Braile portátil
Uma criação que dá outra dimensão ao sistema braile. Agora, ele parece um dado, gira e obedece uma lógica
Na reunião anual da SBPC deste ano, um expositor provocou a plateia: estendeu a mão, mostrou um objeto amarelo cúbico e com pontinhos (lembrava um dado), e perguntou: “Alguém saberia me dizer para que serve isso?”.
O público demorou para acertar. Muitos acharam que era uma peça de um jogo qualquer. Outros entenderam que se tratava de algo que tinha a ver com educação (a palestra falava do ensino no Brasil), mas ainda estavam longe de matar a charada. Até que um espectador esperto chutou certo: “Serve para se comunicar!”, gritou.
Sim, o ‘dado amarelo’ era, na verdade, um novo jeito de se apreender o braile, o sistema de leitura criado para os cegos.
De volta à redação, no Rio, a CH foi atrás do criador do chamado Gira-braile. Evaldo Hermany é de Ijuí, cidade do Rio Grande do Sul. Tem 49 anos e uma doença genética degenerativa – doença, aliás, partilhada com mais três irmãos. Ele hoje não enxerga mais, mas enquanto ainda tinha visão estudou informática e chegou a trabalhar na profissão. Quando sua doença piorou, aposentou-se.
– Após o período de assimilação da doença, tive o estalo. Todo o sistema braile se resume a uma linguagem em código. Há uma lógica de matriz três por dois [três fileiras e duas colunas]. E as pessoas, não sei por quê, não aprendem com a lógica, aprendem decorando – explica, por telefone, Evaldo.
Ele, que mora em Curitiba (PR) há mais de duas décadas, buscou uma composição visual que traduzisse a lógica que percebia no braile. Veio a ideia do Gira-braile. Com três cubos que giram em torno do próprio eixo, Evaldo consegue ensinar – para videntes e deficientes visuais – todo o alfabeto.
A peça conta com os já conhecidos pontinhos em relevo que caracterizam o braile. Como o sistema se baseia em uma repetição de padrão (as letras têm uma regra de ausência e presença dos pontinhos), a ideia de poder girar um cubo e manter o outro parado faz total sentido.
– Estudei em um colégio para cegos, já prevendo que minha visão iria piorar. Seria muito mais fácil ter aprendido braile com o Gira-braile – diz Evaldo. – Acho que a minha invenção é uma forma de inclusão do deficiente visual na sociedade. Por isso, o público-alvo é o professor do futuro.
Produção em maior escala
Depois de inventar o Gira-braile, no começo dos anos 2000, Evaldo saiu em busca de um patrocinador que pudesse bancar o projeto. Conheceu um empresário (a quem se refere como um anjo) disposto a bancar as despesas iniciais de uma produção em maior escala.
A partir daí, passou a visitar instituições de ensino e salas de aula para explicar o seu invento. Muitos se interessaram e passaram a comprar o Gira-braile.
E é esse o ponto atual em que se encontra Evaldo. Feliz com o que chama de sua “missão na Terra”: a divulgação da sua invenção. Ainda atrás de patrocinadores e novos interessados, ele vive para divulgar o sistema inovador que criou.
– Tem um porquê nas coisas. Quem sabe não foi para chegar até aqui que nasci com essa doença – fala Evaldo, com perceptível orgulho na voz.
Para adquirir o Gira-braile
Preço: R$ 10,00
Enviar e-mail para: sistemabraille@bol.com.br
Ou ligar para o telefone: (41) 9114-1651
Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/ (31/08/2010)
Referência: Rede Saci
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