Deficiente visual com cão-guia afirma que foi expulso de loja em SP
Segundo o analista de sistemas Gabriel Vicalvi, o funcionário de uma loja de São Caetano do Sul pediu que ele se retirasse do local, mesmo depois de saber que seu cachorro era um cão-guia. Empresa diz que houve mal-entendido.
Na quarta-feira (20), o deficiente visual Gabriel Vicalvi, de 27 anos, aproveitou o feriado em comemoração ao Dia da Consciência Negra para passear com a família em um shopping de São Caetano do Sul (SP). Além de seus familiares, Vicalvi estava acompanhado de sua inseparável cão-guia, a golden retriever Julia.
Durante o passeio, decidiu entrar na loja de produtos importados Emporium Dinis para comprar um chocolate para a prima. Vicalvi estranhou a demora para ser atendido. Alguns minutos depois que já estava dentro da loja, foi abordado por um funcionário do estabelecimento. “Achei que ele fosse me atender, perguntar se eu precisava de ajuda ou se estava procurando algo especial”, afirma Vicalvi. Para sua surpresa, o funcionário pediu que o cliente, sua prima e a cadela Julia saíssem da loja. Lá, não era permitida a entrada de animais, disse o funcionário, segundo Vicalvi.
Não é a primeira vez que Vicalvi passou por isso. Ele sabe que ainda há muita desinformação sobre os cães-guia no Brasil, já que são tão poucos no Brasil. Do total de 6,5 milhões de cegos no Brasil, apenas cerca de 80 contam com a ajuda de um cão-guia para se locomover. Por isso, Vicalvi carrega sempre no bolso uma cópia da lei que permite a entrada e permanência de cães-guia em todo estabelecimento público e privado, de uso coletivo.
De acordo com Vicalvi, mesmo depois de explicar que é cego e que Julia, por ser seu cão-guia, tem o direito de acompanhá-lo, o funcionário insistiu que eles saíssem. “Ele disse que tinha conhecimento da lei, mas não se importou. Ele me disse que como lá são vendidos alimentos e produtos que podem ser quebrados facilmente, a permanência de animais era proibida”, diz. “Julia sempre me guiou muito bem. Nunca quebro ou esbarro em nada enquanto sou guiado por ela. O funcionário nos tratou de forma extremamente desrespeitosa.” Para evitar uma confusão maior, depois da discussão, eles decidiram ir embora.
ÉPOCA entrou em contato com a Emporium Dinis. Segundo o gerente Marcelo de Oliveira, o episódio não passou de um mal-entendido. O funcionário abordou Vicalvi pois, de fato, não é permitida a entrada de animais no estabelecimento. De acordo com Oliveira, num primeiro momento, o funcionário não percebeu que Vicalvi era deficiente visual e Julia, um cão-guia. Assim que Vicalvi lhe explicou a situação, o funcionário, segundo a versão da empresa, disse que ele poderia permanecer na loja, com a cadela. “Essa história não aconteceu da forma que está sendo veiculada. O funcionário é experiente, tem mais de 40 anos de experiência no comércio, e não teria tal atitude”, disse Oliveira. “Nossa loja é amiga dos animais.”
Desde o ano passado, quando foi presenteado com a cadela, Vicalvi não sai de casa sem ela. Julia o acompanha ao teatro, cinema, shopping, no metrô, ônibus e na empresa onde ele trabalha como analista de sistemas. “Julia é minha companheira, minha guia. Espero que episódios como esse não voltem a se repetir”, diz Vicalvi.
Fonte: Época