cochichavam a respeito. E eu desejei tanto que seus pais falassem com elas sobre crianças com necessidades especiais.
Já que ninguém recebe um “manual de instruções da paternidade”, algumas vezes, pais e mães não sabem muito o que dizer. Eu entendo totalmente; se eu não tivesse um filho especial, eu também me sentiria meio perdida. Então, eu procurei mães de crianças com autismo, paralisia cerebral, síndrome de down e doenças genéticas para ouvir o que elas gostariam que os pais ensinassem a seus filhos sobre os nossos filhos. Considere como um guia, não a bíblia!
1- Pra começar, não tenha pena de mim
“Sim, algumas vezes, eu tenho um monte de coisas pra lidar — mas o que eu não tenho é uma tragédia. Meu filho é um menino brilhante, engraçado e incrível que me traz muita alegria e que me enlouquece às vezes. Você sabe, como qualquer criança. Se você tiver pena de mim, seu filho vai ter também. Aja como você agiria perto de qualquer outro pai ou mãe. Aja como você agiria perto de qualquer criança.”
2- Ensine seus filhos a não sentir pena dos nossos
“Quando a Darsie vê crianças (e adultos!) olhando e encarando, ela fica incomodada. Minha filha não se sente mal por ser quem ela é. Ela não se importa com o aparelho em seu pé. Ela não tem autopiedade. Ela é uma ótima garota que ama tudo, de cavalos a livros. Ela é uma criança que quer ser tratada como qualquer outra criança—independente dela mancar. Nossa família celebra as diferenças ao invés de lamentá-las, então nós te convidamos a fazer o mesmo.”
3- Use o que eles tem em comum
“Vai chegar uma hora em que o seu filhinho vai começar a te fazer perguntas sobre por que a cor de uma pessoa é aquela, ou por que aquele homem é tão grande, ou aquela moça é tão pequena. Quando você estiver explicando a ele que todas as pessoas são diferentes e que nós não somos todos feitos do mesmo jeito, mencione pessoas com deficiências também. Mas tenha o cuidado de falar sobre as similaridades também—que uma criança na cadeira de rodas também gosta de ouvir música, e ver TV, e de se divertir, e de fazer amigos. Ensine aos seus filhos que as crianças com deficiências são mais parecidas com eles do que são diferentes.”( Michelle, mãe da Kayla, que tem Síndrome de Down)
4- Ensine as crianças a entender que há várias formas de se expressar
“Meu filho Bejjamin faz barulhos altos e bem agudos quando ele está animado. Algumas vezes, ele pula pra cima e pra baixo e sacode os braços também. Diga aos seus filhos que a razão pela qual crianças autistas ou com outras necessidades especiais fazem isso é porque elas tem dificuldades pra falar, e é assim que elas se expressam quando estão felizes, frustradas ou, algumas vezes, até mesmo por alguma coisa que estão sentindo em seus corpos. Quando Benjamim faz barulhos, isso pode chamar a atenção, especialmente se estamos em um restaurante ou cinema. Então, é importante saber que ele não pode, sempre, evitar isso. E que isso é, normalmente, um sinal de que ele está se divertindo”(Jana Banin, mãe de Benjamin, que é autista).
5- Saiba que fazer amizade com uma criança especial é bom para as duas crianças
“Em 2000, quando meu filho foi diagnosticado com autismo, eu tive muita dificuldade em arrumar amiguinhos para brincar com ele. Vários pais se assustaram, a maior parte por medo e desconhecimento. Fiquei sabendo que uma mãe tinha medo do autismo do meu filho ser “contagioso”. Ui. Treze anos mais tarde, sou tão abençoada por ter por perto várias famílias que acolheram meu filho de uma forma que foi tão benéfica para o seu desenvolvimento social. Fico arrepiada de pensar nisso. A melhor coisa que já ouvi de uma mãe foi o quanto a amizade com o meu filho foi importante para o filho dela! Que a sua proximidade com o RJ fez dele uma pessoa melhor! Foi uma coisa tão bonita de se dizer. Quando tivemos o diagnóstico, ouvimos que ele nunca teria amigos. Os amigos que ele tem, agora, adorariam discordar. Foram os pais deles que facilitaram essa amizade e, por isso, serei eternamente grata” (Holly Robinson Peete, mãe do RJ, que é autista).
