Cientistas obtêm células-tronco de leite materno
As propriedades do leite materno alimentam a esperança de pesquisadores da UFRJ de conseguir produzir células-tronco em larga escala, que poderão ser usadas no tratamento de diversas doenças. O desafio era vencer a barreira natural imposta pelo baixo número destas células no leite, explica a responsável pela pesquisa Janaína Machado, mestre em Ciências Morfológicas pela UFRJ. Há cerca de três meses, técnicas desenvolvidas no laboratório da Cryopraxis, no Polo de Biotecnologia do Rio, na Ilha do Fundão, permitiram que este número fosse multiplicado por cem em apenas duas semanas.
– Embora existam em pequena quantidade (cerca de 14 mil células-tronco por mililitro de leite), elas têm grande capacidade de proliferar – diz Janaína. – O próximo passo é poder produzir células em larga escala. Os testes em animais devem começar até o ano que vem e permitirão avaliar a segurança.
Os tratamentos com células-troncos obtidas no leite materno devem ser realizados até o final da década. Consultora científica da pesquisa, Maria Helena Nicola explica que um dos principais benefícios da técnica é dispensar cirurgias.
(Veja: Garota de 3 anos é submetida a um transplante de célula-tronco de seu próprio cordão umbilical)
– A novidade foi conseguir em laboratório que essas células proliferem sem perder suas características. Assim, poderão dar origem a inúmeros tecidos – ressalta Maria Helena.
A existência de células-tronco no leite materno foi descrita por cientistas australianos em 2007. Há três anos, começaram as pesquisas no Brasil. A descoberta, porém, não substitui as células obtidas a partir do cordão umbilical. Lá, a diversidade e quantidade é muito maior – cerca 800 milhões de células-tronco são obtidas em 70 mililitros de sangue coletados.
– Para recuperar a medula óssea, é necessário dispor de células-tronco hematopoiéticas (precursoras dos glóbulos sanguíneos). Há, ainda, as células-tronco mesenquimais, que formam todos os outros tecidos, neurais, ósseos e cartilagens – explica a consultora. – A medula óssea e o cordão umbilical têm os dois tipos em quantidade. Todas as outras fontes de células-tronco, inclusive o leite, contam predominantemente com células-tronco mesenquimais.
O leite para as pesquisas foi obtido de 30 voluntárias, mães de bebês de três dias a um ano e meio de idade. As doadoras fazem a coleta com bombinhas e colocam o leite em solução preservadora, com conservante, nutrientes e antibióticos. É feita, então, a centrifugação para separar as células-tronco dos demais elementos do leite, como gordura e parte líquida. Mais pesadas, as células-tronco vão para baixo e são coletadas. Os pesquisadores, então, colocam-nas em um meio de cultivo.
– Queremos registrar a patente neste passo de expansão das células-tronco e de aprimoramento da separação delas do leite – diz Janaína.
Nas garrafas de cultivo, as condições são semelhantes às que existiam dentro do corpo feminino. Temperatura, umidade, pressão e teor de oxigênio e de gás carbônico são ideais para que as células-tronco se reproduzam.
– Mantemos as condições para que elas se sintam em casa e consigam crescer. A divisão celular é exponencial – ressalta Maria Helena.
A previsão é que, depois dos testes feitos com animais, a última etapa envolva a participação de pessoas. A pesquisa não conta com financiamento público, sendo mantida pela Cryopraxis, uma empresa especializada no armazenamento de longa duração de células-tronco do sangue do cordão umbilical.
Outra pesquisa também obteve avanços com células-tronco. Os cientistas Deivid Carvalho Rodrigues, Turan Urmenyi e Regina Goldenberg, todos da UFRJ, além de Antônio Carlos Campos de Carvalho, do Instituto Nacional de Cardiologia, conseguiram produzir células-tronco a partir do sangue menstrual. O trabalho será publicado na revista “Cell Transplantation”.
– Induzimos uma célula-tronco do sangue menstrual a se comportar como uma célula embrionária, capaz de gerar qualquer célula do organismo – explica Antônio Carlos.
Fonte: http://oglobo.globo.com/
Pacientes com doenças neuromusculares sonham com uma terapia com ct segura e eficaz. A Cryopraxis está partindo do “zero”, quando ela poderia direcionar toda essa fortuna que será empregada nesse estudo em alguma outra pesquisa c/ ct já adiantada. Com isso, ela queimaria etapas e agilizaria todo esse processo de pesquisa. E quem seriam os beneficiados?
Todos, com certeza. Mas principalmente os pacientes, já que as doenças neuromusculares são progressivas e degenerativas, não havendo tempo p/ pesquisas demasiadamente e desnecessariamente longas.