Deficiência Física

Cadeirantes fazem protesto na BR-040

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Pessoas que perderam os movimentos e hoje estão em cadeiras de rodas após terem sido vítimas de acidentes se engajam em campanha de conscientização e abordam motoristas

Uma blitz especial foi montada no posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) próximo a Santa Maria, na BR-040, que dá acesso a Valparaíso (GO). Cerca de 350 carros foram parados na manhã de ontem por cadeirantes que levavam aos motoristas mensagens sobre a importância de se obedecer às leis de trânsito em respeito à vida. O trauma da maioria dos portadores de necessidades físicas que participaram do ato foi causado pela imprudência nas vias do Distrito Federal e Entorno. A campanha foi aprovada pelo público-alvo. “Achei a atitude ótima. Tem muita gente que bebe e esquece que acidentes fatais, ou que deixam sequelas podem acontecer a qualquer um. E essas pessoas vieram nos acordar para isso”, afirmou a fisioterapeuta Larissa Pinheiro, 23 anos, que foi abordada pela operação.

A iniciativa partiu da União dos Deficientes de Valparaíso de Goiás (UDVG), em parceria com a PRF e o Detran. A blitz foi montada em um ponto estratégico. A BR-040 é a saída mais movimentada de Brasília.

Por lá, circulam em média 40 mil carros por dia, de acordo com o inspetor da PRF André Alves. O presidente da UDVG explicou que objetivo da campanha é promover a conscientização no trânsito. “A gente sente na pele a dificuldade diária dos cadeirantes. Como a maioria deles está nessa situação em consequência de acidentes, nada mais oportuno do que trazer a mobilização para rodovia.”

“Ao fim de cada plantão, quando verificamos as estatísticas, são muitos os casos que acabam em amputação. O que a gente pede é que as pessoas respeitem as leis de trânsito”, reforçou o inspetor De Lucas Barbosa. Foi por causa de um acidente de trânsito que o policial reformado Luís Maurício Alves dos Santos, 43 anos, está numa cadeira de rodas há 11 anos e não tem previsão de voltar a andar. “Nós, cadeirantes, ainda somos submetidos a todo tipo de preconceito. O meu grande consolo é saber que existem pessoas em situações ainda piores que a minha e conseguem levar uma vida normal, trabalhando, estudando, apesar de todas as adversidades”, conta.

A dona de casa Ivaneide Nunes de Lima, 30 anos, ficou paralítica há oito, quando um vírus atacou a sua medula. Ela aderiu à campanha em solidariedade aos colegas que perderam os movimentos por serem vítimas de acidentes de trânsito. “Para que isso não aconteça a outras pessoas, temos que conscientizar os motoristas. A vida de cadeirante é muito difícil. Quando levo minha filha para passear, em vez de eu segurar na mão dela para atravessar a rua, é ela quem me ajuda empurrando a cadeira”, conta a mãe da pequena Nicole Stefany, 9. Nem mesmo o sol quente de ontem cansou Ivaneide, que entregou panfletos sobre cuidados que se deve ter ao dirigir ao maior número de motoristas que conseguiu.

Personagem da notícia
De repente, tudo mudou
Há 11 anos, não passava pela cabeça do policial militar reformado Luís Maurício Alves dos Santos, 43 anos, sentar em uma cadeira de rodas. Mas a imprudência de um motorista em alta velocidade obrigaria o homem apaixonado por esportes e acostumado com a independência a viver uma vida de limitações. No início da madrugada de 5 de setembro de 1998, Luís voltava de moto para casa, no Gama, quando foi atingido por um VW Voyage bege. “A perícia concluiu que o motivo da batida seria o excesso de velocidade do condutor do Voyage”, conta . O carro estaria a mais de 80km/h em uma via de 60km. O condutor fugiu sem prestar socorro à vítima, que ficou no chão. Por causa do acidente, o maranhense Luís, que chegou a Brasília há 30 anos cheio de esperança, ficou paraplégico. O homem que teria causado o acidente foi preso em flagrante dentro de casa, graças às testemunhas que anotaram a placa do carro. “Por três anos, ele (condutor do Voyage) prestou serviços comunitários. E eu fui condenado a nunca mais andar. A minha esperança é a evolução das pesquisas com células embrionárias”, desabafa Luís. Pai de duas filhas adolescentes, o policial vive atualmente na casa da mãe, de quem recebe apoio. Hoje, a vida de Luís é dedicada à luta pela dignidade das pessoas portadoras de deficiências. Ele é coordenador do Fórum de Apoio das Entidades e Pessoas com Deficiência do DF e Entorno (Faped) e conselheiro do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Coddede).

Depoimento
Valor à vida
“Era uma quarta-feira, 11h30, quando tudo aconteceu. Trabalhava de barman em Goiânia e voltava para casa em Valparaíso de Goiás de transporte pirata. Era um Fiat Tempra, onde estavam eu e mais três pessoas, além do motorista. No trevo de Neropólis (município goiano), perto de Anapólis, passou um carro da polícia, e o motorista, acredito que por estar irregular, se assustou, perdeu o controle do veículo, bateu em um outro e capotou. Todos nós voamos para fora do veículo. O motorista que estava sem cinto morreu. Eu quebrei a coluna, cinco costelas e a clavícula. Foram 11 meses de internaçã.o Perdi os movimentos do umbigo para baixo. Não tenho chances de recuperação, já que a minha coluna quebrou mesmo, não foi só lesão. O acidente ocorreu em 31 de março de 2004. Ao longo desses anos, aprendi muitas coisas que antes não sabia. Entre as boas, aprendi a valorizar o que a vida tem de melhor para mim, que é sobretudo estar vivo.”
José Raimundo Santos, 33 anos, artesão, morador de Valparaíso de Goiás.

Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

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