Apaixonados pelo samba superam desafios para desfilar na Sapucaí
Não foi só a escola de samba Acadêmicos do Grande Rio que trouxe o tema superação, enredo da agremiação neste ano, para o sambódromo. Nos dois dias de desfile das escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro, muletas e cadeiras de roda não impediram a participação dos apaixonados pelo samba na festa da Marquês de Sapucaí.
É o caso de Marluce Meyer, de apenas 22 anos. Ela sofre com a doença mielomeningocele, que prejudica o funcionamento dos rins e compromete a locomoção.
Mas nada disso desanima a jovem, que desfilou pelo quarto ano na Renascer de Jacarepaguá, primeira escola a desfilar neste domingo (19).
Marluce veio na primeira fila da ala, com apoio de muletas, e promete vir em outros anos. “Não tem problema nenhum. Só dá mais ânimo para vir outras vezes”, garante.
Fugiu do médico e caiu no samba
Sorriso no rosto e água nos olhos. Essa era a imagem de José Simões Vieira, o Simões da Mangueira, de 75 anos, com os dois joelhos operados e de muletas, ao ver o desfile da sua escola do coração.
O locutor oficial da Estação Primeira de Mangueira tem diabetes, câncer de próstata, osteoporose, hipertensão, artrite, artrose e há um mês estava internado em um hospital.
“Tenho 56 anos de Mangueira, vi o presidente dessa escola na barriga da mãe dele. O médico me liberou para ir para casa e eu vim para cá. Isso aqui é a minha vida. O que me faz viver é a Mangueira. Minhas filhas dizem que eu supero tudo, mas o que me supera é a Mangueira”, disse ele, emocionado.
Simões colocou prótese nos dois joelhos, uma cirurgia que ele estava adiando havia três anos. “O médico uma vez me deu cinco anos de vida. Já estou há nove desde que ouvi isso”, contou.
Área exclusiva para deficientes
Entre os setores da Sapucaí, um se destaca pelo número de foliões em cadeiras de roda, ou com apoio de muletas. No setor 13, há uma área exclusiva para deficientes, com estacionamento, acessos e banheiros para atendê-los. Lá estavam Maria das Graças Oliveira, de 57 anos, e Rose Vicchy, de 45, que desfilam juntas há quatro anos pela Portela.
Maria das Graças, assim como outros cadeirantes, conta sempre com o apoio de um acompanhante para desfilar. “Comecei com amigos da associação. Só queria assistir, nunca tive a pretensão de desfilar”, revela.
Rose teve paralisia infantil e faz questão de destacar o papel da Portela no apoio aos integrantes da ala dedicada aos deficientes físicos. “Eles dão a fantasia, relevam se não pudermos ir sempre aos ensaios. A gente se torna uma família”, conta.
Ela descreve, emocionada, a sensação de passar pela Marquês de Sapucaí: “Você se sente livre. Tem a águia e é como se a gente tivesse asas também. Naquele momento, todos estão com a mesma sensação de prazer”.
E tem gente que vai além pela alegria de brilhar na avenida. Helder Campos, de 56 anos, sai de São Paulo, há dez anos, para defender a bandeira do Salgueiro, no Rio.
Ele diz que há duas razões para encarar o desafio, mesmo após ter o movimento das pernas comprometido após sofrer um acidente.
“É para mostrar para todo mundo que podemos ultrapassar as barreiras. E para que as pessoas saibam que somos felizes, para não nos tratarem com pena”.
Fonte: G1