Histórias de uma professora – Parte 2
Caro leitor, para que você possa entender melhor esse texto, sugiro que leia a primeira parte dessa história.
A experiência aqui relatada, não é de um aluno com deficiência incluído em uma escola, mas sim, de uma professora com deficiência incluída em um universo de alunos sem deficiência.
Quando me aproximei do portão da escola, pude ver que alguns alunos estavam do lado de fora e outros me aguardavam dentro da sala de aula. Os que estavam do lado de fora me acompanharam até a sala. Observei que a escola era bem pequena, possuía somente duas salas de aula. Assim que entrei na sala, os alunos ficaram me observando, atentamente. A faixa etária dos alunos era de oito a dezesseis anos de idade, aproximadamente. Era uma classe bem diversificada e heterogênea.
Estava muito ansiosa e preocupada com a reação deles, pois não sabia como alunos de um bairro rural reagiriam diante de uma pessoa com deficiência. Entretanto percebi que eles ficaram surpresos, mas não chocados. Senti um alívio muito grande, afinal nunca tinha passado por uma experiência como aquela. Para quebrar o silêncio que pairava na sala, um dos alunos mais novos perguntou por que eu não tinha o outro braço. Imediatamente os alunos mais velhos pediram para que ele ficasse em silêncio. Aproveitei esse momento, e disse a todos eles que me sentiria melhor se contasse o que havia acontecido comigo. Eles não disseram mais nada, apenas continuaram me observando e prestando atenção em cada palavra que eu dizia. Contei a eles toda a história do meu acidente. E pude sentir que seus olhares expressaram sentimentos de compaixão. Em todas as escolas por onde havia passado, nunca havia vivenciado uma situação como aquela, onde os alunos pudessem ser extremamente respeitosos. Assim que terminei de contar minha história, alguns alunos fizeram algumas perguntas a respeito do meu acidente, me tratando a todo tempo por senhora. Geralmente em escolas rurais, os alunos costumam tratar as pessoas mais velhas por senhor ou senhora. Aquele foi um dia muito especial, jamais esquecerei…
Nos dias que se seguiram, fui conquistando a confiança e o carinho de todos eles. Alguns alunos moravam em fazendas distantes, vinham e voltavam a pé, andavam quilômetros para chegar até a escola. Não costumavam faltar, somente em dias muito chuvosos. Sempre me acompanhavam até o ponto de ônibus, depois continuavam o trajeto até chegar à fazenda, onde seus pais trabalhavam. Eles me ajudavam muito e colaboravam em tudo. Todo dia ao término das aulas, algumas meninas e meninos deixavam a sala em ordem e guardavam todos os meus materiais nos armários. Como a classe era multisseriada, isto é, alunos de idades e séries diversas estudando na mesma sala, dividi a sala em turmas de 2ª, 3ª e 4ª série. As alunas mais velhas me ajudavam copiando as atividades na lousa ou ditavam para que eu pudesse escrever. Elas sabiam que eu não poderia escrever na lousa e segurar um livro ao mesmo tempo. Pequenas coisas que eu não poderia fazer somente com um braço, não passavam despercebidos por eles. Era impressionante! Por exemplo, toda vez que eu corrigia as folhas de atividades avaliativas, notava a mão de um deles segurando a folha para que não saísse do lugar, enquanto eu corrigia. Ações simples, mas carregada de significados, tanto para mim quanto para eles. Carinho, solidariedade, respeito, dedicação e amor… Pode haver uma relação melhor do que essa entre professor e alunos? Nessa relação não havia espaço para preconceito. Acredito que muitos daqueles alunos trouxeram do ambiente familiar a experiência de respeito às diferenças. Penso que as crianças não nascem preconceituosas, elas só reproduzem o que veem e ouvem. Voltaire afirmava que: “O preconceito é uma opinião sem julgamento. Assim em toda terra inspiram-se às crianças todas as opiniões que se desejam antes que elas possam julgar”. O preconceito nasce dentro da família ou da escola. Muitas famílias e escolas fomentam atitudes preconceituosas. O preconceito é uma das principais barreiras para que não haja uma efetiva inclusão escolar.
Sinto muita saudade de todos os meus alunos, mas especialmente desses, pois demonstravam muito respeito, carinho, dedicação, amor… Livres de preconceito.
Texto escrito por Vera Garcia
Veraaaaaaaaaaaaa,
Que linda sua historia quem me falou de vc foi a Jane da Amputados Vencedores, olha tambem sou Vera e tenho hoje 42 anos e fazem 3 que sofri o acidente na fabrica que resultou na amputação de meus 5 dedos e parte da mão, olha não é facil, mas com a graça de Deus tenho me saido bem.
Vamos nos falar mais…
me envie e mail deveras@deveras.com.br
bjo
Vera
Oi Vera! Minha xará…rss
Vou enviar um email para você, querida.
Beijos e obrigada pela visita!