Danieli Haloten – A estrela no escuro
Primeira cega a figurar entre os protagonistas de uma novela, Danieli Haloten, de Caras & Bocas, é tão obstinada quanto suapersonagem, que luta para conseguir trabalhar
Desde que ganhou projeção nacional como Anita, a cega sonhadora da novela Caras & Bocas, a paranaense Danieli Haloten tem sido assediada por ONGs. Elas reivindicam que sua personagem abrace com mais ênfase as causas dos deficientes visuais. “Nem respondo mais a esses e-mails. Não é por ser cega que tenho de levantar bandeiras”, diz ela. Primeira cega a atuar num folhetim da Globo, Danieli, de fato, já conquistou o que interessa: o público. Uma pesquisa com espectadoras revelou que Anita é um dos acertos da trama das 7 – que, aliás, é o maior sucesso do horário nos últimos tempos.
A personagem está no centro de um romance açucarado: a cena em que seu namorado, Anselmo (Wagner Santisteban), revelou que não era rico como alardeava foi pico de audiência. Além disso, é admirada por sua luta para provar que está apta para o trabalho – contrariando a superproteção condescendente do irmão, Gabriel (Malvino Salvador). No começo, Anita vendia flores num restaurante (alusão à florista de Luzes da Cidade, filme de Charles Chaplin dos anos 30). Na semana passada, conseguiu emprego como recepcionista. “Quero mostrar que a deficiência não impede a pessoa de se realizar. Só que nada vem sem esforço”, diz o autor Walcyr Carrasco.
Filha de um caminhoneiro e de uma dona de casa, Danieli, hoje com 29 anos, perdeu a visão aos 17, em razão de um glaucoma. Cursou artes cênicas e jornalismo e logo se embrenhou na TV, como apresentadora de um programa local em Curitiba. “Desde pequena, eu sabia que meu negócio era trabalhar com teatro e televisão”, afirma. Sua primeira grande chance veio em 2006, quando participou do Profissão Repórter (então um quadro do Fantástico). A conquista do papel em Caras & Bocas mostra o desembaraço da moça. Ela teve a sorte de receber um spam no qual constavam os e-mails de autores e diretores da Globo – e não teve pudor em utilizá-los: “Sempre que algum deles preparava um novo trabalho, eu disparava uma mensagem me oferecendo para o elenco”. Uma dessas ofertas bateu na caixa-postal de Carrasco, que cogitava incluir uma personagem cega em Caras & Bocas – e não queria uma atriz que enxergasse simulando a deficiência. “Buscava alguém com a fragilidade natural de quem se locomove com bengala e cão-guia”, diz.
Danieli decora os roteiros com a ajuda de um programa de computador que os lê com um simulador de voz. Antes das gravações, faz um reconhecimento do cenário e memoriza seus passos. Os atores com quem contracena também precisaram se adaptar – pois a famigerada “química” da interpretação não é obtida pelo olhar, obviamente, e sim pelo tom de voz. Depois de se converter numa das mocinhas da novela, Danieli se mudou para o Rio de Janeiro com sua irmã mais nova, para quem arranjou um emprego de figurante em Caras & Bocas. Trouxe também o labrador Higgans. Recentemente, ela protagonizou um bate-boca num restaurante carioca. O dono tentou proibir a entrada do bicho – ao que a moça bateu o pé. “A Lei do Cão-Guia me dá esse direito”, afirma. Mais adiante, na novela, Anita também vai ganhar seu cão-guia.
Fonte: Veja.Com (12/08/09)