Autismo: pesquisador lista 10 coisas que você precisa saber
Especialista da UFSCar tira dúvidas sobre o distúrbio que ganhou mais destaque com a personagem Linda, de ‘Amor à Vida’
Autista, a personagem Linda (Bruna Linzmeyer), da novela ‘Amor à Vida’, tem chamado a atenção para uma síndrome que deve atingir cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil, mas ainda é pouco compreendida. O próprio folhetim da TV Globo levanta a discussão da falta de informação que ronda o transtorno.
O autismo “aparece tipicamente nos três primeiros anos de vida. Acomete cerca de 20 entre cada 10 mil nascidos e é quatro vezes mais comum no sexo masculino do que no feminino”, segundo definição da Associação Americana de Autismo (ASA).
Para tirar algumas dúvidas sobre o assunto, o psicólogo Celso Goyos, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e presidente do periódico IJOBAS (International Journal of Behavior Analysis Applied to Autism), listou 10 fatos importantes sobre o transtorno. Confira abaixo.
10 fatos importantes sobre o autismo
- O Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou autismo afeta aproximadamente uma em cada 88 crianças, segundo cálculos recentes do Center for Desease Control (CDC), dos EUA. Esta incidência é altíssima e representa número maior de casos do que aqueles de HIV positivo, câncer e diabetes infantil somados. O crescente aumento da incidência não se deve a qualquer epidemia, mas sim às especificações mais detalhadas dos sinais da síndrome, à sua divulgação, e à capacitação dos profissionais responsáveis para reconhecê-los. Embora não haja cálculos estatísticos para o Brasil, é razoável supor que a incidência seja muito próxima da internacional.
- Apesar das importantes pesquisas desenvolvidas na áreas de genética e medicina, não há até o momento indicação de causa especifica para o autismo, e tampouco cura.
- O tratamento mais indicado para os sinais do autismo, de acordo com evidências experimentais rigorosas, é aquele que tem como base os princípios, procedimentos e técnicas derivadas da ciência conhecida como Análise do Comportamento. Esse tratamento tornou-se conhecido como “intervenções ABA” (e a sigla ABA vem das iniciais em inglês para Applied Behavior Analysis).
- Embora o diagnóstico seja importante, e os pais devam persistir em obtê-lo, o início das intervenções comportamentais não precisa necessariamente aguardar esse diagnóstico, que pode demorar meses ou até anos para ser concluído. Durante este período existe a mais absoluta e angustiante incerteza sobre a vida da criança, dos pais, e da família e, principalmente, o atraso no desenvolvimento da criança, que pode ser irrecuperável.
- Entre as áreas afetadas em indivíduos com TEA há problemas no desenvolvimento da linguagem, que se manifesta com atraso, ou com grandes deficiências, tais como déficits na fala e/ou na sua compreensão, fala repetitiva (ecolalia) e discurso fora de contexto.
- Sobre o envolvimento social, ele se manifesta pela ausência do contato com outras pessoas, mesmo do contato visual e físico – a criança não busca nem reage a contatos com outras pessoas – ou do consequente isolamento social. A criança nem mesmo brinca de maneira funcional.
- A criança com TEA exige, em grande parte dos casos, atenção e cuidados intensos continuadamente em 100% do seu estado de vigília, pelo menos em um período significativo de suas vidas. Pela intensidade da atenção necessária, muitas vezes os próprios pais se dedicam ao trabalho de cuidadores, e isso pode significar o abandono do emprego, o que impacta o nível sócio econômico da família. Um agravante é o fato de os pais nem sempre terem o preparo adequado e necessário para tal responsabilidade.
- Há ainda excesso de comportamentos repetitivos, não-funcionais, estereotipados – tais como movimentos com as mãos e braços, ou movimentos pendulares do tronco – ou mesmo autolesivos.
- As intervenções ABA são especialmente eficazes se:
– forem aplicadas imediatamente após os primeiros sinais e as primeiras suspeitas de diagnóstico;
– acontecerem de maneira intensiva, entre 20 a 40 horas por semana;
– sejam planejadas para um período mínimo entre dois a três anos. - Em geral a família de uma criança com TEA não sabe a quem recorrer diante das primeiras dificuldades em interagir com o transtorno. Uma das medidas mais importantes na atuação com o autismo é a capacitação dos profissionais que têm contato direto com esta população – psicólogos, terapeutas, médicos, professores, pais e demais cuidadores – para identificarem os sinais do transtorno e realizarem intervenções baseadas na terapia ABA.
4 sintomas do transtorno, de acordo com a ASA
- Distúrbios no ritmo de aparecimentos de habilidades físicas, sociais e linguísticas.
- Reações anormais às sensações. As funções ou áreas mais afetadas são: visão, audição, tato, dor, equilíbrio, olfato, gustação e maneira de manter o corpo.
- Fala e linguagem ausentes ou atrasadas. Certas áreas específicas do pensar, presentes ou não. Ritmo imaturo da fala, restrita compreensão de ideias. Uso de palavras sem associação com o significado.
- Relacionamento anormal com os objetivos, eventos e pessoas. Respostas não apropriadas a adultos e crianças. Objetos e brinquedos não são usados de maneira comum.
Fonte: Terra