Vera - Artigos

Membro fantasma?! O que é isso?

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Caro leitor,

Para que possa entender melhor essa história, recomendo que leia “O acidente que mudou a minha vida – Parte 1“.

Passaram-se alguns meses após minha saída do hospital. Contudo, para mim, o tempo não havia passado tão rápido assim, pelo contrário ele havia estagnado. Tudo o que havia aprendido no que se referem às tarefas rotineiras, coisas simples que estava habituada a fazer com as duas mãos, agora era preciso reaprender com uma só. É como se esse momento fosse o reinício de uma nova vida. Uma vida em que precisaria criar e recriar técnicas e adaptações para uma nova realidade. E o reinício dessa nova vida, deu-se da forma mais estranha e fantástica.

Inacreditável, mas eu ainda podia sentir o meu braço direito. Era como se ele estivesse ali, e ainda fizesse parte do meu corpo.

Podia abrir e fechar a mão, levantar e abaixar o braço, tocar a minha perna… Mas como podia sentir isso se não podia ver o que estava acontecendo! Será que estava enlouquecendo ou tendo alguma alucinação? Isso me deixou demasiadamente intrigada e preocupada.

Relatei para um dos médicos o que estava acontecendo comigo. Segundo ele, a sensação que sentia no braço – que foi amputado – ainda estava intacta no meu cérebro, ou seja, para o cérebro é como se o meu braço ainda estivesse ali. Ele afirmou que essa sensação, chamada de “membro fantasma”, de qualquer forma iria aparecer, e com o passar do tempo – gradativamente – iria diminuir.

Fiquei aliviada, entretanto, como tinha somente onze anos de idade, tudo aquilo era muito confuso para mim. A sensação era tão real e forte que ao lidar com os afazeres domésticos, como por exemplo, lavar louça, acreditava que estava usando as duas mãos. Mas como podia usar as duas, se agora possuía somente uma. Essa situação também aconteceu ao varrer a casa, limpar os móveis, enxugar a louça, atender ao telefone, etc. Foram várias situações estranhas e ao mesmo tempo engraçadas.

Na escola, a situação era semelhante. Qualquer objeto escolar que caísse no chão, e se eu estivesse sentada na cadeira, com a maior naturalidade impulsionava meu corpo e tentava pegar o objeto com o braço direito. Por várias vezes, minhas professoras vieram correndo em minha direção para que eu não caísse da cadeira, porque eu perdia o equilíbrio. Essas professoras foram os meus anjos da guarda! Também caí da cama várias vezes, por achar que o meu braço inexistente estava apoiado nela. Não é incrível?

Havia também outra sensação que eu sentia: toda vez que alguém tocava minhas costas ou meu braço esquerdo, tinha a nítida sensação que estava sendo tocada no meu braço direito. De acordo com o neurocirurgião canadense Wilder Penfield, a camada mais externa do cérebro, chamada córtex, contém uma espécie de mapa do corpo humano. Esse mapa foi descoberto por ele em 1950. Durante as cirurgias cerebrais que fazia, mantinha os pacientes acordados e estimulava pontos espalhados pelo cérebro perguntando o que eles sentiam. Esse médico percebeu que cada sensação tem uma área cerebral responsável por ela. Por exemplo, no cérebro, a área dedicada a sentir as mãos ocupa espaço equivalente ao do tronco inteiro. Isso explica exatamente a sensação que estava sentindo.

O cérebro é algo realmente espetacular!

Atualmente continuo sentindo o “membro fantasma”, contudo de uma maneira bem baixa e com menor frequência, daquela que eu sentia depois do acidente.

Vera Garcia

Veja:

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

10 comentários sobre “Membro fantasma?! O que é isso?

  • Querida Vera,

    É sempre emocionante e tocante quando você compartilha sua história conosco… Eu já ouvi falar sobre esta sensação do "membro fantasma" e, realmente, deve ser algo bastante intrigante.

    O corpo humano é uma máquina incrível, fascinante e, ao mesmo tempo, um mistério!

    Se puder, continue relatando suas experiências que são de grande aprendizado para todos nós…

    Obrigada por seu carinho de sempre, sua amizade me faz muito feliz!!

    Beijos e boa semana!

    Resposta
  • Olá!!! Gostei muito da sua iniciativa em partilhar suas dificuldades e aprendizagens desde que ficou deficiente. Sou psicóloga e durante alguns trabalhos e estágios convivi com o dilema do membro fantasma. Parece loucura mas é real. Algumas pessoas, mesmo depois de anos sem seus membros, ainda o sentem conçar, sentem dores e até mesmo frieiras. A ciência explica, as pessoas entendem mas sinto que há algo muito mais importante do que explicar e entender: viver!!!

    Amei seu blog, me tornarei sua seguidora e estarei sempre por aqui!!!

    Beijos

    Resposta
  • Regina,
    Não tem que agradecer, querida! Sempre que puder, estarei relatando histórias sobre a minha deficiência.
    Obrigada por suas contribuições no blog!!

    Beijos!
    Vera

    Resposta
  • Olá Thaiana! Seja bem-vinda!!

    Fico muito feliz que tenha gostado do blog! Obrigada!!
    Realmente você tem razão, só quem vive essa sensação no dia a dia, sabe como funciona.
    Espero vê-la por aqui mais vezes!

    Beijos!
    Vera

    Resposta
  • Oii Vera,amei seu blog,gostaria de te dizer que me vi neste comentário sobre membro fantasma,por isso gostaria de te pedir se posso por como meu depoimento no meu orkut,pois nao tenho meu braço direito há um ano e sinto todos esses sintomas ai é impressionante parece até eu que estou depondo,bjsssssssss aguardo sua resposta meu msn é dnalva@hotmail.com talvez queira conversar comigo ………até.

    Resposta
  • Olá Ednalda!
    Acredito que a sensação seja a mesma. Em relação ao texto, colocando os créditos, não há problema nenhum.

    Beijos!

    Resposta
  • Vera, não entendi ,o que você quis dizer em colocar os créditos ,não ha problema nenhum,vc me explica, por favor… bjssssssssss estou aguardando sua resposta tá……

    Resposta
  • É só copiar o texto inteiro, dizer que retirou do blog e que o caso é idêntico ao seu. As sensações são as mesmas…
    Às vezes sentir esse "membro fantasma" incomoda, não é?

    Beijos!

    Resposta
  • Pode deixar agora entendi. Nossa Vera e como incomoda,eu tive osteosarcoma, faço tratamento no Amaral Carvalho em Jaú ,mas agora estou bem, vc trabalha em que Vera de onde vc é eu sou do Mato Grosso do Sul Brasilandia,bjssssss obrigado.

    Resposta
  • Por nada, Ednalva.
    Eu sou vice diretora de uma escola pública. Sou de Campinas-SP.

    Beijos!

    Resposta

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