Com 5 votos a favor, STF suspende julgamento de aborto de anencéfalos
“O problema maior seria a ampliação do aborto. Hoje discute-se sobre anencéfalos, depois vão permitir outros tipos de aborto. Isso não pode acontecer”, afirmou Lenise Garcia, presidente do Movimento Nacional de Cidadania pela Vida – Brasil Sem Aborto.
Dos 6 que votaram, somente 1 foi contra liberar aborto de feto sem cérebro. Julgamento será retomado nesta quinta; 4 ministros ainda precisam votar.
O Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu nesta quarta-feira (11) o julgamento de ação que pede a liberação do aborto de feto sem cérebro após o voto de seis ministros. Cinco votaram a favor da liberação – Marco Aurélio Mello, Rosa Weber, Joaquim Barbosa, Luiz Fux e Cármen Lúcia. Apenas Ricardo Lewandowski foi contra.
Faltam ainda os votos dos ministros Ayres Britto, Gilmar Mendes, Celso de Mello e do presidente do STF, ministro Cezar Peluso. O ministro Dias Toffoli se declarou impedido de votar porque, quando era advogado-geral da União, se manifestou publicamente a favor da liberação.
O julgamento será retomado na tarde desta quinta-feira (12), às 14h, segundo o presidente do Supremo. A interrupção ocorreu porque parte dos ministros precisava participar de sessão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nesta quarta.
O plenário do STF iniciou nesta quarta a análise da ação proposta em 2004 pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde, pedindo que o Supremo permita, em caso de anencefalia, que a mulher possa escolher interromper a gravidez. De acordo com o Código Penal, o aborto é crime em todos os casos, exceto se houver estupro ou risco de morte da mãe.
O ministro relator, Marco Aurélio Mello, considerou inconstitucional a interpretação que trata como crime interromper a gravidez de feto anencéfalo.
De acordo com Mello, o termo aborto não é correto para casos de anencefalia pois não há possibilidade de vida do feto nessas condições.
“Aborto é crime contra a vida. Tutela-se a vida em potencial. No caso do anencéfalo, não existe vida possível. O feto anencéfalo é biologicamente vivo, por ser formado por células vivas, e juridicamente morto, não gozando de proteção estatal”, afirmou o relator.
Para os ministros que acompanharam o relator, a decisão de interromper a gravidez do feto sem cérebro é direito da mulher, que não pode ser oprimida pela possibilidade de punição. A decisão do STF valerá para todos os casos semelhantes e os demais órgãos do poder público serão obrigados a respeitá-la.
“Não é escolha fácil. Todas as opções são de dor. Exatamente, fundado na dignidade da vida, neste caso, acho que esta interrupção não é criminalizável. […] O útero é o primeiro berço do ser humano. Quando o berço se transforma em um pequeno esquife a vida se entorta”, afirmou a ministra Cármen Lúcia.
“É tão justo admitir que a mulher aguarde nove meses para que dê a luz ao feto anencefálico e também representa a Justiça não se permitir que uma mulher que padece dessa tragédia de assistir durante nove meses a missa de sétimo dia do seu filho seja criminalizada e colocada no tribunal de júri como se fosse a praticante de um crime contra a vida”, afirmou o ministro Luiz Fux.
“O crime de aborto quer dizer a interrupção da vida e, por tudo o que foi debatido nesta ação, a anencefalia não é compatível com essas características que consubstanciam a ideia de vida para o direito”, declarou a ministra Rosa Weber.
Alguns ministros ressaltaram que o Supremo não está discutindo a legalização do aborto de modo geral ou obrigando mulheres grávidas de fetos anencéfalos a interromper a gestação. A Corte discute se é crime interromper a gestação de um feto que, segundo a opinião de alguns especialistas, não tem chances de vida fora do útero.
“Faço questão de frisar que este Supremo Tribunal Federal não está decidindo permitir o aborto”, disse Cármen Lúcia.
“O Supremo, evidentemente, que respeita e vai consagrar aquelas mulheres que desejarem realizar o parto ainda que o feto seja anencefálico”, afirmou Luiz Fux.
A decisão que o Supremo tomar deve ser seguida por todas as instâncias da Justiça e pelos órgãos públicos, conforme a legislação em vigor. Caso alguém se recuse a aplicar a decisão, a gestante pode recorrer por meio de uma reclamação diretamente no Supremo para garantir o direito de abortar.
A decisão do Supremo, no entanto, não impede o Congresso Nacional de aprovar uma lei que ratifique a decisão do STF ou que defina regras específicas sobre o aborto de anencéfalos.
Divergência
O ministro Ricardo Lewandowski, que abriu a divergência após cinco votos favoráveis à liberação do aborto, afirmou que o Supremo não pode interpretar a lei com a intenção de “inserir conteúdos”, sob pena de “usurpar” o poder do Legislativo, que atua na representação direta do povo.
