Claudio Arruda: um cavaleiro com síndrome de down movido pela paixão
Caro leitor,
A matéria abaixo foi extraída do site Mundo Equestre.
Através de sua paixão por cavalos, o jovem Claudio Aleoni Arruda, que tem Síndrome de Down, foi capaz de enfrentar grandes desafios e demonstrar que superar limitações é apenas uma questão de força de vontade.
Natural de São Paulo, Claudio teve o primeiro contato com equinos na fazenda da família em Santana do Deserto, Minas Gerais. Sob os olhos atentos do pai, com apenas cinco anos aprendeu a montar na égua Borboleta. “Uma professora”, diz o jovem. Foi ela quem o ensinou a marchar, galopar e vencer os medos.“Falar dela me traz lindas lembranças, várias emoções. Pena que ela já se foi. Tenho muitas saudades”.
Quando ganhou Hamamélis – da raça Mangalarga Marchador – a experiência de Claudio aumentou consideravelmente. Aos poucos, adquiriu a confiança para tocar o gado e montar outros cavalos. As atividades que realizava na fazenda foram um estímulo para se especializar na arte de montar. “Os cavalos ajudam as pessoas com deficiência a voltar a andar e falar”, conta Arruda.
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Com quinze anos, o jovem cavaleiro entrou na Escola de Equitação da Sociedade Hípica Paulista, onde aprendeu a saltar e fez diversos amigos. “Na Hípica, além de me encontrar com os amigos, sempre vejo mulheres muito bonitas”, enfatiza.
As atividades na Escola de Equitação ajudaram Claudio a ganhar postura, equilíbrio e domínio. Apesar das dificuldades, o apoio familiar e a força de vontade fizeram com que saltar quarenta centímetros fosse apenas o começo de suas conquistas. Quando se considerou preparado, o cavaleiro passou para o salto de sessenta centímetros, mesmo com a resistência inicial dos professores. “Apesar de todos me conhecerem bem, os professores tinham medo de me passar para os sessenta centímetros. Mas minha mãe, sempre presente, conversou com eles e disse que eu seria capaz”.
Após adquirir experiência, Claudio queria ir mais longe: participar de campeonatos. Os primeiros títulos vieram em 2009, quando se tornou Vice-Campeão da Regional Metropolitana de São Paulo e Vice-Campeão Paulista de Hipismo na série intermediária saltando 60 cm. Atualmente, para manter o ritmo, o cavaleiro treina três vezes por semana. “Dois dias são destinados a aulas de salto e um para adestramento, que ajuda na minha postura e a montar melhor”, explica.
Nos concursos, as maiores dificuldades que o cavaleiro encontra são as relacionadas ao desenho do percurso. Para decorá-lo, além de caminhar pela pista, o atleta criou um sistema de cores. “Cada obstáculo tem uma cor, um desenho e os números para seguir. Mas na hora da prova fica mais fácil seguir as cores para não errar”. Quando cavalga, o jovem se espelha em Doda Miranda, seu grande ídolo. “Ele é campeão de hispimo e abriu os meus olhos para o esporte. Um dia quero ser como o Doda, esse é meu sonho”.
Desafios cotidianos
A superação no hipismo foi necessária também para a vida pessoal de Claudio. Apesar de ter completado o ensino fundamental e possuir curso de informática, muitas portas foram fechadas no início da busca pela carteira assinada. Aos 21 anos, o cavaleiro conseguiu estágio nas Paraolimpíadas Desportivas para auxiliar pessoas com deficiência. Contudo, o primeiro emprego apareceu somente por meio do apoio da Associação Carpe Diem. “A associação acredita em nós e nos ajuda a arrumar emprego, afinal somos pessoas normais e temos sonhos. Queremos trabalhar, namorar e passear como todo mundo”, afirma o ginete.
Pelo seu espaço
Em 2006, conseguiu uma vaga como assistente de serviços gerais numa rede de restaurantes. Mas a busca por novas oportunidades não havia finalizado. Arruda resolveu ir atrás do sonho de trabalhar com cavalos, se tornando assistente de instrutor no Pônei Clube do Brasil. “Eu era estagiário e certo dia a diretora Françoise Denis me disse que um funcionário estava saindo e eu seria contratado a partir de agosto de 2011. O Pônei Clube não me contratou por lei de cotas e sim, pelas minhas qualidades, meus méritos e por tudo o que eu sei fazer com os cavalos, inclusive saltar”, se orgulha o cavaleiro.
Claudio vive sem limitações. Sabe nadar, já foi goleiro do Clube Banespa e até se arriscou no tênis de mesa, além de ser um grande apaixonado pelo Corinthians. Aos portadores da Síndrome de Down, o cavaleiro deixa um conselho: “Sigam meu exemplo. Tenham garra, muita fé e determinação e acreditem sempre”.