Cadeira de rodas pode ser comandada com piscar de olhos
Uma pesquisa desenvolvida no Rio Grande do Sul pretende colocar no mercado kits de inclusão que permitem que pessoas com paralisia nos membros superiores e inferiores controlem um laptop com movimentos da cabeça, dos olhos e da boca. O Kit de Inclusão Digital para Lesões Cerebrais Severas é acoplado a uma cadeira de rodas e ajuda quem tem deficiências cognitivas a utilizar o computador para acessar a internet e realizar atividades em programas educativos.
As cadeiras de rodas comuns para tetraplegia, segundo o professor e sociólogo Gilson Lima, que coordenou a pesquisa, suprem apenas o déficit de mobilidade. O kit, por sua vez, agrega um notebook com um software que faz uma leitura do rosto do usuário e passa a detectar seus movimentos. Para guiar o mouse, por exemplo, basta mover a cabeça de um lado para outro. Os cliques podem ser comandados com os olhos, com a boca ou com a fixação do olhar por três segundos em determinado ponto da tela. As alternativas são disponibilizadas justamente para atender a diferentes tipos de dificuldades. “Cada pessoa cria um perfil de interação entre o robô e o comando do usuário”, detalha Lima.
Para desenvolver a tecnologia, foi realizado um estudo de caso com a estudante Fernanda Xavier, 18 anos, que nasceu com paralisia cerebral. O pesquisador relata que a menina, devido à severidade da lesão, tem dificuldades com a parte motora da fala, além da limitação dos movimentos. A partir de uma série de exames, detectou-se as áreas lesionadas, diagnóstico que serviu de base para a projeção do software. “Os exames de caso são bastante universalizáveis. Os mais graves dão acesso a uma série de situações mais leves”, destaca Lima. Para o pesquisador, a utilização do kit é bastante positiva e deve ter um potencial ainda maior em pessoas com paralisia dos membros, mas que não tenham as funções cognitivas afetadas.
Kit proporciona autonomia aos usuários
Ao comandar o laptop adaptado, o usuário tem acesso a diversas ferramentas, como programas de aprendizagem e sites como o YouTube, para assistir a vídeos online. “Inclusive tem um programa que treina para ser piloto de tela”, enumera Lima. Também existe a possibilidade de fazer ligações e de digitar em um teclado virtual, o que pode ser útil na alfabetização e na comunicação. “A partir da tecnologia, ganha-se uma vida com autonomia”, descreve o pesquisador. O pesquisador ressalta que o projeto deu prioridade a softwares livres, para reduzir custos e proporcionar maior número de atividades disponíveis.
Para dar autonomia de funcionamento ao aparelho, o kit prevê a inclusão de dois circuitos. Um deles, acoplado na parte inferior da cadeira, garante carga de energia suficiente para 16 horas em alto uso, podendo chegar a dois dias em nível médio de uso. O segundo circuito monitora o nível de carga, avisando quando for preciso recarregar – a operação não dura mais do que seis horas para abastecer totalmente.
Com o kit, a cadeira funciona quase como uma classe, uma vez que é adaptada ao usuário, e possui mecanismos que ajudam a corrigir a postura. Assim, o estudante pode ir à sala de aula ou ao pátio da escola tranquilamente, sem a necessidade de se conectar por fios para utilizar o laptop. Para Lima, trata-se de um sistema de inclusão que promove uma simbiose, sem necessidade de acoplamento cirúrgico. “É uma uma cooperação entre tecnologia e corpo”, frisa. O projeto, aprovado pelo CNPq em dezembro de 2011 e trabalhado ao longo deste ano – em parceria com a Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI) e com a empresa Ortobras, fabricante da cadeira de rodas -, deve chegar ao mercado em 2013. A estimativa é de que o custo do kit seja entre R$ 3 mil e R$ 5 mil – desconsiderando o valor da cadeira.
Fonte: Terra