Caminhada de paraplégico na Copa é só primeiro passo, diz Nicolelis
Cientista comanda equipe de cientistas do projeto ‘Andar de Novo’. Segundo Nicolelis, exoesqueleto será aperfeiçoado depois da Copa.
Colocar um paciente paraplégico para caminhar dentro de campo e dar o pontapé inicial da Copa do Mundo no Brasil será apenas o primeiro passo de um projeto que continuará a ser desenvolvido, com o objetivo de ajudar pessoas com paralisia a andar novamente, afirmou o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis em entrevista à Reuters.
Nesta quinta-feira (22), o cientista divulgou em seu Facebook um vídeo, que mostra novo teste com o exoesqueleto, no qual um voluntário dá 12 passos. Veja o vídeo.
À frente de uma equipe de 156 cientistas de 25 países, Nicolelis está concentrado na reta final para a demonstração na abertura do Mundial, em 12 de junho, quando um paciente paraplégico caminhará pelo campo da Arena Corinthians usando uma estrutura robótica chamada de exoesqueleto e dará o pontapé inicial da partida entre Brasil e Croácia.
“A demonstração da Copa é simbólica… Não é ciência. A ciência nós fizemos aqui (no laboratório). Está sendo feita aqui… É quase que um presente do Brasil para a humanidade, mas é só o começo, é um primeiro passo, literalmente”, disse o neurocientista em entrevista à Reuters no laboratório instalado desde novembro na zona sul de São Paulo.
“O intuito, a longo prazo, de toda a rede Walk Again pelo mundo afora, é criar tecnologias que possam ser usadas pelos pacientes. Não só o exoesqueleto, existem outras tecnologias em que estamos trabalhando”, acrescentou. Todos os oito pacientes que participam do projeto já caminharam com o exoesqueleto, usando comandos cerebrais.
Eles também passaram pelo que Nicolelis chama de “treinamento cerebral” num sofisticado simulador em que os pacientes comandam os movimentos de um avatar na tela e recebem, por meio de sensores táteis, a sensação de estarem caminhando.
Para realmente deixá-los preparados para o ambiente da abertura do Mundial, o som ambiente é o de uma barulhenta torcida. Entre as torcidas ruidosas escolhidas pela equipe de Nicolelis estão a alemã e a turca.
“(A ideia) é fazer o cérebro imaginar que as pernas funcionam de novo”, explica o cientista sobre o simulador, que foi testado, inclusive, pelo ex-atacante da seleção brasileira Ronaldo, numa visita que fez ao laboratório de Nicolelis.
Após este treinamento cerebral, os pacientes passaram a usar o exoesqueleto, ferramenta que permitirá não apenas que eles andem novamente usando os comandos cerebrais, mas também que sintam a sensação de caminhar, graças a uma “pele artificial” coberta por sensores, que vai revestir o aparelho.
E a equipe de Nicolelis já mira melhorias no exoesqueleto, como a redução do peso dos atuais 70 quilos para 50 quilos, já antes da abertura da Copa, e num prazo um pouco maior, a inclusão de braços no aparelho para que ele também seja usado por pacientes tetraplégicos.
O projeto Walk Again (Andar de Novo) teve sua ciência básica – experimentos em animais, por exemplo – financiada pelo National Institutes of Health (NIH), órgão do governo dos Estados Unidos que é a maior agência de pesquisa biomédica do mundo. A fase clínica, que está sendo feita no Brasil, tem financiamento de 34 milhões de reais da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa de fomento à pesquisa ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia.
Mais fácil o Palmeiras ser campeão
Formado em medicina pela USP e professor da Universidade Duke, nos Estados Unidos, Nicolelis é frequentemente apontado como favorito para se tornar o primeiro brasileiro a vencer o Prêmio Nobel. Perguntado sobre a possibilidade, o palmeirense roxo que não tirou o boné do alviverde em nenhum momento da entrevista, faz graça.
“É certamente bem mais fácil o Palmeiras ser campeão”, ri, antes de dar de ombros para a premiação sueca. “Existe um certo fetiche por prêmios no Brasil, é parte, num certo sentido, do nosso complexo de vira-lata, que saiu do futebol, mas não saiu de vários aspectos da nossa cultura”, comentou o cientista, que tem em Santos Dumont uma grande inspiração.
“Cientistas que eu conheci na minha carreira que não ganharam o Prêmio Nobel, fenomenais, nunca perderam o sono da noite, porque eles sabem que a contribuição deles vai entrar para a história, a despeito do que um grupo de pessoas decida na Suécia.”
O neurocientista, que mostra seu patriotismo com uma bandeira do Brasil sempre ao lado do exoesqueleto e com fotos da seleção brasileira espalhadas pelo laboratório, manifesta confiança na realização da Copa e vê um “pessimismo exacerbado” vigente hoje no país.
Reclama ainda do fato de que algumas pessoas “jogaram contra” seu projeto no Brasil, e atribui o fato à uma “polarização” que o país vive sem, no entanto, entrar em detalhes.
Nicolelis, de 53 anos, guarda ainda um grande segredo: usará ou não o inseparável boné do Palmeiras diante de 68 mil torcedores na Arena Corinthians, estádio do maior rival do alviverde?
“Essa é a pergunta mais importante de todo projeto. É a pergunta que aterroriza o meu pai corintiano”, brinca. “Vou deixar em segredo isso, até o momento final.”
Fonte: G1
Eu como brasileiro fico feliz de não ser só lembrado como a patria da chuteiras, isto sim é brasil, feito de pessoas que sabem fazer a diferença.