6- Encoraje seu filho a dizer “oi”
“Se você pegar seu filho olhando pro meu, não fique chateada — você só deve se preocupar se ele estiver sendo rude, mas crianças costumar reparar umas nas outras. Sim, apontar, obviamente, não é super educado, e se seu filho apontar para uma criança com necessidades especiais, você deve dizer a ele que isso é indelicado. Mas quando você vir seu filho olhando para o meu, diga a ele que a melhor coisa a fazer é sorrir pra ele ou dizer “oi”. Se você quiser ir mais fundo no assunto, diga a ele que crianças com necessidades especiais nem sempre respondem da forma como a gente espera, mas, ainda assim, é importante tratá-las como tratamos as outras pessoas” (Katy Monot, mãe do Charlie, que tem paralisia cerebral).
7- Encoraje as crianças a continuar falando
“As crianças sempre se perguntam se o Norrin pode falar, especialmente quando ele faz seu “barulhinho alto corriqueiro”. Explique ao seu filho que é normal se aproximar de outra criança que soa um pouco diferente. Algumas crianças podem não conseguir responder tão rápido, mas isso não significa que elas não tem nada a dizer. Peça ao seu filho para pensar no seu filme favorito, lugar ou livro—há grandes chances da outra criança gostar disso também. E a única forma dele descobrir isso é perguntando, da mesma forma que faria com qualquer outra criança.”
8- Dê explicações simples
“Algumas vezes, eu penso que nós, pais, tendemos a complicar as coisas. Usando alguma coisa que seus filhos já conhecem, algo que faça sentido pra eles, você faz com que a “necessidade especial” se torne algo pessoal e fácil de entender. Eu captei isso uns anos atrás, quando meu priminho me perguntou “por que o William se comunicava de forma tão diferente dele e de seus irmãos”. Quando eu respondi que ele simplesmente nasceu assim, a resposta dele pegou no ponto: “Ah, assim como eu nasci com alergias”. Ele sabia como era viver com algo que se tem e gerenciar isso para viver diariamente. Se eu tivesse dito a ele que os músculos da boca de William tem dificuldade em formar palavras, o conceito teria se perdido na cabeça dele. Mas alergia fazia sentido pra ele. Simplicidade é a chave” (Kimberly Easterling, mãe do William e da Mary, ambos com Síndrome de Down).
9- Ensine respeito às crianças com seus próprios atos
“Crianças aprendem mais com suas ações que com suas palavras. Diga “oi” para a minha filha. Não tenha medo ou fique nervosa perto dela. Nós realmente não somos tão diferentes de vocês. Trate minha filha como trataria qualquer outra criança (e ganhe um bônus se fizer um comentário sobre o lindo cabelo dela!). Se tiver uma pergunta, faça. Fale para o seu filho sobre como todo mundo é bom em coisas diferentes, e como todo mundo tem dificuldades a trabalhar. Se todo o resto falhar, cite a frase do irmão de Addison: “bem, todo mundo é diferente!” (Debbie Smith, do blog “Finding Normal”; mãe de Addison, que tem Trissomina 9).
10- Ajude as crianças a ver que, mesmo crianças que não falam, entendem
“Nós estávamos andando pelo playground e a coleguinha da minha filha não parava de encarar o meu filho, que é autista e tem paralisia cerebral. Minha filha chamou a atenção da colega rapidinho: “Você pode dizer “oi” pro meu irmão, você sabe. Só porque ele não fala, não significa que ele não ouve você”. Jack não costuma falar muito, mas ele ouve tudo ao redor dele. Ensine aos seus filhos que eles devem sempre assumir que crianças especiais entendem o que está sendo dito, mesmo sem poderem falar. É por isso que eles não vão dizer “o que ele tem de errado?”, mas poderão até dizer “Como vai?”.”(Jennifer Byde Myers, mãe do Jack, que tem autismo e paralisia cerebral).
11- Inicie uma conversa
“Nós estávamos no children’s museum e um garotinho não parava de olhar para Charlie com seu andandor, e a mãe dele sussurrou em seu ouvido para não encarar porque isso era indelicado. Ao invés disso, eu adoraria que ela tivesse dito “esse é um andador muito interessante, você gostaria de perguntar ao garotinho e à sua mãe mais a respeito dele?”.”(Sarah Myers, mãe do Charlie, que tem paralisia cerebral).
