Assédio moral ou bullying no trabalho, você é vítima??
Caro leitor,
O interessante e reflexivo artigo abaixo, é da amiga Márcia Gori*. Esse artigo foi publicado na Revista Reação na edição de abril/maio.
Como uma mulher com deficiência que sou e com muito orgulho, venho agora discutir com vocês, meninas, a questão do assédio moral ou bullying em nosso trabalho, problema esse que nos traz muitos transtornos e ocasionalmente sem provas.
O que é assédio moral ou bullying, afinal?
É a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego. http://www.assediomoral.org/spip.php?article1
Se isso acontece “normalmente” com pessoas sem deficiência, imaginem o estrago em nosso segmento, ainda mais no que diz para a mulher com deficiência, devido a sua vulnerabilidade emocional e a falta de aceitação social que ainda vivemos.
Devemos prestar atenção na forma como somos tratadas pelos nossos empregadores e colegas de trabalhos, se há uma atitude respeitosa para nossa pessoa e figura humana, senão há brincadeiras um tanto irônicas a nossa deficiência e pessoa, trabalhos que não condiz com nossa condição física e intelectual, forçando-nos a pedir demissão e sentirmos inadequados e incompetentes para qualquer atividade laborativa, entre tantas situações de constrangimentos.
Provar uma situação dessas ainda não é fácil, mas é possível sim, antes de qualquer coisa precisa de muita coragem e iniciativa nossa e de outros colegas que conhecem a situação do constrangido, porque o silêncio da vítima favorece o agressor, trazendo-lhe a impunidade e muitas vezes a vitima adquire danos físicos e psicológicos tão surpreendentes que podem até mesmo resultar na loucura ou morte, tanto por razões clínicas quanto por suicídio.
O medo de não conseguir uma nova chance, de não ser aceito/incluído, a falta de auto-estima, a pressão psicológica, tudo contribui para que essa mulher fique calada e coopere com a submissão e fortalecimento da tirania imposta de forma cruel e covarde.
Muitas ocasiões nos é imposta situações que acreditamos ser normais ao nosso meio de trabalho, tais como falta de acessibilidade no local, falta de uma rampa, um banheiro inacessível corretamente, o computador que torna-se inadequado para o uso, falta ou excesso de atividades, chefe ou colegas que conversam com todos menos com a gente, etc.
Antes de qualquer coisa não devemos temer em denunciar aos órgãos competentes, em ir a uma Delegacia ou Ministério Público do Trabalho, Sindicato, Comissão de Direitos Humanos, Centro de Referência a Saúde do Trabalhador para solucionar o problema e nos proteger, pois o emprego é uma matéria de Direitos Humanos, tratando de qualidade de vida conquistada com o seu esforço, principalmente a mulher com deficiência que tem TODOS os seus direitos como qualquer cidadão comum, mesmo porque ela namora, casa, constitui família, se prostitui, rouba, mata, paga seus impostos, enfim, é ser humano.
A mulher/vitima deve buscar apoio da família, amigos e colegas para resgatar a auto-estima e a sua cidadania plena, conto aqui um segredo a todas vocês, já passei por esse tipo de constrangimento dentro do serviço público e sei o quanto isso traz estrago dentro do nosso emocional, nos fazendo acreditar que a competência tem “pessoas predestinadas” a merecê-las, mas acreditem superei tudo e estou seguindo o meu caminho profissional com tanto sucesso, que atualmente muitos do que foram os algozes precisam da minha competência, então fica a dica, é possível vencer qualquer obstáculo, depende SOMENTE DE VOCÊ!!!
Coloco aqui algumas frases típicas para que vocês tenham clareza do abuso:
- Você é mesmo difícil… Não consegue aprender as coisas mais simples! Até uma criança faz isso… e só você não consegue!
- É melhor você desistir! É muito difícil e isso é pra quem tem garra!!! Não é para gente como você!
- Não quer trabalhar… fique em casa! Lugar de doente é em casa! Quer ficar folgando… descansando… de férias pra dormir até mais tarde…
- A empresa não é lugar para doente. Aqui você só atrapalha!
- Se você não quer trabalhar… por que não dá o lugar pra outro?
- Teu filho vai colocar comida em sua casa? Não pode sair! Escolha: ou trabalho ou toma conta do filho!
- Lugar de doente é no hospital… Aqui é pra trabalhar.
- Ou você trabalha ou você vai a médico. É pegar ou largar… não preciso de funcionário indeciso como você!
- Pessoas como você… Está cheio aí fora!
- Você é mole… frouxo… Se você não tem capacidade para trabalhar… Então porque não fica em casa? Vá pra casa lavar roupa!
