'É preciso encarar a vida', diz Dorina Nowill, 90 anos, cega desde os 17
Ela comanda instituição de apoio a deficientes visuais. Por enquanto, a educadora não pensa em parar de trabalhar.
Ela tem 90 anos e uma agenda extensa de compromissos pelo país. Presidente de uma das principais entidades em prol da inclusão de pessoas com deficiência visual do mundo, Dorina Nowill diz que é preciso entusiasmo para superar as dificuldades da vida.
“É preciso encarar a vida como ela aparece. Não se pode disputar com a vida”, aconselha Dorina Nowill, cega desde os 17 anos e há mais de 60 anos trabalhando para que os cegos tenham as mesmas oportunidades na vida que os demais.
Foi uma patologia rara que tirou a visão de dona Dorina, como é chamada na entidade que comanda, a Fundação Dorina Nowill para Cegos, quando ela tinha 17 anos.
Dorina teve hemorragia em uma das retinas e os médicos não conseguiram diagnosticar o problema. Acabou perdendo primeiro a visão de um olho e em quatro meses ficou totalmente cega.
Mas isso foi só o começo de uma história marcada por vitórias e realizações que beneficiaram milhares de pessoas que tiveram o mesmo problema que ela.
Dorina Nowill ainda estava no colegial, mas conseguiu ser a primeira aluna cega a frequentar o curso onde estudava, a Escola Caetano de Campos.
Nos Estados Unidos, conseguiu uma bolsa na Universidade de Columbia e se especializou em educação para cegos. De volta ao Brasil, atuou para publicação de livros em braille.
Dorina Nowill é o destaque deste domingo (11) na série especial sobre histórias de superação.
“Depois que fiquei cega, comecei a estudar para provar a necessidade da inclusão. Não se separa alguém pelo fato de ser cego. Comecei então a trabalhar visando a inclusão do cego na vida, na escola e no lazer”, conta Dorina Nowill.
A partir da criação da fundação que leva seu nome, Dorina viajou o Brasil e o mundo em sua luta. Chegou a ser presidente da União Mundial de Cegos e foi diversas vezes premiada por suas iniciativas. “Nem sempre a coisa foi fácil, mas sempre tive muito entusiasmo. Sempre tive muita fé e nunca desisti.”
Ainda hoje, aos 90 anos, participa de reuniões em diversos estados sobre políticas públicas de inclusão e se reúne com integrantes do governo e de professores.
Questionada sobre quando pretende parar de trabalha, ela diz, sem hesitar: “Se um dia eu me sentir cansada acredito que vou parar. Mas eu não me canso.”
Ter ficado cega não a impediu de realizar o sonho de constituir uma família.
Quando estudava nos Estados Unidos, conheceu o marido com quem se casou e teve cinco filhos, hoje todos na faixa dos 50 anos.
E as dificuldades pelas quais passou, não tiraram o humor de dona Dorina.
“Estive nas cinco partes do mundo e fico muito feliz pelo meu trabalho porque consegui o que jamais imaginava. Eu fiz tudo, mas queria mesmo dar uma voltinha para ver todas essas coisas bonitas que não pude ver”, afirma sorrindo. “Mas conheci muita gente formidável, pessoas extraordinárias durante a minha vida”, completa.
Ao responder sobre o que gostaria de ver em sua vida, Dorina diz: “Entre as coisas que sempre me encantaram, está o sorriso de uma criança. Acho que o brilho, a graça, transparece. E o pôr do sol, aquele vermelho na praia, no fundo do mar. Mas não tem nada para suprir a falta de não ver. Só com o que tenho dentro de mim.”
Fonte: G1(11/10/09)
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