Deficiência Visual

Mais de 300 manifestantes protestam contra o fechamento do Instituto Benjamin Constant e do Ines

Compartilhe:
Pin Share

Instituto Benjamin ConstantGoverno Federal pretende fechar o Instituto Benjamin Constant (escola para pessoas com deficiência visual) e o Instituto Nacional de Educação de Surdos, no Rio de Janeiro.

A gente se anula pela vida dos filhos. O que o governo tinha que fazer era investir mais e não acabar com o IBC, criando ensino de 2º Grau e Superior. Dizem que o instituto não dá certo. É mentira, dá certo sim. Está dando certo com meu filho.” (Vânia- mãe de aluno com deficiência visual)

A rotina do pequeno Hugo Souza Mota, de apenas 6 anos, foi quebrada na manhã de segunda-feira, 11 de abril. De cartaz na mão, ele, sua mãe, Vânia Silva de Souza, de 31 anos, e mais de 300 pessoas fecharam metade da pista da Avenida Pasteur, na Urca, em uma manifestação contra o fechamento do Instituto Benjamin Constant (IBC) e do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), em Laranjeiras. Cego desde os seis meses de idade, após ter tido câncer de retina, Hugo tentava acompanhar a agitação dos protestos segurando o cartaz e a mão de Vânia, que não escondia sua revolta com a ameaça do IBC deixar de existir e a proposta do Ministério da Educação para que os alunos deficientes visuais sejam matriculados também em unidades de ensino das redes públicas, como o Colégio Pedro II. O protesto, que ocorreu em frente ao prédio do instituto e causou engarrafamentos da região até Copacabana, contou com apoio do Núcleo de Pessoas com Deficiência do Sisejufe, da Associação de ex-alunos do IBC entre outras entidades -a intenção foi justamente chamar a atenção da população para o problema.

“O governo federal diz que as outras redes têm condições de receber nossos filhos deficientes visuais. Isso não é verdade. As outras escolas não têm capacidade de atendê-los. O IBC tem salas especializadas em movimento espacial, para musicoterapia, para eles praticarem esportes entre outras atividades. Não vamos encontrar isso nas redes municipal e estadual. Se não podem nos dar tratamento melhor, que nos deixem aqui no IBC”, desabafou Vânia, enquanto o pequeno Hugo já demonstrava certa irritação com o barulho do trânsito, dos discursos dos oradores que se revezavam ao microfone do carro de som.

Para a mãe de Hugo, fazer o menino estudar em duas escolas vai ser um transtorno muito grande na vida deles. Além do problema da falta de estrutura das outras escolas, o deslocamento diário de um local para o outro será difícil. Moradora de Bento Ribeiro, Vânia passa o dia inteiro no IBC acompanhando e esperando o filho. “A gente se anula pela vida dos filhos. O que o governo tinha que fazer era investir mais e não acabar com o IBC, criando ensino de 2º Grau e Superior. Dizem que o instituto não dá certo. É mentira, dá certo sim. Está dando certo com meu filho”, disse.

Um dos participantes da manifestação Dulavim de Oliveira Lima Júnior, é diretor do Sisejufe, membro do Núcleo de Pessoas com Deficiência e ex-aluno do IBC, lembrou que inclusão social não se faz fechando uma instituição com mais de 100 anos como quer o Ministério da Educação. Ele ressaltou que, como tudo na vida, também há especificidades na educação. “A homens e mulheres não competem juntos a maratona nas Olimpíadas. É respeitada a especificidade de cada num. Nem por isso não há integração. Somos totalmente contra o fechamento do IBC”, afirmou Dulavim.

Entre várias manifestações de apoio e de revolta de alunos, ex-alunos, reabilitandos, professores e moradores da imediações do IBC, o coordenador do Núcleo de Pessoas com Deficiência do Sisejufe, Ricardo de Azevedo Soares, afirmou que acabar com a ensino especializado não representa inclusão social. “Esse colégio não vai fechar. Vamos permanecer nessa luta. Daqui saíram muitos alunos que são excelentes profissionais, que fizeram concurso público e que se destacam em suas áreas”, disse Ricardo.

Tentando amenizar a revolta de pais e alunos, o ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou que os serviços de ensino do Instituto Benjamin Constant e o Instituto Nacional de Educação de Surdos, em Laranjeiras, não seriam fechados. A informação caiu como uma bomba quando uma diretora do MEC anunciou o término das atividades em 2012. Haddad informou ainda que os alunos matriculados nas duas escolas poderão também se matricular no Colégio Pedro II, vinculada ao governo federal. O que funcionaria como uma dupla matrícula, para estimular a inclusão dos estudantes em escolas regulares. O ministério fará parceria de cooperação entre o Ines, IBC e o Pedro II para ampliar a oferta para os alunos com deficiência visual e auditiva. O Colégio Pedro II tem cerca de 13 mil alunos, o IBC, 300, e o Ines, 480.

