Acessibilidade Atitudinal e o Homem Público Hodierno
Caro leitor,
Abaixo mais um artigo da amiga Deborah Prates.
O HOMEM PÚBLICO HODIERNO
Descrição da foto para deficientes visuais: tomada da frente da câmara dos vereadores/RJ, na cor branca, mostrando a escadaria – em tom acinzentado – de acesso a porta principal
Porque era manco, feio e fraco foi que HEFESTO foi jogado do alto do Monte Olimpo por sua mãe Hera. Despencou durante nove dias e noites até cair no oceano. Nem os deuses gregos souberam conviver com a DIVERSIDADE.
Os mortais do século XXI, também não admitem dividir o Planeta com os que fogem ao estereótipo da sociedade da hora. Refiro-me, agora, aos “HOMENS PÚBLICOS”. Depois de empossados nos respectivos cargos as pessoas com deficiência caem no ROL DOS ESQUECIDOS. Inacreditável a profunda amnésia que abate o cérebro dos que se elegeram às custas das DESVENTURAS ALHEIAS! Coisa feia!
Alegria, alegria! Meu coração estava saltitante na noite do dia 27/4/2012, em razão da homenagem que receberia na Câmara dos Vereadores/RJ. Meu nome figurava na relação das mulheres DONAS-DE-CASA que tiveram destaque hodiernamente. Tão feliz fiquei com a MOÇÃO HONROSA que entendi por bem dividi-la com TODAS as mulheres administradoras do lar deficientes. Penso que a mulher é o alicerce da Família em todos os tempos.
No princípio da escadaria de acesso à porta principal constatei o quão é verídico o dito popular: ALEGRIA DE POBRE DURA POUCO. No primeiro degrau perguntei pela rampa. Uma voz masculina respondeu que não havia. Ainda contente perguntei pelo corrimão para garantir a minha segurança na trajetória com Jimmy. Um balde d’água fria! Inexistia!
Nossa, quanta vergonha por um amigo deficiente físico que estaria presente para me prestigiar! Um deficiente constrangido perante outro pela falta de HUMANIZAÇÃO! Loucura total!
Sustentando um sorriso social cumprimentei os Semelhantes presentes e fui ter um “dedo de prosa” com uma funcionária pública de longa data que disse amar de paixão a Câmara dos Vereadores/RJ. Indaguei-lhe sobre a ausência da acessibilidade física e comunicacional na entrada principal da “Casa do Povo”.
Deixou transparecer sinal de insegurança no início do discurso. Disse que tinha uma certa cadeira para o acesso dos cadeirantes.
– Cadeira? Que cadeira é essa?
– Ah, não sei bem explicar! Acho que a cadeira de rodas entra dentro dessa que nós temos. Não sei bem como funciona.
– Mas e a falta do corrimão até para as pessoas, por exemplo, que sofrem de labirintite? E a ausência do piso tátil para direcionar os usuários de bengala ao local correto da entrada?
Sem ter para onde correr a pessoa, extremamente sem graça, deixou ecoar uma risadinha tímida diante da patética situação. Balbuciou a falta de verba. Minha cabeça girava indo até a mitologia grega e vindo para abril/2012. Que falta de sensibilidade dos HOMENS PÚBLICOS!
A cerimônia aconteceu como tantas outras e eu trouxe para casa a minha Moção. Trouxe também a dura realidade da total falta da ACESSIBILIDADE ATITUDINAL como carro-chefe. Sem esta, claro que ausentes as acessibilidades física e comunicacional!
No dia seguinte conversei com alguns vereadores que me contaram que havia acessibilidade na entrada do anexo pela Rua Alvaro Alvim. Fiquei abatida ao ouvir que cuidava-se de uma rampa de madeira do tipo “quebra-galho”. Ponderei sobre elevador adaptado, aliás, qualquer elevador! Tantas evasivas que não entendi a real existência. Sendo mais incisiva perquiri sobre a inexistência de uma programação visual nas entradas, de forma a prestar à coletividade as informações básicas sobre os acessos para pessoas com deficiência. Sem resposta.
Alguns profissionais ligados a construção civil relataram que algumas rotas de acessibilidade física foram traçadas para o trânsito no Palácio Pedro Ernesto. Todas iniciavam na Rua Álvaro Alvim e uma delas aproveitava vazio existente na escadaria de serviço do anexo, muito bem localizado, onde, facilmente, poderia ser instalado elevador ao público diferente, para acessar TODOS os Pavimentos do Palácio, valendo dizer, do plenário até as “arquibancadas”. Essa adequação ainda serviria para o transporte de materiais de toda ordem, de maneira a racionalizar o investimento, facilitando, inclusive, a vida dos funcionários.
Outro projeto previa rampa para vencer alguns degraus de acesso aos elevadores do Anexo da Câmara e, de lá, até o prédio principal.
Certo é que tantas propostas de HUMANIZAÇÃO e cumprimento da legislação vigente não prosperaram por “n” razões infundadas. Até hoje os Srs. Vereadores – eleitos pelo Povo – insistem em afirmar que há acessibilidade! Nítido que não sabem nem o que é!
E não venham com a desculpa esfarrapada que é um BEM TOMBADO e que, por isso, não pode ser mexido/adaptado! Normas Regulamentadoras existem para as cabíveis e HUMANAS adequações. Pessoas COM deficiência não podem permanecer INVISÍVEIS! Nessa “Casa do Povo” os cariocas comparecem para acompanhar e PRESSIONAR o trabalho dos Srs. Vereadores! Será uma forma de nos CALAR? Fato é que o “HOMEM PÚBLICO” não tem propriedade de perceber as modificações do meio externo ou interno e de reagir a elas de maneira conveniente.
Uma cidade acessível é para TODOS e não apenas para as pessoas com deficiência.
Amigos leitores, reflitam se é de interesse dos “HOMENS PÚBLICOS” informar/educar o Povo. Aliás, seria de bom tom que TODOS, antes de serem empossados, fizessem uma PROVA sobre os DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. Se reprovados, não tomariam posse! Simples, né? Deixo-os na companhia de Alexandre Graham Bell: “Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz somente até onde os outros foram.”
Carinhosamente.
DEBORAH PRATES
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