Com autismo e altas habilidades, curitibana de 15 anos vai cursar medicina na UFPR
Natãmy Nakano, que aprendeu a ler aos dois anos, gabaritou 10 de 14 questões na segunda fase do vestibular; ‘Com esforço podemos conquistar até mais coisas do que uma pessoa considerada normal’, diz ela.
A curitibana Natãmy Nakano, de apenas 15 anos, que mora em São José dos Pinhais, na Região de Curitiba, vai cursar medicina na Universidade Federal do Paraná (UFPR), o curso mais concorrido da instituição, a partir deste ano.
Natâmy tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), chamado Síndrome de Asperger, ela tem altas habilidades e superdotação.
A adolescente, que aprendeu a ler aos dois anos, gabaritou 10 de 14 questões, sendo que acertou parcialmente as outras quatro. A matrícula do curso foi feita na terça-feira (22), e o início das aulas está marcado para 4 de fevereiro.
“Se você tem um sonho, você tem que realizar independente da barreira. Estamos vivos, nada é por acaso. Com esforço podemos conquistar até mais coisas do que uma pessoa considerada normal”, diz Natãmy.
Filha única, a menina teve um problema de incompatibilidade sanguínea logo após nascer, que poderia ter deixado ela em estado vegetativo, conta Andréia Pichorim, que define a filha como “poço sem fundo de conhecimento”.
“Não sabíamos qual seria o futuro dela, e então começamos a estimular desde cedo. Lia livros massageando a barriga, e depois de nascer interagíamos com ela o tempo todo com brincadeiras e atividades”, conta a mãe.
Mais tarde, depois da descoberta da síndrome, Natãmy também desenvolveu hipersensibilidade nos sentidos, o que causa incômodo e até dor física com cheiros, barulhos, luzes, roupas, etiquetas e até alimentos.
Segundo a mãe, que também é portadora da Síndrome de Asperger e altas habilidades, um tumor no cérebro que ela teve quando a filha tinha dois anos ajudou a despertar o desejo da menina pela medicina.
“Acho que ela tinha medo de me perder. É um amor pela profissão que veio das raízes de outro amor, o amor de mãe e filha.”
A inteligência extrema dela não significou uma vida fácil, até por conta do autismo.
“Eu era vista como a esquisita, hiperativa, a louca. Sofri muito bullying, não tinha amigos. Eu só sabia que eu tinha altas habilidades e superdotação assim como minha mãe, mas nada que pudesse me fazer diferente ou excluída pelos outros colegas”, explica.
Natãmy conta que os professores, em geral, não entendiam como ela aprendia tudo tão rápido. Quando estava na terceira série do ensino fundamental, já buscava saber dos conteúdos da oitava.
“Eu sentia que estava perdendo tempo, eu queria aprender mais. Eu não tinha amigos, então eu só tinha o estudo pra me distrair”, diz Natãmy.
Passou do sexto ano para o sétimo, e do sétimo foi direto para o nono ano. Ainda durante o ensino médio, a estudante fez iniciação científica em bioquímica e participou de simpósios.
Natãmy presta vestibulares desde os 11 anos. Aos 13, já havia conquistado uma vaga em engenharia de bioprocessos na UFPR e, no mesmo ano, se tornou aluna do curso técnico em gás e petróleo da instituição.
“Precisava mandar ela comer, dormir, andar um pouco, se não era estudo 24 horas. Ela é hiperfocada”, explica a mãe.
Mas o sonho da menina era mesmo medicina. E no dia 11 de janeiro deste ano recebeu a tão esperada notícia da aprovação.
“Tinha esperança, mas não era nada confirmado. Minha mãe queria me jogar na lama há muito tempo. Levei boia, óculos e touca de natação até. Agora tenho pelo menos seis anos para tentar fazer amigos de novo”, conta, com animação.
Ela afirma que mesmo com as limitações de contato com o público, espera se especializar em pesquisa ou cirurgia. E antes mesmo de as aulas começarem, já está estudando bioquímica.
Aliado aos estudos relacionados ao curso superior, Natãmy ainda se dedica a outros tipos de conhecimento.
“Nesse primeiro semestre pretendo fazer um curso de corte e costura para produzir minhas próprias roupas, já que tenho sensibilidade”, diz a menina.
Na universidade, ela ainda terá a companhia da mãe, que é doutoranda em engenharia de materais e nanotecnologia. “Passei oito anos sem conseguir escrever, e hoje aos 41 anos, vou poder acompanhar a minha filha na UFPR”, afirma.
Fonte: G1
eu tô muito muito contente com essa notícia, desejo muito sucesso pra essa moça, que ela possa continuar superando os obstáculos que a vida trouxer, e não desista de seus sonhos <3
Como ele pode fazer a prova se uns dos requisitos é ter o ensino médio completo ou estar terminando?
Todo o sucesso a Natâmi, tenho um neto asperger que tb aprendeu a ler entre dois e três anos(não sabemos com precisão porque ele aprendeu sozinho), fico feliz sabendo de outras crianças como Arthur, meu neto, é bom ter companhia.