“O que está em discussão é o estabelecimento de uma parceria entre instituições de ensino do governo federal para ampliar a oferta de oportunidades educacionais, adicionais e não supressivas aos estudantes surdos e cegos, de modo que esses alunos, matriculados no Colégio Pedro II, possam receber apoio dos institutos, e alunos dos institutos possam efetivar, se quiserem, uma segunda matrícula no Colégio Pedro II”, destacou, em nota, o Ministério da Educação.

Fonte: Max Leone -Imprensa Sisejufe, com agências de notícias
Referência: Jus Brasil (12/04/11)

Compartilhe:
Pin Share

Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

2 comentários sobre “Mais de 300 manifestantes protestam contra o fechamento do Instituto Benjamin Constant e do Ines

  • SONIA MONTAGNA deSOUZA BANDEIRA

    Sou neta do ilustre Professor Mauro Montagna e Edelvina Montagna.Ambos deficientes visuais. Conheceram-se no IBC, casaram e tiveram 8 filhos.
    Meu avô criou o magnifico mapa para deficientes visuais que, espero, ainda esteja no Instituto. Lutou a vida inteira pela dignidade dos cegos. Quando viu que vários ex-alunos do IBC, depois de uma excelente educação dada pelo Instituto, medingando nas ruas, criou uma espécie de abrigo/escola para os Cegos Adultos.
    Fico REVOLTADA que tanto esforço e dedicação que o IBC DEU DURANTE MAIS DE CEM ANOS, vire memória. Existem vários estados de deficiente visual…uns conseguem ver cores, outros sombras e alguns nada. Como é que um Colégio da Rede Pública pode administrar estes diferentes estados? Só uma Instituição especializada como o IBC.
    Estou ao inteiro dispor do IBC, para juntos levarmos esta luta adiante com Garra e Coragem.
    Atenciosamente, Sonia Montagna de Souza Bandeira

    Resposta
  • Apenas um comentário:

    Darcy Lucena17 de maio de 2014 17:29

    Sinto-me lisonjeada e vitoriosa por ter encabeçado este nobre MOVIMENTO em prol das escolas especializadas federais IBC e INES situadas no Rio de Janeiro.
    Esta é a minha participação nessa historia !
    Darcy Lucena de Siqueira
    Ex-Presidente da APAR/IBC

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!

Damos valor à sua privacidade

Nós e os nossos parceiros armazenamos ou acedemos a informações dos dispositivos, tais como cookies, e processamos dados pessoais, tais como identificadores exclusivos e informações padrão enviadas pelos dispositivos, para as finalidades descritas abaixo. Poderá clicar para consentir o processamento por nossa parte e pela parte dos nossos parceiros para tais finalidades. Em alternativa, poderá clicar para recusar o consentimento, ou aceder a informações mais pormenorizadas e alterar as suas preferências antes de dar consentimento. As suas preferências serão aplicadas apenas a este website.

Cookies estritamente necessários

Estes cookies são necessários para que o website funcione e não podem ser desligados nos nossos sistemas. Normalmente, eles só são configurados em resposta a ações levadas a cabo por si e que correspondem a uma solicitação de serviços, tais como definir as suas preferências de privacidade, iniciar sessão ou preencher formulários. Pode configurar o seu navegador para bloquear ou alertá-lo(a) sobre esses cookies, mas algumas partes do website não funcionarão. Estes cookies não armazenam qualquer informação pessoal identificável.

Cookies de desempenho

Estes cookies permitem-nos contar visitas e fontes de tráfego, para que possamos medir e melhorar o desempenho do nosso website. Eles ajudam-nos a saber quais são as páginas mais e menos populares e a ver como os visitantes se movimentam pelo website. Todas as informações recolhidas por estes cookies são agregadas e, por conseguinte, anónimas. Se não permitir estes cookies, não saberemos quando visitou o nosso site.

Cookies de funcionalidade

Estes cookies permitem que o site forneça uma funcionalidade e personalização melhoradas. Podem ser estabelecidos por nós ou por fornecedores externos cujos serviços adicionámos às nossas páginas. Se não permitir estes cookies algumas destas funcionalidades, ou mesmo todas, podem não atuar corretamente.

Cookies de publicidade

Estes cookies podem ser estabelecidos através do nosso site pelos nossos parceiros de publicidade. Podem ser usados por essas empresas para construir um perfil sobre os seus interesses e mostrar-lhe anúncios relevantes em outros websites. Eles não armazenam diretamente informações pessoais, mas são baseados na identificação exclusiva do seu navegador e dispositivo de internet. Se não permitir estes cookies, terá menos publicidade direcionada.

Visite as nossas páginas de Políticas de privacidade e Termos e condições.

Importante: Este site faz uso de cookies para melhorar a sua experiência de navegação e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nosso site, você concorda com tal monitoramento.