Conheça Camille Rodrigues, esperança de medalha na Paralimpíada
Aos 24 anos, a nadadora Camille Rodrigues (com sua estilosa prótese de perna tatuada) se prepara para disputar a primeira Paralimpíada
Num tempo em que se discutem o empoderamento feminino e a quebra de padrões de beleza, a atleta paralímpica Camille Rodrigues dá uma aula. Ao receber a reportagem da PLAYBOY, numa sexta-feira de um inverno bem brasileiro, já foi logo contando: “Quando vocês me ligaram para marcar, achei que era um convite para fazer o ensaio de capa e pensei: ‘Uau, uma deficiente na capa! Vou arrasar!”, relata Camille.
Nadadora da seleção brasileira paralímpica e dona de cinco recordes, Camille teve de amputar a perna direita pouco antes dos 3 anos de idade por problema congênito de má-formação. A decisão não foi fácil para os pais da menina, dois comerciantes da pequena cidade de Santo Antônio de Pádua, no Rio de Janeiro. “Minha mãe ficou com medo de eu culpá-la, mas não tinha o que fazer a não ser retirar tudo até a altura do joelho”, lembra Camille. Após a cirurgia, que manteve apenas o fêmur (osso na parte superior da perna), Camille passou a usar próteses. “Eu era muito arteira quando criança, quebrei várias próteses.
Meu pai tinha que se virar para consertá-las”, conta. Durante 18 anos, a única alternativa viável era o membro mecânico proveniente do SUS (Sistema Único de Saúde). “As pessoas criticam o SUS, mas eu sobrevivi muito bem com a perna deles por 18 anos, e só tenho a agradecer”, afirma.
A prótese nunca foi um impedimento para Camille, que, ao contrário de qualquer expectativa ou prognóstico, vem desbravando o exigente mundo do esporte profissional. Aos 14 anos, quando ainda morava na cidade natal, o pai a levou para fazer natação e o professor observou que havia talento quando ela começou a ganhar das pessoas sem deficiência nas competições locais. Promissora e dedicada, deixou o interior rumo a Niterói, onde ficou quatro anos e começou a desenvolver o nado visando disputas profissionais. A primeira prova numa categoria não amadora foi um desastre: dividida em duas etapas, o técnico confundiu (e perdeu) o horário da primeira; na segunda, a atleta estreante queimou a largada. “Eram outros tempos”, ri Camille, que de lá para cá domou o nervosismo e conquistou cinco títulos importantes – é recordista brasileira em cinco provas (50 metros livres, 100 metros livres, 100 metros costas, 100 metros borboleta e 400 metros livres).
Outra mudança significativa nesse meio-tempo foi a prótese. Em 2013, a marca Conforpés procurou a atleta lhe oferecendo um patrocínio, e hoje Camille tem quatro próteses à disposição: uma específica para o banho, outra para correr, uma adaptada para o uso de salto alto – que ela adora, coleciona e usa sempre – e uma para usar no dia a dia. Todas são tatuadas com desenhos exuberantes: uma remete à galáxia, com tons de roxo e azul, outra tem labaredas de fogo.
De olho nas Paralimpíadas, a atleta intensificou os treinos de olho na boa performance na competição mundial. Além das seis horas de exercício diárias, faz questão de ir de bicicleta até a academia, onde faz natação, ou até o Parque do Ibirapuera, onde costuma praticar outros exercícios físicos. “Minha maior preocupação é dar meu melhor: melhores tempos, melhores colocações. É a maior disputa da minha carreira, e tem o fator de estar em casa”, comenta Camille quando perguntada sobre a pressão de disputar os primeiros Jogos Paralímpicos.
Aos fins de semana, gosta de passar tempo com o namorado, um estudante de fisioterapia. “É ótimo ter um fisioterapeuta em casa!”, brinca Camille. Juntos, eles vão ao cinema, jogam frescobol na praça perto da casa dela, na zona sul de São Paulo, e passeiam com o cachorro – nada diferente da rotina de uma menina vaidosa de 24 anos que passa batom, cuida do cabelo, usa salto alto e está prestes a adicionar medalhas olímpicas à sua coleção de conquistas.
Fonte: Revista Playboy