- Não posso ficar com você! A empresa precisa de quem dá produção! E você só atrapalha!
- Reconheço que foi acidente… mas você tem de continuar trabalhando! Você não pode ir a médico! O que interessa é a produção!
- É melhor você pedir demissão… Você está doente… está indo muito a médicos!
- Para que você foi a médico? Que frescura é essa? Tá com frescura? Se quiser ir pra casa de dia… tem de trabalhar à noite!
- Se não pode pegar peso… dizem piadinhas “Ah… tá muito bom para você! Trabalhar até às duas e ir para casa. Eu também quero essa doença!”
- Não existe lugar aqui pra quem não quer trabalhar!
- Se você ficar pedindo saída eu vou ter de transferir você de empresa… de posto de trabalho… de horário…
- Seu trabalho é ótimo, maravilhoso… mas a empresa neste momento não precisa de você!
- Como você pode ter um currículo tão extenso e não consegue fazer essa coisa tão simples?
- Você me enganou com seu currículo… Não sabe fazer metade do que colocou no papel.
- Vou ter de arranjar alguém que tenha uma memória boa, pra trabalhar comigo, porque você… Esquece tudo!
- A empresa não precisa de incompetente igual a você.
- Ela faz confusão com tudo… É muito encrenqueira! É histérica! É mal casada! Não dormiu bem… é falta de ferro!
- Vamos ver quem brigou com o marido!
Até o nosso próximo encontro!!!
* Márcia Gori é bacharel em Direito-UNORP, empresária Assessoria de Direitos Humanos – ADH Orientação e Capacitação LTDA, Ex-presidente do Conselho Estadual para Assuntos da Pessoa com Deficiência – CEAPcD/SP 2007/2009, ex-Conselheira Estadual do CEAPcD/SP 2009/2011, Presidente do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência de São José do Rio Preto/SP, membro do CAD – Clube Amigos dos Deficientes de São José do Rio Preto/SP. Miss Tattoo 2010, palestrante sobre Sexualidade, Deficiência e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência, modelo fotográfico da Agência Kica de CastroFotografias.
E-mail: marcia_gori@yahoo.com.br
Blog: http://mrciagori.blogspot.com/
Realmente! Os agressores não estão nem aí se a sua vítima é homem, mulher, deficiente. Eles não conseguem, é impossível na mente deturpadas destas “pessoas”, se colocarem na posição do outro. Infelizmente estão espalhados por aí, como uma praga daninha. A visibilidade de seus atos através de denúncias é o melhor remédio. Conscientizar desde cedo, deve, agora, fazer parte da pedagogia nas escolas, através do anti-bullying. Não sou profissional da área, mas acabei me tornando um conhecedor do tema, por estar sujeito a situação de Assédio Moral. Concordo com a opinião de que esta frieza do agressor é nato. São indivíduos incuráveis, mas podemos e devemos minimizar seus atos. São como crianças que devem ser advertidas por suas artes. Com a diferença de que a criança entende e para de cometer erros, estes infivíduos não, se não policiados cometem as mesmas maldades pro resto da vida.
Pelas situações em que tenho visto, vivenciado e lido à respeito que os agressores têm um
ou vários destes perfis:
– Narcisista
– Egocentrico
– Autoritário
– Certo grau de inteligência
– “Dom Juan”
– Desprovido de sentimento
– Ameaçador
– Meticuloso
– Infantil
– Repulsa a subordinado que sabe mais ou quem não lhe “puxa o saco”
– Ladrão de idéias
Se algum destes perfis aparecer no momento em que algo deu errado, ele, com certeza, cometerá Assédio Moral para não descobrirem sua real e maquiavélica intenção.
Frases com estas:
– Você esta usando sua deficiência para conseguir vantagens…
– Se você for atrás dos seus direitos, você será removida para um local bem longe, e de difícil acesso…
– Erramos ao colocar que havia uma vaga para deficiente no edital, isso nunca mais acontecerá…
etc…
Já escutei várias destas e muitas outras.
Mas há um pequeno problema, para denunciar esses atos, é muito difícil, pois você tem que ter dinheiro para pagar um advogado, ter acessibilidade a locais etc…
Então as pessoas sabem que você não tem condições e se aproveitam para soltar suas frases preconceituosas.
Minha chefe está me obrigando a fazer atividades que não consigo, o que devo fazer?
Trabalho ha 10 anos em conceituado hospital paulistano e há 2 anos tenho déficit auditivo unilateral compensado com aparelho. Desde então venho sofrendo assédio moral e bulling. Estou com medo de desenvolver uma sindrome do pânico, porque entro em desespero quando penso em trabalhar no dua seguinte. O que faço?