12- Não se preocupe com o constrangimento
“Vamos combinar de não entrar em pânico caso seu filho diga algo embaraçoso. Você sabe, tipo se nós estivermos na fila do Starbucks e o seu filho olhar para a Maya e pra mim e disser algo como “Eca! Por que ela está babando?” ou “Você é mais gorda que a minha mãe”. Embora esses não sejam exemplos ideais de início de conversa, eles mostram que o seu filho está interessado e curioso o suficiente para fazer contato e perguntar. Por favor, não gagueje um “mil desculpas” e arraste seu filho pra longe. Vá em frente e diga baixinho o pedido de desculpas, se você precisar, mas deixe-me aproveitar a oportunidade: vou explicar a parte da baba e apresentar Maya e contar da paixão dela por crocodilos, e você pode ser a coadjuvante no processo, dizendo “lembra quando nós vimos crocodilos no zoológico?” ou coisa parecida. Quando chegarmos ao caixa, o constrangimento vai ter passado, Maya terá curtido conhecer alguém novo, e eu terei esperanças de que seu filho conseguiu ver Maya como uma criança divertida, ao invés de uma “criança que baba”. (E eu irei simplesmente fingir que não ouvi a parte do “mais gorda que a minha mãe”).”(Dana Nieder,mãe de Maya, que tem uma síndrome genética não diagnosticada).
Texto original em inglês: http://blogs.babble.com/babble-voices/ellen-seidman-1000-perplexing-things-about-parenthood/2012/02/29/what-to-teach-your-children-about-kids-with-special-needs/
Vera, excelentes matérias! É de grande utilidade a Sociedade e muito esclarecedoras, meus parabéns!
Obrigada, meu amigo!
A tradutora Andréa Werner fez um excelente trabalho.
QUE TEXTO MARAVILHOSO! PARABÉNS!
Tomei a liverdade de compartilhá-lo no meu site…e peço licença para lhe transcrever um texto que escrevi para ajudar a conscientizar as pessoas sobre a humanização no cuidar:
A medicina evoluiu muito nos últimos tempos. Assim, muitas doenças que acometem o ser humano em várias fases da vida não são mais intratáveis, pois a equipe de saúde pode oferecer um extenso e variado arsenal terapêutico, aumentando a estimativa de vida da população. Assim, vemos muitas doenças crônicas sendo tratadas e controladas, seja nas crianças, adultos ou idosos.
Surge então outra questão, a da qualidade de vida dessas pessoas, que precisam de cuidados específicos. DAÍ A IMPORTÂNCIA DE UM BOM PREPARO DO CUIDADOR! Este deve considerar todo o contexto que a pessoa cuidada se encontra; e também cuidar de si próprio!
O aumento da expectativa de vida no Brasil aumenta cada vez mais a demanda de cuidadores.
Devido ao aumento da sobrevida de crianças, adultos e idosos com sequelas neuromotoras, ou outras limitações, em tratamento domiciliar, a figura do cuidador é um elemento decisivo na aplicação dos cuidados e recomendações terapêuticas em tratamento domiciliar.
Além disso, para muitas situações sociais, escolares ou recreacionais, essas pessoas dependem de auxílio, e o cuidador pode ser decisivo na humanização do atendimento.
Considerando a severidade e particularidades de algumas patologias e/ou situações é indispensável que esse responsável receba orientações claras e práticas para o desempenho seguro dessas atividades.
A atuação do cuidador está diretamente ligada ao conforto, segurança e ampliação do convívio social do paciente, devendo, portanto, ser considerado parte importante dentro da equipe que oferece assistência de saúde.
Malu Bozzani
http://www.palliarte.com.br
Palliarte. spbre a arte de viver e de cuidar
“Qualidade de vida e saúde integral são dirreito de todos!”
Parabéns pelo tema e pela tradução! Trabalho há 25 anos com crianças especiais e há dois anos com Inclusão Escolar.
Concordo plenamente com a abordagem do texto, porém ainda sinto dificuldades em situações sociais ( shoppings, supermercados, festas) quando encontro estas crianças e falo com elas. Nem sempre sinto receptividade das familias, como as ditas neste texto.
muitas mães são deselegantes e imediatamente procuram levar seus filhos para longe. Compreendo sua visão e creio que nós profissionais, tb devemos orientar estas familias a se abrirem mais, a exporem mais seus filhos ao convívio desta sociedade que caminha para ser inclusiva e que esta é uma via de mão dupla. é isso!
Excelente texto, tenho um filho de 2 anos com SD e as vezes não sei como responder aos olhares curiosos das crianças e de seus pais, enquanto lia pensava em muitas situações e como administrá-las. Quanto ao comentário anterior, é verdade, muitos pais de crianças com deficiência não se sentem a vontade em conversar ou deixar que seus filhos conversarem com outras pessoas, creio que é o medo de que essa conversa venha a machucar a eles e a seus filhos e o preconceito reinante na sociedade é a grande causa, como diz o velho ditado, gato escaldado tem medo de água fria. Mas acredito que cabe a nós pais de crianças com deficiência passar a olhar a situação de maneira mais tranquila e não pré-julgar as pessoas antes de conhecê-las. E difícil, mas é o melhor que fazemos para nossos filhos e para toda a sociedade.