“Uma decisão judicial isentando de sanção o aborto de fetos anencéfalos, ao arrepio da legislação existente, além de discutível do ponto de vista científico, abriria as portas para a interrupção de gestações de inúmeros embriões que sofrem ou viriam sofrer outras doenças genéticas ou adquiridas que de algum modo levariam ao encurtamento de sua vida intra ou extra-uterina”, disse Lewandowski.
Interrupção ‘não é aborto’
O advogado Luís Roberto Barroso, que defende os interesses da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde no processo, afirmou durante o julgamento que “não é aborto” a interrupção da gravidez nesses casos. Para ele, como o feto não tem cérebro “não há vida em sentido técnico”.
“A interrupção nesses casos não é aborto. Então, não se enquadra na definição de aborto do Código Penal. O feto anencefálico não terá vida extra-uterina. No feto anencefálico, o cérebro sequer começa a funcionar. Então não há vida em sentido técnico e jurídico. De aborto não se trata”, afirmou Barroso durante sua sustentação oral no plenário do STF.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, concordou com a tese apresentada pela defesa da entidade. “Nada justifica uma restrição tão intensa ao direito à liberdade e autonomia reprodutiva. A mulher tem restrição desproporcional a um direito fundamental de elevada importância na escala de valores constitucionais. A proibição da interrupção da gravidez nessas trágicas circunstâncias tende a agravar e prolongar essa dor”, completou Gurgel.
Para a presidente do Movimento Nacional de Cidadania pela Vida – Brasil Sem Aborto, Lenise Garcia, se o aborto de anencéfalos for aprovado pela Corte, “será um ponto negativo para o país”.
“O problema maior seria a ampliação do aborto. Hoje discute-se sobre anencéfalos, depois vão permitir outros tipos de aborto. Isso não pode acontecer”. Segundo Lenise Garcia, a entidade que representa mantém contato com grávidas de bebês anencéfalos. “Pelo que constatamos, as mães que abortam os bebês sofrem mais do que aquelas que lutam até o fim pela vida das crianças’, disse.
“Ser com sentimentos”
Apesar do diagnóstico de anencefalia, Vitória nasceu com um resquício de cérebro e couro cabeludo (acrania), conforme especialistas ouvidos pelo G1. Eles informaram que trata-se de uma “sobrevida vegetativa” e a mãe poderia ter pedido a interrupção da gravidez por conta do diagnóstico.
“Ela é uma criança com deficiência neurológica e precisa de estimulação, porém ela não é um vegetal, não é uma coisa. Ela é um ser humano com sentimentos”, disse a mãe.
Anencefalia
Além das questões jurídicas, o plenário do Supremo debate o que diz a ciência sobre a anencefalia. Em 2008, especialistas e entidade da sociedade civil apresentaram no Supremo durante audiência pública conceitos e opiniões sobre o assunto.
O relator do caso citou dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), referentes ao período entre 1993 e 1998, segundo os quais o Brasil é o quarto país no mundo em incidência de anencefalia fetal, atrás de Chile, México e Paraguai.
A chamada anencefalia é uma grave malformação fetal que resulta da falha de fechamento do tubo neural (a estrutura que dá origem ao cérebro e a medula espinhal), levando à ausência de cérebro, calota craniana e couro cabeludo. A junção desses problemas impede qualquer possibilidade de o bebê sobreviver, mesmo se chegar a nascer.
Estimativas médicas apontam para uma incidência de aproximadamente um caso a cada mil nascidos vivos no Brasil. Cerca de 50% dos fetos anencéfalos apresenta parada dos batimentos cardíacos fetais antes mesmo do parto, morrendo dentro do útero da gestante, de acordo com dados da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Um pequeno percentual desses fetos apresenta batimentos cardíacos e movimentos respiratórios fora do útero, funções que podem persistir por algumas horas e, em raras situações, por mais de um dia. O diagnóstico pode ser dado com total precisão pelo exame de ultrassom e pode ser detectado em até três meses de gestação.
A anomalia pode ser diagnosticada, com certa precisão, a partir das 12 semanas de gestação, através de um exame de ultra-sonografia, quando já é possível a visualização do segmento cefálico fetal. [carece de fontes] Feto anencéfalo. O risco de incidência aumenta 5% a cada gravidez subsequente. Inclusive, mães diabéticas têm seis vezes mais probabilidade de gerar filhos com este problema. Há, também, maior incidência de casos de anencefalia em mães muito jovens ou nas de idade avançada. Uma das formas de prevenção mais indicadas é a ingestão de ácido fólico antes e durante a gestação.
Fonte: G1; Wikipédia
Bom dia Vera. Há algum tempo venho acompanhando seu blog.
