Acessibilidade na web: 7 mitos e um equívoco – Parte Final
Caro leitor,
Dando continuidade ao artigo Acessibilidade web: 7 mitos e um equívoco, veja hoje a última parte desse texto. Recomendo a leitura da primeira parte para que possa entender melhor.
Mito III – “Fazer um site acessível demora e custa caro.”Realidade: Geralmente, afirmações como esta são proferidas sem nenhuma avaliação prévia. Contudo, só podemos saber se o tempo e o custo do nosso projeto são adequados, se levarmos em conta os benefícios alcançados.
Temor oculto: “Não estarei empregando mal os recursos que tenho, ao fazer acessibilidade? Não vou ficar no prejuízo?”
Esclarecimento: Quebrar todas as escadas de um prédio para colocar rampas e todos os banheiros para torná-los acessíveis vai demandar um tempo e um custo adicionais; mas vai permitir o acesso por muito mais pessoas. Porém, se o prédio for projetado com rampas e banheiros acessíveis, o custo e o tempo de construção não serão maiores por isso. O mesmo acontece com os sites. Algumas adaptações são trabalhosas, mas o resultado vale a pena; e quando se trata de um novo projeto, o custo adicional geralmente não existe.
Mito IV – “É melhor fazer uma página especial para os deficientes visuais.”
Realidade: Isto é melhor para quem? Os webdesigners terão trabalho dobrado, para criação e manutenção de duas páginas. Os deficientes visuais ficarão prejudicados, pois o que invariavelmente acaba acontecendo é que a página deles fica desatualizada. Sem falar naquelas páginas especiais, que já são projetadas com menos funcionalidades do que a das “pessoas normais”. Além disso, o site continuará inacessível para todos os outros tipos de deficiências, necessidades ou situações especiais.
Temor oculto: “A gente não vai conseguir fazer uma página acessível, que seja tão bonita e funcional como a nossa.”
Esclarecimento: A partir de 1998, com a promulgação da Section 508 (lei americana de acessibilidade), as grandes empresas de software começaram a investir em acessibilidade. Atualmente, os recursos de acessibilidade disponíveis já nos permitem criar sites bonitos, funcionais e acessíveis. Obviamente, para se obter um bom resultado, a técnica de acessibilidade, como qualquer outra, precisa ser aprendida.
Mito V – “Um site acessível a deficientes visuais não é bonito.”
Realidade: Pessoas cegas não têm condições de usufruir da maioria dos atributos visuais de um site. Porém, os elementos que tornam um site esteticamente bonito não atrapalham as pessoas cegas, se forem criados dentro dos padrões de codificação, das diretrizes de acessibilidade e se a página tiver uma boa arquitetura de informação.
Temor oculto: “Só sei fazer sites bonitos usando tecnologias inacessíveis; de fato, não sei exatamente quais são os elementos visuais que atrapalham a acessibilidade. Por isso, quando tenho que fazer um site acessível, faço sempre o arroz com feijão.”
Esclarecimento: Sites acessíveis a deficientes visuais podem ter imagens, fotos, vídeos, gráficos, etc, etc… Basta observar os padrões de codificação e as diretrizes de acessibilidade; e nenhuma delas proíbe essas coisas. Os testes com usuários, além de fazerem parte das boas práticas de um projeto, sempre ajudam a desmistificar essa questão.
Mito VI. – “Vamos por partes: primeiro fazemos o site, depois fazemos acessibilidade.”
Realidade: Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo, precisamos priorizar. Porém, inaugurar o prédio com escadas e depois quebrar tudo para colocar rampas não é priorização, é desperdício de tempo e recursos. E é exatamente isto que acontece com um site, quando deixamos a acessibilidade para depois. Vamos ter que refazer muita coisa que já poderia ter sido feita com acessibilidade, sem custo adicional.
Temor oculto: “Não vamos conseguir fazer um site acessível, com o tempo, os recursos e a equipe que temos.”
Esclarecimento: Como acontece com qualquer tecnologia, geralmente o primeiro projeto acessível demanda um tempo e um custo maior, porque precisamos de capacitar a equipe. Mas isto acontece apenas no primeiro projeto, além de ser um bom investimento em termos de ampliação do público alvo.
Mito VII – “A gente sabe o que é bom para o usuário.”
Realidade: A gente aprende muito sobre o usuário com a experiência. Mas a gente só aprende tudo sobre o usuário, se a gente for o próprio usuário; ainda assim, agente vai ser apenas um dos vários tipos de usuários possíveis, deixando de fora todos os outros grupos.
Temor oculto: “Não quero expor meu projeto às críticas do usuário.”
Esclarecimento: Quanto mais cedo os usuários puderem dar seus “palpites” no projeto, menos alterações ele precisará depois e mais robusto ele será. Não tenha medo!
Um Grande Equívoco
Existe uma oitava assertiva, que não é exatamente um mito, nem se refere apenas à acessibilidade. Trata-se de uma convicção equivocada, proveniente da falta de conhecimento da repercussão da web, do seu impacto na vida das pessoas e na forma como a informação é veiculada nos dias de hoje. Apesar de não ser um mito, podemos detectá-la como um pensamento subjacente em quase todos os mitos descritos anteriormente. A assertiva é a seguinte:
“Meu site é direcionado a um público específico; ele não interessa a todos os grupos de usuários.”
Para entendermos onde está o equívoco, precisamos analisar primeiro o que é “público específico” e o que são “grupos de usuários”.
Normalmente, quando falamos que o nosso site se dirige a um público específico, estamos nos referindo ao conteúdo do site e estamos querendo dizer que tal conteúdo só tem interesse para uma determinada parcela do público em geral. Sabemos, por exemplo, que o público-alvo de um site de notícias, ou de um serviço público, é muito diferente do público-alvo de um site de tricot, ou de paleontologia. Contudo, isto é muito diferente do conceito de grupos de usuários, utilizado em acessibilidade e em usabilidade. Neste caso, estes grupos não se referem ao conteúdo da informação, mas às características de funcionalidade dos usuários. Muitas destas características foram descritas anteriormente, na análise do Mito I.
O equívoco acontece quando associamos grupos de interesses a grupos de funcionalidades. A experiência nos mostra que esta associação é muito mais tênue do que parece. Vejamos alguns exemplos:
- Um homem com baixa visão que entra no site de um fabricante de automóveis, para escolher um modelo para a sua mãe.
- Uma jovem surda que entra numa loja virtual de CDs, para escolher um presente para o seu namorado.
- Um menino de 11 anos que entra num site direcionado à terceira idade, para pegar uma informação para a sua avó.
- Uma estudante cega que entra numa livraria virtual, para comprar livros que serão escaneados por ela própria e lidos com o seu programa leitor de telas.
Portanto, quando restringimos o acesso do nosso site ao que julgamos serem as características do seu público alvo, estamos, na prática, usando a internet para limitar o nosso público, ao invés de ampliá-lo.
Referências na web
Oliveira, Cristina G. Machado de – Filosofia Virtual. Mitologia.
Daniel, William – Mito, Rito e Religião.
Daniel, William – Deuses Gregos e Romanos.
Mahabaratha – Ensaio – Mitologia, conceito – julho/2004
Decreto Nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004.
Section 508: The Road to Accessibility.
Fonte: http://acessodigital.net/
Veja: