Deficiente luta para superar barreiras
Apesar de uma maior visibilidade, a deficiência ainda não é encarada com naturalidade no País
O tema já chegou até a novela das oito da Rede Globo, Viver a Vida, na pele da personagem de Alinne Moraes, que fica tetraplégica após um acidente. Mas, apesar de alcançar essa visibilidade, a deficiência ainda não é encarada com naturalidade. O preconceito, a falta de informação e a dificuldade em como lidar com pessoas que têm algum tipo de deficiência ainda são barreiras contra as quais milhões de pessoas ainda precisam lutar. Essas, por sinal, são algumas das bandeiras a ser levantadas hoje, no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência.
O Brasil tem, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), que instituiu a comemoração em 1992, cerca de 27 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. No mundo, são 650 milhões de pessoas, o que representa cerca de 10% da população. Em Campinas, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 11,4% da população vivem na mesma situação. “O preconceito vem diminuindo, mas a falta de informação ainda é muito grande”, diz o doutorando em economia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Vinícius Gaspar Garcia, de 33 anos. Ele ficou tetraplégico em 1995, depois de um acidente ao mergulhar na parte rasa de uma piscina durante uma festa de universitários.
Garcia conta que ainda é enorme a curiosidade das pessoas sobre o seu modo de vida, o olhar de estranhamento e, principalmente, a falta de preparo num encontro com ele. “Muitos médicos, inclusive, não sabem como lidar com as diferenças. Várias vezes me perguntaram se alguma parte do meu corpo doía, mas eu não tenho sensibilidade dos mamilos para baixo. O que eu poderia dizer sobre dor a ele?”, afirma. Olhares e comentários entre pessoas que estão próximas, geralmente, considerando-o como um coitado, alguém a se ter pena ou então como um herói, são outros comportamentos habituais que incomodam.
Precisamos ser reconhecidos pela capacidade que temos. As pessoas com deficiência só estão ocupando postos de trabalho, em muitos lugares, por causa da lei que obriga as empresas a terem cotas. Mas precisamos lutar para que esse acesso ocorra porque somos capazes e não simplesmente para que haja o cumprimento de uma lei”, explica a presidente do Conselho dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Campinas, Roseli Bianco Piantoni, que tem distrofia muscular progressiva, doença congênita que se manifestou aos 26 anos e, aos poucos, foi lhe tirando os movimentos das pernas.
“Mas a principal barreira que nós precisamos vencer diz respeito ao que está na mente das pessoas”, afirma Fabiana Bonilha, de 31 anos, que é cega desde o nascimento. A psicóloga, que trabalha no laboratório de acessibilidade da Unicamp, onde também faz doutorado em música, acredita que a informação, desde a infância, é um dos passos importantes para diminuir o preconceito. “Abertamente, todo mundo fala que não tem preconceito, mas no dia a dia, sem perceber, as pessoas cometem atos que demonstram a falta de jeito”, diz.
Como exemplo, Fabiana lembra de uma cena comum, que também foi narrada por Roseli e por Garcia. Quando eles estão acompanhados, é hábito que alguém que queira qualquer informação se dirija ao acompanhante. “Já aconteceu comigo em lojas. Fui com minha mãe comprar uma roupa e em vez de perguntarem para mim se eu gostava de um certo modelo, perguntaram a ela, como se eu fosse incapaz de demonstrar os meus desejos”, afirma.
Fonte: Correio Popular de Campinas (03/12/09)
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