Entrevista: Dudé Vocalista

Compartilhe:

Para comemorar o aniversário do Blog Deficiente Ciente, veja a entrevista que o vocalista Dudé cedeu ao Blog. Veja também, o vídeo de um dos seus shows. Imperdível!

Eduardo, mais conhecido como Dudé Vocalista, nasceu em Valença, interior da Bahia. Veio para São Paulo em 1976 para tratamento na AACD. Músico há vinte anos, ele nasceu com má formação congênita. Inteligente, talentoso e determinado, prova que sua deficiência nunca foi impedimento para que  corresse em busca de seus sonhos e objetivos.

Como a música surgiu na sua vida?
Bom, apesar de não ser filho de músicos, faço parte de uma família que sempre gostou muito de música.
Aos fins de semana, quando eu era criança, ouvia os discos das minhas irmãs e dos meus pais que iam desde Roberto Carlos, até Raul Seixas, passando por Sá e Guarabira e por aí vai.
Isso sem falar de Led Zeppelin, Pink Floyd, Queen, etc. Sempre fomos uma família musical, como eu costumo a brincar aqui em casa.
Talvez seja por isso que a minha família enxergou de forma muito natural o fato de eu me tornar músico.

Você teve influência musical? Se teve, quais foram?
As minhas maiores influências são as bandas e músicos de Blues e Rock And Roll dos anos 70.
Eu me considero bem eclético. Adoro MPB, Jazz e música clássica também. Inclusive, teve uma época da minha vida que cheguei a estudar Canto Lírico. Mas o que faz o meu sangue ferver são os grandes vocalistas da década de 70 tais como Robert Plant, Paul Rodgers, Freddie Mercury, Ian Gillan, Ronnie James Dio entre tantos outros.

Além de você, há outros integrantes na banda que possuem deficiência?
Atualmente, não. Mas eu já fiz parte de uma banda cujo baterista era deficiente também.
Tem também o meu grande amigo, o baixista André Fontanelli, que é cadeirante. Mas o que já fizemos juntos foram algumas Jam Sessions, nunca montamos banda juntos.

Como você vê o mercado de trabalho e a pessoa com deficiência?
Eu acho que o mercado de trabalho melhorou bastante pra pessoa com deficiência, em comparação com o que víamos no passado. Porém, estamos muito longe do ideal.

Acho que existem algumas falhas na lei de cotas para deficientes que podiam ser sanadas para que não houvesse distorções de interpretação. E quando eu falo em erros, digo de ambos os lados, pois os deficientes também têm sua parcela de culpa. Mas sem querer generalizar, lógico.

Conheço inúmeros casos de deficientes extremamente produtivos, preocupados em evoluir como profissionais e pessoas, e empresas que estão muito satisfeitas com o desempenho de seus empregados com deficiência. Tanto que muitas dessas empresas criam oportunidade para que esses deficientes se desenvolvam através de planos de carreira sérios e bem elaborados.
Em compensação, temos o outro lado da moeda: empresas super preocupadas em encontrar brechas na lei de cotas para melhor violá-las e alguns deficientes, entidades e ONGs que ainda confundem Inclusão Social com Paternalismo. Por isso que eu falo que muito ainda precisa ser feito.
Na verdade, eu ainda tenho esperança de que a gente alcance um grau de justiça social onde não haja mais necessidade das leis de cotas. Espero de coração que um dia isso aconteça no Brasil.

O que acha da questão de acessibilidade no país?
Eu já viajei para outras capitais do nosso país e percebi que em alguns lugares, a questão da acessibilidade tem mais peso do que em outros.
Algumas cidades que visitei possuíam uma certa infra-estrutura nesse sentido, mas com o problema de não conseguir extende-la para todos os pontos necessários, beneficiando apenas uma parcela da população. Em contra partida, outras cidades das quais estive não tem acessibilidade alguma.
O que costumo a dizer é que muitos dos problemas desse país, incluindo a acessibilidade de nós deficientes, se deve à falta de planejamento.
Temos pessoas com ótimas idéias nesse sentido, mas se não houver uma vontade do poder público de planejar e organizar a implementação dessas idéias, eu acho que fica meio complicado nós termos um país com 100% de acessibilidade adequada.

Como você se relaciona na sociedade em relação a sua deficiência?
Eu sempre me relacionei bem com as pessoas, nunca tive problemas com isso.
Às vezes, causo um certo choque pois minha deficiência é bem visível, mas isso é normal. Afinal de contas, tenho consciência de que possuo uma diferença bastante evidente e que maioria não tem costume de ver todos os dias.
Porém, isso nunca me deu motivos pra agir de forma diferente com os outros, muito pelo contrário. Ajo com as pessoas da forma mais natural possível e quem convive comigo acaba percebendo que, na verdade, essa tal diferença nem faz tanta diferença assim. Acredito que tudo depende da forma com que nós nos enxergamos. Se nos enxergarmos de forma natural, não tem o porquê das pessoas nos encararem de um jeito diferente.

O que é a coluna Vocal Lessons?
Vocal Lessons é uma coluna da qual escrevo semanalmente e é mantida pelo portal COSMU especializado em música. Nessa coluna, eu escrevo sobre técnica vocal e dou algumas dicas pro pessoal que curte cantar a cuidar da sua voz com mais critério.

O que te dá maior prazer: cantar, ensinar, ou trabalhar com produções de estúdio?
Eu amo tudo que tem ligação com música. Subir no palco é algo que me dá um prazer sem paralelo, mas ensinar as pessoas a cantar é algo que considero uma experiência única. É muito gostoso acompanhar a evolução dos meus alunos e ver a satisfação pessoal que cada um deles tem em perceber o quanto estão se desenvolvendo na arte do canto.

E os shows? Qual banda você está trabalhando atualmente?
Estou com uma banda de Classic Rock chamada CARRERA que está na fase final de produção de uma série de vídeos que estarão no You Tube em breve. Através desses vídeos, divulgaremos o nosso trabalho e fecharemos alguns shows no segundo semestre.
Fora isso, estou também numa banda de Pop-Rock que estará gravando seu primeiro CD em breve, além de participar de um projeto acústico que visa fazer algumas apresentações pra empresas.

Qual mensagem você deixaria para os músicos com deficiência que estão em início de carreira?
Procurem, antes de qualquer coisa, se apaixonar naquilo que fazem. Pois assim, vocês irão encarar os desafios de ser músico com muito mais empenho.
Sejam disciplinados, esforçados e convictos naquilo que querem, mas sem tirar os pés do chão. Lembrem-se que a Música, assim como qualquer outro ramo artístico, não é fácil.
Antes de sonhar com a fama, tornem-se dignos dela. É assim que um músico de verdade trabalha.

Assista o vídeo de um de seus shows!

Para conhecer um pouco mais sobre trabalho de Dudé, basta acessar os links abaixo:

My Space: www.myspace.com/dudevocalista
Blog: http://www.dudevocalista.blogspot.com/

Compartilhe: