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Balé de garotas cegas estimula a inclusão de pais e alunos em colégio de SP

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Dançarinas da Associação de Balé e Artes para Cegos Fernanda Bianchini durante aula. Foto: Danilo Verpa/Folhapress

Pais e mães chegaram ao colégio em que os filhos estudam para participar de uma reunião pedagógica e assistir a uma apresentação de balé. Tudo normal até aí. O que eles não sabiam é que teriam uma experiência única: vendados, foram guiados pelo corpo de balé formado por meninas cegas para um passeio dentro da escola.

A “grata surpresa”, como os próprios pais se referem à experiência, aconteceu este mês no colégio Doze de Outubro, localizado na zona sul de São Paulo.

Uma semana antes, os alunos assistiram à mesma apresentação da ABCFB (Associação de Balé e Artes para Cegos Fernanda Bianchini) e ficaram boquiabertos com o que viram. O corpo de baile, formado por 15 bailarinas com deficiência visual, acertou todos os passos e dançou com total segurança.

Associação existe há 17 anos e dá aulas de balé gratuitas para crianças e jovens com deficiência visual. Foto: Danilo Verpa/Folhapress
Associação existe há 17 anos e dá aulas de balé gratuitas para crianças e jovens com deficiência visual. Foto: Danilo Verpa/Folhapress

“A gente ficava em dúvida se aquelas meninas não estavam enganando a gente. Elas ficavam nos lugares certos, sem se bater, impressionante”, diz Marilise Pilon, mãe de duas alunas, de dez e 14 anos.

“Minhas duas filhas fizeram balé por nove anos. Os conceitos visual e corporal precisam ser muito bem feitos e a apresentação da companhia de dança foi impecável”, diz.

Na primeira apresentação, alguns estudantes foram convidados a se juntar às bailarinas para aprender posições básicas de balé. De olhos vendados, eles vivenciaram a inversão dos tradicionais papéis, pois foram as jovens cegas que ajudaram os alunos.

Bailarinas fazem aulas gratuitas na associação que existe há 17 anos na Vila Mariana, em São Paulo. Foto: Danilo Verpa/Folhapress
Bailarinas fazem aulas gratuitas na associação que existe há 17 anos na Vila Mariana, em São Paulo. Foto: Danilo Verpa/Folhapress

Segundo Fernanda Bianchini, bailarina e fisioterapeuta fundadora e coordenadora do balé, vendar os olhos é fundamental para entender o universo de quem não enxerga.

“Para um dos passos, expliquei que era como pular para dentro e fora de um balde. Uma das meninas levantou a mão e me perguntou ‘tia, o que é um balde? Eu nunca vi um balde’. Foi quando percebi que tinha que vendar meus olhos para entender o mundo dos cegos.”

Cerca de 500 alunos e 200 pais assistiram à apresentação na quadra da escola. Depois, foram convidados para o passeio “no escuro”. Nem todos os pais aceitaram, uns ficaram com medo e outros preferiram filmar e fotografar a dinâmica.

Associação existe há 17 anos e dá aulas de balé gratuitas para crianças e jovens com deficiência visual. Foto: Danilo Verpa/Folhapress
Associação existe há 17 anos e dá aulas de balé gratuitas para crianças e jovens com deficiência visual. Foto: Danilo Verpa/Folhapress

Cláudia Carneiro tem três filhos matriculados do colégio e topou participar do passeio ao lado da filha de 12 anos. “Foi maravilhoso e assustador, a gente percebe que não é nada, perde noção de espaço, de tudo. Ela [a filha] conhece tão bem a escola e a quadra, mas ali descobriu que não conhece.”

As famílias ainda estão digerindo o impacto da experiência. “A gente escuta falar muito mas não imagina como é isso na vida prática. Vi as dificuldades que temos no dia a dia. Por mais que a gente saiba que tem dificuldades, não temos a dimensão certa”, diz Cláudia.

“Foi uma coisa que mexeu com todo mundo que tava ali. Sai de lá revendo reclamações diárias. Não dá mais pra reclamar do café morno ou da louça que não foi lavada perfeitamente”, afirma Marilise.

 

As bailarinas Verônica Batista, Geisa Pereira e Cintia Domingues durante aula de balé para cegas. Foto: Danilo Verpa/Folhapress
As bailarinas Verônica Batista, Geisa Pereira e Cintia Domingues durante aula de balé para cegas. Foto: Danilo Verpa/Folhapress

INCLUSÃO

A apresentação do balé é parte do projeto “O Essencial é Invisível aos Olhos”, promovido este ano pelo colégio. Leda de Morais, orientadora pedagógica da escola, diz que para o Doze de Outubro a inclusão sempre foi um tema importante. “A inclusão não é um favor, é um direito. Antes de virar lei, temos que fazer nossa parte.”

“Aproveitamos para trabalhar sentidos que as pessoas às vezes esquecem, que enxergar não é só ver com os olhos. Fizemos o projeto para entender a necessidade do outro. A verdadeira inclusão começa pela preparação de toda a comunidade de alunos para receber bem e integrar essas pessoas”, diz.

Para Cláudia, as ações sociais promovidas pela escola são fundamentais para a educação dos seus filhos. “Tem que se aflorar a vontade deles de fazer esse tipo de trabalho.”

A ABCFB existe há 17 anos e oferece aulas gratuitas para crianças com deficiência visual. As 15 bailarinas profissionais se apresentaram no ano passado nas paraolimpíadas de Londres e se apresentam em escolas e empresas. Apesar disso, o balé ainda não tem patrocinador.

“Meu sonho é que cada patrocinador adote uma bailarina e que cada uma delas tenha uma vida melhor”, diz Fernanda. Mais informações sobre a associação no site.

Fonte: Folha de São Paulo

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

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