Crianças com Deficiência

Gagueira não tem graça. Tem tratamento

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Lembram do filme George VI, “O Discurso do Rei”? O filme trata da história de vida do Rei da Inglaterra George VI e de todos os medos resultantes do importante cargo, que assumiu após o falecimento do pai, o rei George V, e a abdicação do irmão, o Rei Eduardo VIII. As amarguras internas de George VI ganharam destaque em toda Inglaterra a partir de uma dificuldade do Rei em se expressar, ele tinha gagueira, principalmente em pronunciamentos públicos.

No vídeo abaixo, documentário realizado pela BBC , podemos notar o constrangimento e humilhações que uma pessoa que tem gagueira sofre no seu dia a dia.

A fonoaudióloga de Laranjeiras do Sul, Ana Paula Vasconcelos Levandoski conta que a gagueira é uma patologia que afeta principalmente a vida social da pessoa. “Quem tem a doença acaba se fechando e procura não ter acesso ao público para evitar sofrer constrangimentos”, explica. “A pessoa que tem a patologia sofre mais no trabalho e no ambiente escolar. Os colegas imitam, terminam de completar as frases e tiram sarro, fazendo a pessoa ficar constrangida e desencadeando problemas emocionais”, esclarece Ana Paula.

A gagueira é um distúrbio em que acontecem quebras ou rupturas involuntárias no fluxo da fala. Ela é caracterizada por repetições de sons, sílabas, palavras, prolongamentos, bloqueios e pausas. A pessoa que gagueja sabe exatamente o que quer dizer, mas tem dificuldade na automatização e na temporalização dos movimentos da fala. Além das causas neurológicas, estudos científicos também indicam que a gagueira é causada por múltiplos fatores. Entre eles está o genético – em que pessoas da mesma família, de diferentes gerações, carregam o gene responsável pela gagueira, que pode ou não se manifestar, dependendo da interação com os fatores sociais e psicológicos a que a pessoa é exposta.

A gagueira também pode ter como causa fatores orgânicos, como disfunções ou lesões cerebrais. Na maioria dos casos quem possui gagueira são os homens.  Há diversas personalidades conhecidas por apresentarem gagueira, como os cantores Nelson Gonçalves, Armandinho, além do promoter David Brasil e dos atores Murilo Benício, Julia Roberts, Marilyn Monroe, Bruce Willis, entre outros.
Mesmo estando bastante presente no dia a dia da população, a gagueira é uma deficiência geralmente não levada a sério e associada à zombaria e ao preconceito.

Tratamento

Segundo a fonoaudióloga Ana Paula, a gagueira tem melhoras significativas, com fases de desaparecimento. “Devido a altos e baixos na vida da pessoa, a gagueira pode ter uma recaída e voltar”, enfatiza.

O tratamento é feito com um fonoaudiólogo, mas quando o emocional está muito envolvido, o paciente também faz um tratamento com o psicólogo.

Gagueira atinge 5% das pessoas

De acordo com o IBGE, a população brasileira é formada por mais de 204 milhões de pessoas. Segundo o Instituto Brasileiro de Fluência (IBF), a incidência da gagueira no Brasil é de 5%, ou seja, 10,2 milhões de brasileiros estão passando por um período de gagueira neste momento. Este número é maior do que a população da cidade do Rio de Janeiro. A prevalência da gagueira é de 1%, ou seja, 1,9 milhão de brasileiros gagueja há muitos anos de forma persistente, crônica. Este número é maior do que a população de Manaus ou Curitiba.

Gagueira infantil

Aos dois anos e meio, mais ou menos, acontece um “boom”, crescimento, da linguagem da criança que não é muito bem acompanhado pelo desenvolvimento da fala e articulação da criança. Então, quando a criança quer contar o que aconteceu na escolinha durante o dia, seu pensamento já passou pela manhã e tarde e está no momento da saída, mas a fala ainda não conseguiu terminar nem a primeira brincadeira da manhã.

É nesse momento que ocorre o “tropeço”, mais conhecido como gagueira, mas é uma leve disfluência ou gagueira fisiológica. A criança está se adaptando com tantas palavras novas. Os pais devem entender que isso é normal e deixar a gagueira acontecer sem pedir para a criança ter calma, que fale mais devagar ou parar e respirar. Ninguém precisa disso para falar, nem as crianças. Com essas “dicas” as crianças vão ficando mais tensas na hora de falar e a gagueira aparecerá ainda mais, podendo a gagueira se tornar permanente.

Os pais devem prestar atenção, sim, na gagueira quando houver alguma história de gagueira na família, tanto da mamãe quanto do papai. Se houver esse histórico, e a criança começar a gaguejar, leve-a para uma avaliação fonoaudiológica, pois essa criança tem maiores chances de não ser só uma gagueira do desenvolvimento normal.

Referência: http://www.jcorreiodopovo.com.br/

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

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