Hoje de manhã vi rapidamente uma reportagem sobre esse assunto e ler seu post foi muito esclarecedor. Conhecer um pouco da história dessa mãe e de sua filha muito tocante. Quando ela diz “ela é uma criança […] porém ela não é um vegetal, não é uma coisa”, nos faz refletir muito. Acreditar na vida sempre, em suas múltiplas possibilidades, não limitar os seres tão pouco suas capacidades de crescimento e desenvolvimento. Abraços.
Olá Karyne!
Também penso como você…
Um grande abraço!
Sou contra o aborto, se a criança veio com alguma sequela com certeza é porque seus pais têm que passar por alguma provação. Onde a vida a esperança seja na terra, ou seja, no céu…
Abraço Vera!!
Abraços, Maheus!!
Esses dias estava ouvindo a rádio globo, e uma mulher deu uma entrevista dizendo que sua filha anencéfala, morreu 6 minutos após o parto, quando ela teve a filha ela segurou em seus braços e disse pra nenêm que a amava muito, e as enfermeiras mediram os batimentos da criança e viram que quando a mãe falava o coração acelerava e mesmo assim ainda existem pessoas que acham que eles não tem vida :/ é muito triste saber disso que a maioria acredita que anencefalia não é uma vida :/
Que horror!
abortar o filho anencefalo…ter um filho sem condições financeiras e jogá-lo em um lixão… abortar um filho porque não está com o pai da criança… pra mim é tudo a mesma coisa. Que tal apoio psicologico?
aah olha a ideia: bolsa anencefalo também seria uma opção já que um dos pais terá que se voltar para a criação da criança.
muitas mulheres com menos de 22 anos por exemplo tem o 3º ou 4º filho e muitas das vezes sem o pai presente, e quando vão tentar fazer a laqueadura não conseguem até chegar aos 25 já tem uns 6 filhos, então lá vai bolsa familia, bolsa escola… E nesses casos em que a criança ja foi gerada querem decidir assim aborto e pronto, daqui a pouco quando uma mulher grávida souber que seu bebê não tem uma perninha ou um bracinho vai ter o direito ao aborto também. Precisam entender que quem tem que decidir isso não somos nós, temos que apoiar os pais, e seja o que Deus quiser, mesmo que não fique vivo, acho que o fato de uma mãe saber que seu filho é anencefalo e decidir matá-lo com uma frase mais ou menos assim ” filho desculpa, mas estou te matando porque vc não é igual as outras crianças” não resolve!
O amor acontece, sei que é dificil, muito mesmo, mas pais de verdade aprendem a amar seus filhos não importa quem ou como eles sejam.
Tem coisas que a gente ouve e vê, que é difícil de acreditar que venha do próprio ser humano.Como pode uma pessoa decidir num tribunal se é ou não certo, que uma mãe aborte seu filho(a), quem tem que decidir é a pessoas em questão, quem está vivenciando toda a situação é a gestante em questão.Eu SILA, quero deixar claro, que eu sou sempre contra o aborto,”esse ser”,veio por determinação de quem o está gerando, ele não tem a menor idéia de como ele foi parar lá(ventre), independente dele ser “deficiente ou não”.Penso mesmo que deficiente, são esses “seres”, ditos “normais”,que com toda a capacidade de raciocínio, vivem fazendo uma atrocidade adiante da outra, isso é ser normal?Quer saber? Os anencéfalos, também são seres humanos, e na minha opinião, entendem muito bem, o que é AMOR,CARINHO, ATENÇÃO E RESPEITO.Sentem o vento batendo no rosto,o abraço, o barulho,podem sim, não ter 100% de intelecto,mas pergunto: Quem os tem? Os estupradores,os ladrões,os torturadores, os políticos sem pudor? QUEM?Tá na hora de mudar “esses” conceitos,digo tudo isso, porque conheci dois, anencéfalos, e pude sentir neles,toda a vontade de se ter direito á vida,sendo expressada de outras formas.Têem chances de viver menos?Sim, mas tem o direito de viver bem, enquanto ainda vivem.Eu tenho um filho de 21 anos, que é portador da síndrome de down, pode ser até mais amena, mas enfrentei problemas também,pessoas “ignorantes”, que me diziam p/ orar muito que ele ia melhorar, que olhavam p/ ele e diziam:”coitadinho ou “tadinho”, enfim, uma imensidade de besteiras, por falta de conhecimento,elas tem culpa? Não,pois “esse’mundo nosso,fomos ensinados p/ amar e respeitar o que é dito”IGUAL”, o “DIFERENTE”,não tem vez. VAMOS MUDAR ISSO, CONSCIENTIZANDO ÀS PESSOAS, de que TODOS nós, somos seres humanos e filhos do mesmoDEUS.